Capítulo 28

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Lyla não conseguiu esconder a careta ao colocar a segunda colher de sopa na boca. Sam a encarava indignado, como se ela estivesse cometendo um sacrilégio com aquela comida que a fazia torcer o nariz apenas de olhar.

Não que estivesse insossa, ou algo do tipo, mas também não era saborosa. Não parecia uma comida caseira e acolhedora, mas uma tentativa desastrosa de usar temperos elaborados para transformar algo caseiro em chique. Claro que Sam gostaria daquilo. Lyla, no entanto, era mais exigente com o que colocava na boca.

Sem tirar os olhos do príncipe, ela empurrou a tigela, desafiando-o a dizer algo.

— Como você não gostou? É deliciosa! — Lyla revirou os olhos, balançando a cabeça.

— Olha, eu já tomei uma sopa deliciosa, provavelmente a única que eu gostei na vida. Era grossa, com legumes e carne de lebre das estepes, temperada com alecrim e ervas finas. Aquilo era uma sopa deliciosa. Isso aqui — gesticulou para a tigela — é um caldo encorpado.

Ele soltou uma risada breve, e o estômago dela deu voltas. Não sabia se preferia quando ele sorria, ou quando estava sério. Na segunda situação, pelo menos, ela não sentia solavancos como se estivesse em queda livre. No entanto, ela era Illyriana, e viver em queda livre era parte da diversão da sua vida. Então, seu cérebro rodava em círculos com esses dois pensamentos.

Seu olhos fizeram o caminho para a cesta de pães que ele havia trazido junto, mas o estalar de língua dele soou.

— Eu trouxe eles como sobremesa. Dê outra chance à sopa.

Ela estava determinada a prolongar aquela trégua entre eles, então puxou de volta a tigela.  Não conseguiu passar da terceira colher antes de se afastar da mesa, fingindo uma ânsia de vômito exagerada.

— Você parece uma criança, sabia? — o canto do lábio dela repuxou enquanto ela escondia mal um sorriso com um copo de água.

— Não tenho culpa de ter o paladar mais refinado que o seu — ela piscou inocentemente — Agora posso comer os pães?

Sam suspirou, derrotado, e empurrou a cesta na direção dela com um revirar de olhos.

— Deixe os de canela. Realmente gosto desses.

Se Lyla esperava que o clima leve perdurasse, estava enganada. Depois que comeram as coisas ficaram... estranhas. Ele se apossou da mesa para estudar o que pareciam mapas e relatórios (ela nem mesmo se atrevera a chegar perto, pois pareciam muito confidenciais) e ela se encolheu na cama, preenchendo seu caderno de desenhos.

Ambos lançavam olhares um para o outro. Lyla captava os de Sam às vezes, e se perguntava se ele estava incomodado com o som do carvão ou da caneta no papel. Não se esforçava para fazer menos barulho, no entanto. Talvez ele estivesse, na verdade, incomodado com a presença dela.

Depois de mais ou menos quarenta minutos, ela ouviu a cadeira arranhando o piso de madeira, Sam abandonando a mesa. Ela havia se levantado para se preparar para dormir.

— Vou descer e beber algo — a voz dele a impediu de sequer pensar se poderia ir com ele. Estava claro que ele queria um tempo longe.

— Fique à vontade, só não esqueça que não está sozinho no quarto — ela deu de ombros, já tirando a roupa para vestir algo mais confortável. Sam virou o rosto rapidamente ao perceber o que ela estava fazendo, fazendo-a rir —O quê? Nunca viu uma mulher nua na vida?

— Tenho algo chamado respeito — Ha, até parece. Ele não olhava para ela, no entanto.

— E eu tenho algo chamado não estou nem aí se você olha ou não — ela sorriu amarelo, se demorando para colocar a camisa, ele se virou para ela, e embora ela sentisse seu olhar examinando-a, não houve qualquer outra reação — Você não ia descer?

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora