Bárbara não achou que voltaria a ouvir o barulho eufórico de um ônibus em dia de passeio novamente tão cedo, a última vez tinha sido em seu primeiro ano do ensino médio quando visitou a capital de São Paulo com sua turma para conhecer o Parque Ibirapuera e o Monumento às Bandeiras, foi nessa vez que acabou dormindo durante uma explicação de sua professora e quase perdeu o ônibus de volta, uma situação bem desagradavel de se lembrar, mas agora lá estava ela, no meio do som alto e das cantorias dos alunos animados pela chegada ao centro de Santa Ana do Sul. Em outros dias ela estaria feliz e ansiosa como os amigos, mas naquele momento seu pensamento só a levava para o mesmo de sempre, Arthur.
O rapaz não falou com Bárbara depois que ela deixou o convite em seu caderno naquele dia, nem para aceitar ou para negar, também não ignorou Bárbara nos corredores do internato quando se encontravam por aí, estava agindo normalmente, e como Bárbara não teve coragem para perguntar sua resposta, só lhe restou torcer para que o garoto decidisse aceitar o ingresso a tempo e fosse até eles no ônibus, mas isso também não aconteceu.
Durante quase todo o trajeto até o cinema, Bárbara apenas ficou olhando a paisagem passar pela janela do ônibus com uma expressão fechada, sem saber se queria ter raiva de Arthur ou se aceitava que não podia ficar com ele e que era bom ele não ter aceitado, porém, mesmo que a resposta fosse não, a garota esperava que Arthur tivesse ao menos lhe recusado cara a cara, seria mais fácil para ela se fosse assim. Os amigos de Bárbara perceberam que a garota não estava bem e não continuaram com a cantoria, música tocada por Danilo em seu violão também não fazia mais sentido, Daiana não gostou de ver Bárbara tão para baixo e foi a primeira a tentar confortá-la.
-Mari? Você está ansiosa para chegarmos? - ela puxou assunto, envolvendo Bárbara em um abraço aconchegante que transportou a garota para sua época, quando a mãe lhe abraçava assim e lhe dizia que tudo ia ficar bem, às vezes pensava na reação que Daiana teria se ela lhe dissesse que era sua filha vinda do futuro, será que ela ficaria feliz em lhe conhecer e se orgulharia do que ela era, mesmo sabendo que não podia contar isso à ela, era bom lembrar que aquela menina de sorriso doce seria sua mãe um dia.
-Estou bem, só dormi mal hoje, só isso - respondeu Bárbara, dando uma desculpa com um fundo de verdade.
-Não precisa mentir Marina, a gente percebeu que você ficou magoada pelo Arthur não ter vindo e nem respondido - afirmou Inácio, segurando uma das mãos de Bárbara e acariciando de leve com seu polegar - Sinto muito por isso.
-É verdade, foi nossa ideia chamar ele, te envolvemos nisso sem necessidade - lamentou Mila, com uma expressão chorosa ao ver Bárbara magoada.
-Que isso gente, não é culpa de vocês, nem minha também, ele não veio porque não quis, não tínhamos como garantir que ele ia aceitar - minimizou Bárbara, não queria estragar o passeio com seus problemas, nem que ninguém se culpasse pelo que aconteceu - Eu só fiquei meio mal por ele não ter nem se dado ao trabalho de me dar uma resposta, nem que fosse um não, mas vou sobreviver, nós meio que já esperávamos que ele não fosse aceitar então fiquem tranquilos, estou bem.
O grupo não ficou convencido com a tentativa de Bárbara de despreocupa-los, só se sentiram piores ao ver o esforço dela em não ficar triste. Pode parecer uma besteira levar uma recusa de alguém que gostamos, afinal é impossível obrigar uma pessoa a gostar de você, querendo ou não existe a possibilidade de não ter seus sentimentos por alguém correspondidos, e não devemos mesmo nos abalar com isso para sempre, mas quando se é jovem tudo é vivido com muito intensidade, até um simples fora pode parecer o fim do mundo, e não é errado se sentir mal por isso, todos exageramos as vezes, preocupando as pessoas ao nosso redor, era o caso de Bárbara naquele dia, mas como ela mesma tinha dito, iria sobreviver, faz parte da vida entender que não vivemos para agradar a todos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Esconderijo No Tempo
FantasiaBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...