Tão certo quanto a morte e a vida, é a certeza de que iremos esquecer de boa parte do que vivemos. É inevitável, e não há escapatória.
Olhando por esse lado, esta realidade parece difícil e dolorosa, mas a verdade é que nós mesmos não nos damos conta de tudo que descartamos diariamente de nossa memória. É claro que existem pessoas que esquecem menos que outras, e também há aqueles que sofrem de esquecimentos causados por doenças ou traumas, mas no fim das contas, o ato de se esquecer é algo natural, e acontecerá com todos nós em algum momento.
Um aspecto interessante de nossa memória é a forma como atrelamos as lembranças em determinadas coisas. Como quando nos recordamos de um momento há muito tempo esquecido ao ver uma foto, ou entrando em um lugar específico, e até mesmo ouvindo uma música que nos resgata essa lembrança. Os exemplos são muitos, e variam de acordo com a pessoa, mas de modo geral, nossa mente está sempre conectando nossas memórias em algo que possa nos trazer novamente a lembrança em algum momento futuro, e quando pensamos que tudo está esquecido, somos surpreendidos com recordações de nosso passado.
Ao ouvir o instrumental da música "Dont you forget about me", tocando alto e claro nas muitas caixas de som espalhadas pelo ginásio do internato de Santa Ana do Sul, Bárbara sentiu que de alguma forma, essa canção nunca sairia de sua memória. Os primeiros toques da bateria preenchiam o lugar, acompanhados do som combinado de guitarra e teclado, todos os olhares estavam fixos em Arthur no palco, enquanto o rapaz balançava seu corpo de forma lenta ao ritmo da música.
Bárbara se aproximou mais do palco, e posicionou-se de frente para Arthur, enxergando o rapaz de corpo inteiro. Os olhos de Bárbara seguiam os movimentos de Arthur, admirando seu sorriso confiante, e forma como ele segurava o microfone sem tirá-lo do pedestal. Ele ainda estava se acostumando novamente a estar em um palco, mas aos poucos sentia-se à vontade diante de todos. Antes de começar a cantar, Arthur lembrou-se de tirar sua boina, jogando-a para Bárbara, deixando seus cabelos escuros e bagunçados livres.
Os alunos acompanharam Arthur, cantando juntos os primeiros versos, e logo todos puderam ouvir o timbre grave e contido da voz do rapaz, soando reconfortante como o som de uma corrente d'água, seguindo seu curso de forma tranquila. E na letra da música, cada um pode se encontrar um pouco.
"Won't you come see about me? I'll be alone, dancing you know it, baby"
Você não vai pensar sobre mim? Eu estarei sozinho, dançando - você sabe disso, amor""Tell me your troubles and doubts. Giving me everything inside and out and
Me conte seus problemas e dúvidas. Me entregando tudo, por dentro e por fora""Love's strange so real in the dark. Think of the tender things that we were working on. Slow change may pull us apart. When the light gets into your heart, baby
O amor é estranho - tão real no escuro. Pense nas coisas ternas com que estivemos ocupados. A mudança lenta pode nos separar. Quando a luz entrar dentro do seu coração, amor"Aquela música parecia ter sido feita para Arthur. Até aqueles que não sabiam da relação do rapaz com a canção, conseguiam perceber que ela lhe era especial. Bárbara acompanhava tudo de frente, já tinha ouvido aquela canção tantas vezes com o Arthur, mas ver ele cantando era diferente. A plateia vibrava eufórica ao redor de Bárbara, mas ela não prestava atenção em nada. Chegando ao refrão, Arthur vociferou as palavras que assombravam seus dias, e afirmou mais uma vez o desejo que sufocava somente para si.
"Don't you forget about me. Don't, don't, don't, don't. Don't you forget about me"
Não se esqueça de mim. Não, não, não, não. Não se esqueça de mim"Will you stand above me? Look my way? Never love me? Rain keeps falling. Rain keeps falling. Down, down, down. Will you recognize me? Call my name or walk on by? Rain keeps falling. Rain keeps falling. Down, down, down, down"
Você irá me vigiar com atenção? Olhará para mim? Nunca me amou? A chuva continua caindo. A chuva continua caindo. Caindo, caindo, caindo. Você vai me reconhecer? Chamará meu nome ou continuará andando? A chuva continua caindo. A chuva continua caindo. Caindo, caindo, caindo, caindo.
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Um Esconderijo No Tempo
FantasiaBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...