O guardião da justiça estava parado em frente a porta de Nate com uma expressão indecifrável. E ao contrário do que Nate esperava, ele estava sozinho.
— Como está Nate? — saudou Dante, sem aguardar a resposta — Parece meio surpreso de ver, ou é impressão minha?
Os dois não se viam a meses, mas Nate logo se recordou da razão pela qual o guardião da justiça era tão conhecido no Meio. Seu olhar impiedoso continuava o mesmo.
Nate sentiu-se envergonhado por ainda estar de pijama ao ver o quão bem arrumado Dante estava. Vestia uma calça social preta bem ajustada em seu corpo, uma camisa branca de gola engomada e um casaco cinza não muito sério. Se não fosse um guardião, Dante poderia perfeitamente ter nascido como um advogado ou um executivo. O penteado indestrutível de Dante mal se movia com o vento.
— Surpreso, eu? Não! Eu estava esperando que viesse! — Nate disse, gaguejando um pouco — Pode entrar! Fique à vontade!
Dante pediu licença e adentrou a casa de Nate com a calma de um maestro. Era incrivelmente educado. Após ouvir sobre o passado de Eli, Nate lembrou que Dante também tinha sido um anjo. Assim como Eli, ele também se vestia bem coberto e com nenhuma peça transparente, para que ninguém notasse as cicatrizes em suas costas.
— Já estava me esperando? Que curioso! Agora sou eu quem está surpreso.
Nate fechou a porta e voltou-se para o guardião da justiça.
— O Lótus não lhe avisou que eu queria falar com você? — perguntou.
Para a preocupação de Nate, Dante o encarou como se não soubesse do que ele falava.
— Acho que vim aqui lhe ver por outro motivo — contou Dante. Sua expressão tinha mudado, e seu rosto parecia mais rígido. — Eu devo dizer que estou um tanto quanto decepcionado por ter de fazer o que vou fazer. Não esperava me enganar tanto com alguém, mas parece que me enganei sobre sua índole, não é Nate?
O medo percorreu o corpo de Nate e o fez se desequilibrar.
Lótus não conseguiu chegar a tempo. Alguém tinha ido falar com Dante antes dele.
— Dante, eu posso explicar…
— É isso que eu espero que faça — cortou o guardião da justiça — Mas acho que deve se poupar para o tribunal, eu já ouvi o suficiente sobre o que andou fazendo nos últimos meses.
— Espere, Dante! Não tome decisões antes de me ouvir! — desesperou-se Nate — O Camil foi te dizer tudo, não é? Não pode acreditar nele, você sabe que aquele palhaço me odeia, é óbvio que não perderia a chance de me difamar para você!
— Mas ele me pareceu bem convincente— rebateu Dante — Ou você pretende negar que escondeu uma garota no passado porque fez uma burrada na linha do tempo dela?
Nate não soube o que responder. Dante não iria acreditar nele.
— Eu não tive outra escolha…
— Você não quis ter outra escolha! — acusou Dante — Podia ter contado ao conselho e daríamos um jeito. Mas você preferiu bancar o Deus enquanto o Moderador não via! Como pode achar que isso ficaria impune? Que espécie de guardião você é?
Mesmo sem argumentos de defesa, Nate não ficou calado.
— Ok Dante, eu errei sim! Mas o que teria acontecido se eu tivesse contado para vocês? — perguntou ele — Eu sei muito bem o que teriam feito com a alma da Bárbara se eu tivesse lhes contado tudo desde o início! Tenho certeza que você e a cambada de covardes do conselho iriam preferir dar um fim nela ao invés de mandá-la para a Terra de novo! Era muito mais fácil eu ter me livrado da alma dela mandando ela para a vida após a morte, mas eu não achei justo! Não era a hora dela ainda!
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Um Esconderijo No Tempo
FantezieBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...