Você já deve ter ouvido falar que moradores de cidades pequenas tendem a ser muito resistentes a mudanças bruscas em seu dia a dia, e não somente eles, afinal todos nós estranhamos um pouco o que é diferente do que estamos acostumados, então foi completamente compreensível a reação assustada que tiveram os habitantes de Santa Ana do Sul que visitavam o parque Odisseia naquela tarde quando viram Bárbara correndo esbaforida pelo local, muitos acharam que ela fugia de alguém e quase correram também, outros foram atropelados pela pressa da garota, e o restante achou no mínimo preocupante ver alguém correndo e gritando de atração em atração como se procurasse por um bandido, algumas senhoras de idade chegaram até a ficar com medo que algum assaltante estivesse à solta no parque, mas para o alívio dos pacatos visitantes do parque, não havia nenhum bandido ali, e a única pessoa que corria algum risco de se encrencar com algo era Bárbara se não encontrasse logo Daiana e Celso e descobrisse o que estavam escondendo.
Bárbara procurou primeiro na área de alimentação, onde tinha os visto da roda gigante, mas já não estavam mais lá, partiu então por várias barraquinhas e olhou em cada fila de brinquedos em busca de alguma pista mas também não encontrou nada, teve de tomar cuidado para não topar com os amigos pelo parque, por sorte ninguém conhecido lhe viu, os funcionários do parque também ficaram sem entender o que estava acontecendo mas estavam tão ocupados com o movimento de visitantes que decidiram não ir atrás da garota. Depois de basicamente percorrer o parque todo desesperada, Bárbara decidiu parar e respirar antes que seus pulmões entrassem em combustão, sua garganta ardia e suas pernas tremiam pelo esforço, não ia conseguir encontrá-los a tempo se não raciocinar antes de correr.
“Pense Bárbara! Pense! Se fosse você, onde iria nesse parque para conversar longe da vista de todos?” perguntou-se ela, recuperando o fôlego aos poucos enquanto olhava ao seu redor em busca de uma resposta.
Bárbara olhou mais um pouco a sua volta sem saber por onde continuar, o parque estava lotado e qualquer lugar seria muito ruim para uma conversa particular, a única certeza que tinha é que eles deviam estar em algum lugar onde não pudessem ser vistos, observou mais um pouco e encontrou um espaço que poderia servir para ficar escondido dos olhos de todos, uma casa dos espelhos. Se aproximou discretamente da fachada quase imperceptível do local que aparentemente estava em reforma e fechado para visitas, e quando teve certeza de que nenhum funcionário estava lhe vendo, Bárbara se espremeu para passar pela pequena entrada lateral que ainda estava aberta e torceu para que os dois estivessem ali.
Assim que entrou, Bárbara percebeu que não seria fácil passar despercebida naquele lugar, já que estava repleta de reflexos seus para onde quer que fosse, tentou andar pelos cantos onde os espelhos estavam sujos e quebrados demais para refleti-la com nitidez, foi quando enfim ouviu vozes familiares vindas dos fundos da construção, ficou aliviada quando reconheceu Daiana e Celso em meio aos muitos reflexos dali. Mesmo sabendo que podiam acabar lhe achando ali, Bárbara se arriscou e se aproximou andando agachada para ouvir a conversa, que mais parecia uma briga.
-Eu ainda não sei que diabos eu estava pensando quando aceitei vir aqui, só estou ouvindo ladainhas há um tempão! - esbravejou Daiana, sua voz ecoava em cada canto daquele lugar - Você está perdendo seu tempo Celso, depois de tudo que andou fazendo, acha realmente que vou acreditar em você?!
Celso não parecia mais o mesmo de sempre, não estava agressivo como em todas as outras vezes que Bárbara tinha o visto e nem exibia sua cara fechada e sisuda de quem está sempre pronto para gritar um palavrão, muito pelo contrário, ele estava manso e sua expressão parecia mais preocupada do brava.
-Daiana, por favor, fale baixo! - pediu ele, e Bárbara mal acreditou que um dia fosse ouvir as palavras “por favor” saírem da boca de Celso, algo muito errado estava acontecendo.
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Um Esconderijo No Tempo
FantasyBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...