Capítulo 33

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Não havia muita diferença entre os feéricos de Doranelle e os da Corte Primaveril. Lyla conhecia a Corte comandada por Tamlin relativamente bem para comparar: havia aqueles que eram legais e com uma conversa divertida, havia aqueles suportáveis, e aqueles que só de olhar ela tinha vontade de acertar um chute bem dado no meio da cara.

Verena havia feito questão de arrastá-la de mesa em mesa na noite em que Lyla e Sam chegaram de viagem, e a prytiana quase conseguia entender o motivo do príncipe ser tão averso a reuniões sociais. Quase. Porque ali, durante o jantar, deitada em uma rede trançada com Verena flertando com ela a cada frase, Lyla se sentia em casa. A ruiva a fazia se lembrar de Tsehai e suas loucuras na Corte Diurna.

Mas foi quando o jantar acabou, e as crianças se retiraram para suas camas, que as coisas ficaram realmente interessantes.

Lyla tinha que confessar: não era o que ela imaginava. Geralmente, se esperava até a noite do Nynsar para que os feéricos da Corte Noturna começassem o que ela apelidara carinhosamente de A Caça. Mas imaginava que ali, onde não havia danceterias e casas noturnas como tinham em Velaris, eles não tinham muito mais o que fazer além de flertar e encontrar companhia para a noite. Se estivesse em casa... Ela estaria dançando até o sol nascer ao lado de Mor e Tristan, sem se preocupar com mais nada.

Para completar, as caixas com as frutinhas tinham chegado, e ela entendeu porque eram tantas. Taças e canecas de bebidas destiladas e fermentadas circulavam, e as frutas avermelhadas e azuladas que prometiam um nível diferente de diversão eram trocadas e divididas em meio a beijos tão confusos que ela nunca sabia com certeza na boca de quem aquilo havia ido parar.

Com a cabeça ainda turva da noite anterior, Lyla recusara todas as ofertas, inclusive os flertes que recebia; o que a havia levado para aquele momento, com as pernas entrelaçadas às de Verena, que ao mesmo tempo que conversava com Lyla, arrastava aqueles dedos finos e ágeis de arqueira na pele de Lyla, marcando cada manchinha e cada pequena cicatriz que ela tivera preguiça de pedir para corrigirem.

— Tem certeza de que vai recusar?

Não era a terceira, nem a quinta, nem a décima vez que a ruiva tentava arrastá-la para um lugar mais privado, com segundas, terceiras e quartas intenções. Lyla apenas ria. Ela era tão parecida com a Tsehai, cujo objetivo de vida era convencer a illyriana a colorir a amizade das duas.

— Eu acho melhor você gastar seus esforços com alguém que esteja no clima, Nena — apesar da resposta, Lyla afastou uma mecha do cabelo ruivo e depositou um beijo rápido perto dos lábios da fêmea.

— Como? Se você me provoca sempre que recusa — de fato ela fazia isso, e não conseguiu evitar a gargalhada com o biquinho de Nena.

— É bom que aprenda, desde cedo, que tudo o que já fiz com uma fêmea se limitou a essas pequenas provocações — ela fez uma pausa — Se bem que.. teve essa vez que éramos duas na cama de um macho, mas ele preferia fazer do que observar, então não interagimos muito.

— Posso chamar um macho para ir conosco, então — os olhos lilases se reviraram, e ela indicou que queria mais da cereja no prato da ruiva, que havia insistido em lhe dar essas frutas na boca a noite toda.

— Se eu estivesse com vontade, acha que não teria aceitado seu convite? Ou o de qualquer um dos machos que se aproximou mais cedo? Eu só não quero.

No entanto, seus olhos traidores se desviaram para única pessoa naquele lugar que, se tivesse perguntado, ela responderia o "sim" mais rápido de sua vida. O príncipe de Terrasen havia dado a ela a tarde livre para dormir, e depois disso, não fez sequer uma menção de conversar com ela. Lyla havia tentado não ficar decepcionada, havia mesmo, mas algo dentro dela murchava um pouquinho quando o via ignorá-la.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora