Capítulo 13

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Os três dias passaram mais rápido do que Sam imaginara. Tinha conseguido, de alguma forma, evitar a fêmea de olhos afiados que o fazia querer atear fogo em si mesmo, em loucura. O que era uma bênção, já que esperava ter que ouvi-la falando e falando o tempo todo.

Passara seu tempo treinando, bebendo, jogando, pilotando o navio, e até lendo, e sem sinal dela em qualquer lugar. Poderia ter se preocupado, caso se importasse, o que ele não fazia, então apenas agradeceu aos deuses pelo presente inesperado. 

Mas naquele último dia.. faltava pouco tempo para atracarem, e ele não a encontrava de forma alguma nas áreas comuns do navio. Não sabia se estava pronta para desembarcar. Como último recurso, seguiu para o corredor que compartilharam, na porta em frente que estivera bem fechada todas as vezes que abrira a sua própria, e se surpreendeu ao dobrar a maçaneta e a porta abrir imediatamente, sem qualquer tranca.

Se surpreendeu mais ainda ao encontrá-la esparramada na cama, de bruços, o lençol enrolado nas pernas e os cabelos totalmente soltos, formando um mar negro no travesseiro. Tão diferente daquele pequeno momento na biblioteca que o convencera de que ela dormiria como uma boneca de cera. Não havia nenhum sinal de que reparara na súbita presença dele, a não ser:

— O que é? — a pergunta veio em um sussurro quase inaudível, poderia ser até mesmo confundida com um resmungo sonolento.

Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Ela apenas virou na cabeça em sua direção, abrindo um daqueles olhos violetas, como uma fera que não quer ser incomodada. Por um momento, ela o lembrou de sua mãe e de Mare quando algum pobre coitado era obrigado a acordá-las.

— Atracaremos em uma hora — ela soltou um longo suspiro, revirando na cama.

— E quem foi que te lembrou que eu existo? — ele a encarou, observando-a se desvencilhar dos lençóis.

— O quê? — Lyla sentou no colchão, os olhos mais vívidos do que há alguns segundos.

— Passou três dias no mesmo barco que eu, não me viu uma vez sequer, e sequer imaginou se havia algo errado. Não é nem um navio tão grande assim. Imagino quem teve que te lembrar que trouxe alguém junto, na viagem — ele estava sem palavras. É claro que tinha lembrado dela, ele só...

— E aconteceu algo de errado?

Ela não respondeu, apenas levantou e, maldito fogo de Hellas, ele quase corou com o que viu. Não que nunca tivesse visto ou estado com mulheres — ou fêmeas — antes, por que ele certamente havia tido uma boa quantidade. Ele apenas não esperava que ela, logo ela que ralhou com ele na infância por não tratá-la como uma lady, fosse tão desinibida. E não esperava admirar tanto a vista.

Ela usava apenas uma camisa grande, com cheiro de algum macho feérico que ele desconhecia, e nada mais. A caminho do banheiro da suíte, se espreguiçou e, se ele tivesse olhando, poderia ter visto com clareza qual o gosto dela para lingeries, o que ele, obviamente, não fez. E ficou sem a tal informação.

— Não. Estava te evitando — ela virou para trás e deu uma piscada com um olho — e aproveitei o tempo para regular meu sono. Meses dormindo durante o dia e vivendo durante a noite podem te deixar meio confusa.

Ela parou em frente ao espelho, bagunçando ainda mais o cabelo já selvagem. E ele, inevitavelmente, percebeu como suas pernas eram bronzeadas e torneadas. Aliás, fazendo uma análise completa, ele se surpreendeu ao perceber que o corpo dela não era o de uma dama da corte, como ele a pintara na sua mente.

Não tinha nada de macio ou lânguido nos músculos fortes das coxas, ou nos bíceps definidos dos braços finos que ficaram escondidos nos vestidos que ela usara em Orynth. E ele podia apostar que cada parte escondida por aquela camisa era tão firme quanto as à mostra. Aquele era o corpo de uma lutadora, e isso mudava as coisas, mudava muitas coisas.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora