Capítulo 7

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Sam sabia que sua mãe o obrigaria a ficar depois do jantar, então nem tentou fugir da "socialização" pós banquete. Pelo menos não teve de falar com a filha dos Grão-Senhores, já que todos sabiam que ele não era de interagir com visitas, a menos que as conhecesse, ou tivesse algum interesse pessoal. Como esse não era nenhum dos dois casos...

Sam apenas conversou com os tios, as irmãs, o primo. Asena estava viajando, infelizmente — era a única pessoa com quem ele tinha paciência de lidar, e o tinha abandonado na cova dos leões. Enquanto isso, observava Lyla de longe. Estaria mentindo se dissesse que não tinha o mínimo interesse na garota. Não, ele apenas não queria conversar com ela, do mesmo jeito que não gostava de conversar com estranhos. Nada pessoal.

Se surpreendeu ao perceber a intimidade dela com Kayden. Sabia que ele havia se encontrado com ela algumas vezes, mas daí até os dois conversarem e rirem e trocarem histórias o tempo todo... Devia admitir que a menina era corajosa de tocar tanto o rapaz diante do olhar fulminante de Mare. Corajosa ou louca, ele não sabia, mas só aquele fato já o fazia hesitar infinitas vezes ao sequer pensar em falar com ela.

Cansado de interagir, apenas se afastou, encostando na janela. O ar frio do inverno o recebeu, tornando sua respiração mais fácil . Havia uma magia impedindo o pior do frio de entrar, mas nem mesmo o castelo escaparia da tempestade de neve que viria dali a alguns dias. Se sentia mal de sair durante isso, mas fora requisição de sua mãe. Ordem é ordem.

Sam sentiu ela se aproximar, trazendo um perfume de jasmim e algo exótico — talvez lótus? E soube quem era sem mesmo olhar. Da mesma forma como fez boa parte na noite, a ignorou, observando pela janela os guardas trocarem de turno. Por algum motivo, Lyla se prostrou ao lado dele no parapeito, e o cheiro dela, ainda mais forte, fez cócegas em seu nariz.

— Oi — Sam olhou de um lado para o outro, e então encarou a garota, com a testa franzida.

— Está falando comigo? — ele aguardou a expressão de irritação, que nunca veio. A única reação dela foi um pequeno sorriso petulante.

— Não, resolvi que seria divertido conversar com as estrelas — o sorriso sumiu — é óbvio que falei com você.

Ele voltou a olhar para fora, bufando.

— Então não fale.

Para o crédito dela, Lyla não pareceu surpresa, ou ofendida, apenas manteve uma expressão neutra, e assentiu, piscando. Ele reparou que seus olhos tinham pontinhos prateados, como pequenas estrelas.

— Achei que dez anos fossem suficientes para que aprendesse alguma cortesia, e deixasse de ser tão grosso. Me enganei, aparentemente — com o vestido azul marinho sussurrando, saiu sem olhar para trás.

Sam a encarou, incrédulo. Certamente, não esperava essa reação. Uma garota que ele conhecera anos atrás sorriria falsamente, antes de deixá-lo em paz como ele queria.

— Ora, não pareça tão surpreso, priminho — Kayden lhe dava um sorriso felino — o que esperava, sendo tão mal-educado com aquela doce dama?

Sam apenas deu de ombros. Não se importava. Viajaria no dia seguinte, e uma vez que estivesse de volta, viajaria de novo. Não tinha que se dar o trabalho de lidar com ela.

— Você devia dar uma chance, sabe? Esse temperamento é o que a torna especial — ele não esperou resposta antes de se juntar a Mare.

O príncipe observou o grupo que conversava de longe. Uma vozinha em sua mente dizia que o primo tinha razão, que ele havia visitado Lyla algumas vezes nos últimos dez anos e a conhecia melhor do que ele, mas... Não conseguia evitar. Tudo nela o irritava.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora