Capítulo 10

435 61 26
                                    

A porta do banheiro abriu, deixando o vapor escapar para o quarto. Lyla assistiu a fumaça espiralar na direção do homem em sua cama, que dormia em alto sono, com os cabelos ruivos refletindo a luz da lua, e as largas costas nuas expostas, descobertas pelo lençol que o escondia da cintura para baixo. Ela suspirou, admirando a visão.

Robert era um dos amantes mais românticos que já teve, seria uma pena deixá-lo quando viajasse no dia seguinte. Ele a acompanhara na caça, e a convidara para um concerto logo em seguida. Fora tão bom que eles perderam a hora para o jantar, e acabaram comendo em um restaurante na cidade, com direito à sobremesa depois que chegaram no castelo.

Ele havia dormido logo depois de terminarem, e ela fora deixada sozinha com sua insônia. Cogitou acordá-lo para um segundo round, mesmo que apenas para não ficar no tédio, mas o banho a havia deixado... Não, a culpa não era da água quente. Ela não queria mesmo.

Permaneceu alguns segundos apenas observando-o respirar. Os batimentos eram mais rápidos que os dela, assim como o movimento de seu peito. Tão... Mortal. Ele era vivo, sempre aproveitando ao máximo sua curta vida, enquanto ela, com seus dezessete anos, se entediava tão rápido quanto aqueles simples momentos sentada na poltrona, ainda no roupão felpudo, olhando-o.

Já estava se arrependendo de não ter aceitado ir ao quarto dele. Estava acostumada a parceiros que viravam a noite com ela, mas ele apagado em sua cama lhe tirava toda a liberdade e privacidade que lhe eram sagradas. Havia sido estúpida.

Revirando os olhos, escolheu uma roupa quente, mas leve. Típica da Corte Noturna. Se enfiou nas calças e na camisa, que deixava uma faixa de pele exposta. Era seu estilo de pijama favorito; seu estilo de roupa favorito, na verdade. Mas ela não conseguiria dormir... E agora, o quê?

Sentou de novo na poltrona, enrolando uma mecha de cabelo nos dedos enquanto pensava em todas as opções que tinha. O piano o acordaria; estava escuro demais para desenhar, e ela estava sem inspiração de qualquer forma. Repassou mentalmente os títulos dos livros que havia trazido, mas não sentiu vontade de ler nenhum deles. Se ao menos pudesse sair do castelo, visitar a Biblioteca Central...

Isso ela não podia, mas algo estalou em sua mente. Era impossível que alguém como Aelin não tivesse uma em seu castelo, Lyla apenas precisava descobrir onde ficava. Se amaldiçoou mentalmente por não ter pedido a ninguém essa informação nas últimas semanas: sempre que tinha vontade de ler, ia para a Joia de Orynth. Aquele lugar era gigantesco, com tanto conhecimento guardado que lhe lembrava Seraph. Ter sido um presente de parceria do Rowan a impressionava ainda mais.

Decidindo que valeria a pena, saiu do quarto descalça mesmo, e apreciou a sensação da pedra fria contra seus pés, da noite silenciosa. Poderia perguntar a algum guarda, mas estava entediada o suficiente para tentar encontrar sozinha. Repassou mentalmente o mapa do castelo, e lembrou de uma torre central, que era o local mais provável. Então guiou seus passos para lá.

Os corredores estavam vazios, à exceção dos guardas estrategicamente posicionados, e o vento frio que entrava pelas janelas arrepiava sua pele de uma forma gostosa, fazendo seu cabelo se mover suavemente. Não demorou muito para achar um par de portas gigantes, que nem gemeram ao serem abertas.

O lugar era tão grande quanto o que tinham na Corte Noturna, mas não tanto quanto as bibliotecas milenares que conhecera. As estantes fervilhavam de conhecimento sedento para ser descoberto. Ela sorriu ao entrar, quase sentindo como se estivesse em um lugar sagrado.

Não muitos segundos se passaram até que ela percebesse que não estava sozinha. Não que esperasse isso, mas... Não contava com esbarrar com ele ali. Mas aquela presença, aquela magia... Não havia como ser outra pessoa. O destino estava de brincadeira com ela.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora