Capítulo 20

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Lyla sentia que estava indo tudo para o Caldeirão. Sam estava ainda mais frio e insuportável, fazendo com que provavelmente destruísse os dentes de tanto que os maxilares dela ficavam cerrados na presença dele. Combinando com o príncipe, o inverno resolveu dar seu show final, trazendo uma tempestade que a fazia ter tanto frio que passava a maior parte do dia tremendo. Além disso, Pteír estava ocupado com algumas tarefas emergenciais, e não poderia treinar com ela por uns três dias.

Ela estava cansada, de mau-humor, e quando Emrys viu o rosto dela pela manhã, apenas a colocou sentada na cadeira com um chocolate quente muito cremoso e pães de queijo, dispensando-a dos trabalhos na cozinha.

Quando ela percebeu que nem mesmo o chocolate a fez se sentir melhor, decidiu que não iria enfrentar Sam, e voltaria para a cama. Ela sentia como se seus membros não quisessem funcionar, e ao mesmo tempo, como se fosse explodir de raiva com o mundo. Saiu da cozinha se arrastando, o pé afundado na neve.

Lyla não o sentiu se aproximando, mas pôde ouvir o tom dele enquanto a repreendia:

— Onde pensa que vai, Archeron? O vale é pro lado de lá.

Lyla teve que sugar uma respiração tão profunda antes de se virar, que nem as aulas de respiração da Tsehai a fizeram encher os pulmões daquele jeito. Quando o olhou, ele estava com uma sobrancelha levantada em pleno deboche e arrogância, fazendo aquela parte dela que alimentava a raiva diariamente, explodir como um vulcão. Foi necessário muito esforço para manter um tom de voz tão gelado quanto seus pés estavam naquele momento.

— Eu vou para minha cama, dormir.

— Eu não te dispensei — a postura dele era impassível, assim como sua voz, mas ela já estava no limite.

— Não haja como se fosse meu general, ou um treinador que impõe respeito, porque você não é — ela não esperou ele responder para continuar, se aproximando — Você mal fica para me ver treinar, e acha que passar uma hora do dia comigo é suficiente. Então nos poupe desse sofrimento diário e aproveite essa uma hora para tirar essa cara da bunda e aprender a ser um professor melhor.

Ela estava muito perto dele, agora, a distância de apenas alguns passos os separavam.

— Archeron...

— Não — ela ergueu um dedo — eu ainda não acabei. Olha, Sam, eu não sou de odiar as pessoas, não sou mesmo, mas eu realmente acho que te odeio nesse momento. Eu não suporto mais olhar na sua cara! E isso já diz muito, já que só te vejo duas vezes no dia. Então, eu não vou me forçar a passar o dia sozinha em um treino sem sentido. Eu. Vou. Dormir. E se você tem algo a dizer sobre isso, eu posso lhe dizer também onde enfiar sua opinião.

Sam não deu tempo para ela dar um passo depois que já estava de costas. A voz dele, sussurrada, mas alta o suficiente para garantir que ela o ouviria, a alcançou.

— Bom saber que eu não errei sobre você, Archeron. Sabia que não ia suportar até o final. Se não consegue lidar com minhas aulas, como espera ser aluna do Rowan? Você é fraca.

Não foi ela que tomou aquela decisão. Pelo menos não uma parte racional dela. Foi aquela raiva em ebulição que moveu seu corpo sem consultá-la primeiro, e quando percebeu, estava enterrando o punho no nariz do príncipe, sentindo algo estalar sob seus dedos.

Ele não gritou de dor. Não deu um passo para trás. Apenas grunhiu, segurando o nariz, que sangrava.

Eu vou acabar com você.

Ela não precisava das habilidades daemati para entender a expressão dele. E sua magia agiu por instinto, pondo um escudo ao seu redor. Sam balançou a cabeça. Havia morte em seu olhar.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora