Capítulo 15

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O dia seguinte foi quase igual ao anterior. Lyla estava, misericordiosamente, silenciosa. Levantaram acampamento tão rapidamente quanto o fizeram, e ambos estavam tão sonolentos que não trocaram muitas palavras até o almoço, onde dividiram algumas frutas e carne seca. Pareciam haver chegado a um acordo implícito de guardar as melhores comidas para a pausa que fariam à noite.

Durante a tarde ela até tentou interagir, mas não demorou muito a perceber que quanto mais alto estavam naquelas montanhas, mais mal-humorado Sam ficava. O ar rarefeito não o deixava ofegante ou tonto, mas cansado, como se tivesse sido atropelado por um exército de serpentes aladas. Além disso, ele usava a maior parte de sua magia para que os cavalos respirassem melhor, e isso o estava exaurindo.

Ele até mesmo parou dez quilômetros antes do que pretendia para passar a noite, e não se importou em alimentar ou dar água aos cavalos antes de se mandar para o rio mais próximo para um banho rápido. Àquela altura, já havia percebido que Lyla usava a própria magia para saciar a sede dos animais. Não que houvesse esquecido da habilidade que ela usou para afogá-lo em terra seca, apenas não havia pensado em usá-las dessa forma. Não achou que ela se importaria o suficiente.

Quando retornou, se surpreendeu ao vê-la com as mãos nos lombos de um dos animais, a palma brilhando com magia de cura. Essa era novidade.

— Não sabia que possuía magia de cura — ele franziu a testa, e ela apenas deu de ombros.

— Apenas uma gota, tão pouquinho... Mas a magia dos grão-feéricos é versátil o suficiente para me permitir usar em outras pessoas, ou nesse caso, animais — ela terminou, dando tapinhas nas costelas dele, incentivando-os a deitar — Os pobrezinhos estão sofrendo com a altitude e o ritmo acelerado. Estamos fazendo a viagem em quase metade do tempo, estou certa?

— Eles são bons, aguentam.

— Sei que sim, mas não precisam sofrer no processo. Nem você, vem cá.

As sobrancelhas dele se ergueram, e ela sentou em uma raiz de árvore, onde ele pretendia colocar os mantos.

— Senta aqui. Vamos, eu não mordo.

Ele não iria contestar aquela frase, embora tivesse a noção de que, como fêmea feérica, ela provavelmente mordia, sim, e mais do que frequentemente.

De má vontade, acabou aceitando e sentando de costas para ela. Não demorou muito para sentir as mãos firmes massageando seus ombros, que estavam cobertos apenas pela camiseta de linho. Quase gemeu quando os polegares dela foram direto nos seus trapézios, onde estava tenso depois de um dia inteiro de cavalgada.

Logo em seguida, sentiu o formigamento da magia dela, melhorando a circulação, relaxando os músculos, expandindo os pulmões, como se ela soubesse exatamente do que ele precisava.

As mãos continuaram, até a altura das costas onde ele sabia ficar o fígado, e ela libertou um pouco mais de magia ali.

— Onde aprendeu a fazer isso? — ele conseguiu dizer enquanto ela não voltava com a massagem.

— Meu pai me mandou para a ala dos feridos, e Madja, a curandeira da família, me ensinou o básico quando eu implorei.

Sam quase sorriu com aquilo, com aquela escolha de palavras. Não imaginava que ela seria do tipo que implorava. Bem que ele queria vê-la... Não, não iria por aquele caminho. Não com ela.

— Achei que era necessário fazer um juramento, ou algo do tipo.

— É, é sim. Mas ela concordou em me ensinar algumas coisas se eu prometesse não usar esses conhecimentos para machucar pessoas. E bem, eu não sei tanto quanto poderia se tivesse tempo, mas... Coisas simples, como estimular a circulação, a produção de sangue, relaxamento de músculos... Não fecho feridas sem deixar uma cicatriz, mas pelo menos não vou deixar ninguém morrer de hemorragia.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora