O príncipe estava com vontade de pegar aquele garfo e enfiar a comida da Lyla garganta abaixo, porque ela não estava comendo. Sam odiava aqueles costumes que obrigavam as mulheres a sempre deixarem comida nos pratos para não serem consideradas mal educadas, e não sabia por que ela havia resolvido seguir logo aquela regra.
Ela mal havia tocado no prato, mesmo que ele soubesse que devia estar faminta. Conseguia ouvir as velhas fofoqueiras no final da mesa comentando sobre a acompanhante do príncipe, sobre como era educada, contida, e tudo o que Lyla estava realmente sendo no momento. O que elas não pareciam reparar é que era a quarta vez que ela pedia para reencher a taça de vinho. Se continuasse naquele ritmo, sem quase nada no estômago, ele teria que carregá-la de volta para a pousada.
— E eu achando que você gostava de festas — Sam disse bem baixinho, inclinado na direção da Archeron, para chamar sua atenção; funcionou, pois ela o encarou com um olhar um pouco perdido pelo álcool, mas curioso — Qualquer pessoa que precise beber tanto para lidar com situações sociais não gosta delas.
A risada dela foi leve e contida como todo o comportamento dela naquele jantar, como se mesmo assim ela não esquecesse de tirar a máscara perfeita que vestira junto com o vestido para aquela noite.
— Eu gosto de festas, mas também gosto de álcool — ela tentou ilustrar sua fala pegando a taça prateada outra vez, mas Sam a impediu, prendendo sua mão com a dele contra a mesa. Qualquer um que olhasse, enxergaria um gesto carinhoso.
Lyla piscou rapidamente algumas vezes, girando o rosto na direção dele em uma pergunta silenciosa de "o que diabos ele estava fazendo?"
— Acho bom você pegar leve com isso, e comer alguma coisa, você quase não tocou na comida — sua voz estava tão baixa que ela quase precisava completamente da leitura labial para compreender.
Eu estou delirando ou você está se importando com alguma coisa além de você mesmo?
Não vou te carregar para fora dessa festa bêbada.
O sorriso esperto que ele conhecia vazou pelos olhos, não pelos lábios.
E aqui temos o Sam de sempre, ainda bem, estava ficando preocupada.
O príncipe revirou os olhos, e olhou para ela, claramente tentando imaginar como obrigá-la a comer com uma mão só sem parecer um louco. Sempre tão delicado em seus propósitos... bastava ter falado com ela educadamente. Lyla nem mesmo havia percebido que não estava comendo, de tão entretida que estava em suas conversas.
Pode me soltar, passarinho.
Por algum motivo, ele não pensou duas vezes antes de deixá-la ir, e a garota cortou um pedaço da carne servida em seu prato, encarando-o assim que começou a mastigar. Viu? Estou comendo.
Parecendo satisfeito, ele voltou a conversar com um conde que parecia estar tentando chamar a atenção do príncipe há algum tempo, mas não era capaz de competir com Lyla. Ainda assim, de tempos em tempos, ele abandonava a própria comida para pôr a mão sobre a coxa de Lyla, seu calor atravessando o tecido fino do vestido, e ela sabia que era um lembrete para avisar que o prato dela ainda estava cheio demais para o gosto dele. Apesar disso, uma luta de olhares foi suficiente para que ele parasse de implicar quando ela pedia para completarem sua taça de novo.
Havia outra coisa que Sam amava em Ravena: os protocolos eram quase completamente quebrados, e a prova disso se mostrou quando, já no terceiro prato do longo jantar com tradicionais sete partes, o quarteto de cortas e sopros começou as músicas convencionais de Wendlyn e Terrasen, e vários abandonaram a mesa para começar as danças amplamente conhecidas.
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A Court of Night and Fire
FantasyQuando dois mundos colapsam, é dever das Cortes de Prytian e dos reinos de Erilea manter a paz conquistada a tanto custo. Rhys e Feyre acreditam que é uma boa ideia enviar sua filha para passar um tempo em Terrasen, mas Lyla e o príncipe Sam não con...