Capítulo 47: A Resposta está no Passado

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Era a primeira vez em mais de 200 anos que Nate perdia a noção do tempo. 

Num momento ele estava na cantina do internato, caído no chão e entregue ao desespero, vendo Camil destruir a única coisa que podia lhe dar poder para consertar tudo. De repente, tudo ao seu redor congelou, como se o tempo tivesse parado de correr. 

Quando a esfera se partiu, uma névoa densa e cinzenta tirou Nate de 1995. Em todos os seus anos como no Meio, ele nunca teve conhecimento de nada como aquilo, era como se a magia da esfera lhe conduzisse para além de sua compreensão. Sem saber como reagir, o guardião apenas deixou que aquela magia fizesse consigo o que achasse necessário, pois no fim das contas, ele mesmo não tinha ideia de como prosseguir. 

Como os olhos fechados, Nate sentiu seu corpo ficar cada vez mais leve. Não conseguia ouvir nada com clareza, vários sons invadiam seus ouvidos ao mesmo tempo, como diversas vozes falando juntas. Sua pele se arrepiou pelo frio, e em seguida transpirou pelo calor, as sensações trocavam em segundos. Quis abrir os olhos mas temeu a vertigem, era uma viagem rápida demais para apreciar a vista. 

Poucos minutos se passaram, e então Nate foi deixado. Era como se alguém tivesse o colocado deitado no chão e partido em seguida, deixando-o para que continuasse desacompanhado. O guardião do tempo se permitiu adormecer ali e só despertou quando seu corpo recuperou as forças, tinha de aproveitar enquanto o tempo estava parado, talvez aquela fosse sua última chance de descansar. 

Em determinado momento, Nate acordou e não soube dizer onde estava. Seus olhos doeram pela luz intensa, por um instante chegou a pensar que tinha ido para o Céu. Acostumou-se aos poucos com a claridade e pode enfim enxergar onde estava, e logo viu que suas impressões estavam equivocadas. Ao contrário de sua primeira ideia, Nate não estava em um lugar celestial, pelo contrário, estava entre humanos. 

Ele viu um salão grande e bem iluminado. Muitas pessoas andavam por ali sem pressa, parando diante de mesas com objetos expostos, protegidos por redomas de vidro. Nas paredes haviam telas e mais telas, penduradas e envoltas em molduras bonitas e um pouco envelhecidas. Uma mulher de voz pomposa dava anúncios de programações em um estande, enquanto uma música clássica tocava ao fundo. 

Nate estava em um museu. 

Assim que despertou totalmente, o guardião do tempo viu que não estava dormindo no chão, mas sim em um banco largo em frente a uma parede com pinturas antigas. Estranhou que ninguém ali tivesse lhe visto dormindo, o lugar estava cheio. Se levantou e caminhou um pouco entre os visitantes do museu, sentiu quando um grupo de crianças passou correndo e atravessou seu corpo como se nem estivesse ali, foi nesse momento que Nate soube que apenas seu espírito estava presente ali. 

Passado o período de estranhamento, Nate decidiu buscar respostas que pudessem explicar o porquê de estar ali. Logo na entrada, encontrou informações valiosas em um pôster da exposição: 

“Os amores, a beleza, e os segredos de Florença: a arte pós renascentista no século XVIII”

Haviam pessoas falando em vários idiomas ali, e o pôster na entrada possuía traduções em três línguas diferentes, então foi difícil para Nate reconhecer em qual lugar do mundo estava. Se precisasse supor, ele arriscaria que estava em alguma parte da Itália, pois o italiano era a língua que os funcionários usavam para conversar entre si.

Nate caminhou mais e observou as pinturas da exposição. A maioria delas trazia representações de casais, figuras belas em cenários mitológicos, criaturas místicas, artes sacras e muitos anjos, desejos secretos retratados de forma intensa, havia história por toda parte. 

Em meio aos quadros, Nate encontrou um nome familiar. No centro do salão, em uma posição de destaque, ele se deparou com a pintura mais bela que já tinha visto em toda a vida. A imagem pintada em tinta óleo parecia ter saído de um canto do paraíso.O cenário de fundo era uma floresta de árvores frutíferas, em contraste com um belo campo florido. Na pintura, um rapaz de beleza divina estava deitado nu sob as flores, segurando uma maçã mordida em uma das mãos e uma harpa na outra. Ao redor do rapaz na pintura, Nate enxergou várias penas brancas sujas de vermelho, ao fundo, ele viu algo que pensou serem asas arrancadas, também sujas de vermelho. Era inegável que havia várias referências bíblicas mescladas com mitologia naquela pintura.

Um Esconderijo No TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora