O processo de separação de Bárbara e Arthur funcionou como um jogo de tabuleiro, pulando de fase em fase. Nos primeiros dias ambos mal se falavam e evitavam ao máximo estar no mesmo lugar, depois passaram a desviar o olhar um do outro nas aulas, e por último, duas semanas depois da discussão, voltaram a se comprimentar e pararam de se evitar, era como se tivessem voltado a ser desconhecidos. Bárbara chegou a pensar que devia procurar o rapaz para dizer que sentia muito e quem sabe acertar as coisas com ele, mas perdia a coragem quando o via pelos corredores e acabou se limitando a lhe dizer apenas "oi" ou "Bom dia", as vezes um "Boa tarde" e esporadicamente um "Boa noite", e muito raramente um "Bom descanso" após as aulas, mas nunca passava disso, e pelo andar da carruagem permaneceram assim por muito mais tempo.
Barbara tentava ao máximo se manter ocupada, passou a ajudar em tudo no clube de jornalismo e evitou ficar atoa por 10 minutos que fosse, mas não adiantava, cedo ou tarde Arthur voltava a rondar seus pensamentos e logo estava se martirizando, não pensou que fosse tão difícil assim lidar com esse tipo de sentimento, estava arrependida de ter subestimado seu afeto pelo rapaz, pois só descobriu o quanto tinha se apaixonado quando não pode mais estar junto dele.
Em uma tarde de sábado no meio de Novembro, Bárbara saiu cedo do dormitório e passou a manhã no refeitório do internato. Um ponto ponto positivo de estar em um colégio interno era o fato dos alunos não darem a mínima para formalidades, se sentindo livres para andar pelos corredores do internato de pijamas ou roupas velhas e com os cabelos atrapalhados como se estivessem andando na sala de casa tranquilamente, Bárbara também deixou de ter vergonha de ficar confortável logo nos primeiros meses, e naquele dia estava totalmente à vontade no refeitório usando um pijama lilás, o cabelo preso com uma faixa e um par de pantufas da época em que ainda estava no Meio escondida no quartinho de Nate, suas únicas companhias eram seu caderno de anotações, café e um grande pedaço de torta de frutas vermelhas que estava no cardápio do café da manhã, e enquanto a cafeína e o açúcar trabalhavam em lhe deixar acordada, a garota tentava reorganizar as idéias no papel, lendo novamente suas notas sobre os alunos da turma 15, para planejar seus próximos passos em sua investigação, se é que ainda iria investigar alguma coisa.
A verdade é que ao se afastar de Arthur, Bárbara voltou a se enxergar como realmente era ali, uma visitante. Foi muito por conta do rapaz que ela se conectou tanto à 1995 e acabou se esquecendo de que ao fim do ano estaria de volta a sua vida, Arthur lhe fez querer ser para sempre a Marina, mas ao se separar dele ela voltou a si, e tudo que tinha compartilhado com ele já não tinha a mesma graça agora, a investigação era uma dessas coisas.
Quando o dia começou a clarear totalmente, o refeitório começou a ficar cheio de alunos famintos e meio moles de sono. Bárbara sabia que seus amigos costumavam acordar tarde, então não esperava vê-los tão cedo, mas por coincidência Daiana estava de pé e logo veio se juntar a ela em sua mesa.
-Bom dia Mari! - comprimentou Daiana, deixando um beijo estalado na bochecha de Bárbara, lhe arrancando um pequeno sorriso e quebrando a aura melancólica da garota - Eu estranhei não te ver no quarto, perdeu o sono?
-Oi Daiana! Eu não consegui dormir mesmo, estava com a cabeça cheia - respondeu Bárbara, às vezes quase se esquecia de chamar Daiana pelo nome e não de "mãe", principalmente com a convivência quando a moça mostrava muitos hábitos que Bárbara já conhecia a anos - Mais e você? Também está com insônia hoje?
Daiana ainda parecia sonolenta, com os olhos pesados de sono e um sorriso cansado nos lábios, seu pijama de estampa floral estava amarrotado ainda pela noite mal dormida.
-Não consegui dormir bem também, fiquei girando na cama, acho que estou preocupada com as provas ou algo desse tipo, nem eu sei bem o que tenho - contou ela, bocejando enquanto se servia de seu café da manhã.
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Um Esconderijo No Tempo
FantasyBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...