Capítulo 1: No lugar errado e muito adiantada

480 175 500
                                    

Para Bárbara só existiam dois problemas no momento: saber que seus pais estavam em uma sala de julgamentos de um tribunal sendo acusados de um crime que não cometeram e ser de menor.

Já que tinha só 17 anos, nenhum dos oficiais do tribunal permitiu que ela assistisse o julgamento dos próprios pais, o que era ridículo, estava a poucos meses de completar 18 anos, não era mais uma criança, tinha plena consciência do que se passava lá dentro, temia mais que tudo que o verdadeiro culpado ficasse impune e seus pais presos mesmo sendo inocentes.

E não se tratava de um crime qualquer. No ano de 1995, quando os pais de Bárbara tinham sua idade, ocorreu no internato onde os dois estudavam um grande massacre, um aluno causou um incêndio no refeitório que matou 20 alunos e destruiu boa parte da escola. 25 anos depois, quando as investigações já tinham sido encerradas, uma nova prova foi encontrada, um antigo diário de uma das vítimas, dava indícios que tanto os pais de Bárbara quanto mais outros 4 alunos, teriam planejado este incêndio para se vingar por uma punição sofrida durante um trote escolar.

Enquanto esperava do lado de fora do julgamento, Bárbara tentava em vão não demonstrar que estava nervosa, dois oficiais do tribunal lhe vigiavam sem desviar o foco, já que à poucos a garota tinha tentado ouvir o que era falado pela porta.

-Não precisam me vigiar não, já entendi que tenho que ficar esperando aqui fora, não vou tentar ouvir pela porta de novo - disse Bárbara aos oficiais, que nem se deram ao trabalho de respondê-la.

A jovem se sentia patética, ninguém lhe dava ouvidos naquele tribunal, na verdade em lugar nenhum lhe ouviam, onde quer que fosse era taxada de criança, não importava o dissesse, tudo que ouvia era "você não tem idade para compreender o que está acontecendo".

Já que não seria levada a sério, Bárbara resolveu poupar suas palavras para comemorar a liberdade de seus pais, acreditava cegamente neles, não duvidou da palavra deles em nenhum momento, eram uma família muito unida, não tinham segredos uns com os outros.

"É só esperar" pensou ela "Eles vão ser soltos"

Depois de 3 horas sentada do lado de fora, um oficial que estava no julgamento veio lhe buscar.

-Você já pode entrar agora - disse ele, conduzindo a garota para dentro da sala.

Na sala de julgamentos, Bárbara viu os pais e os outros acusados sentados na fileira da frente, algemados e sobre os olhos e a mira dos policiais. Precisou ser forte para não chorar vendo sua mãe rezando baixo para ser libertada, enquanto seu pai tentava se manter firme enquanto era acusado. O advogado de defesa estava eufórico, tentava sem descanso convencer o júri que as provas encontradas não podiam condenar os réus, exigia uma investigação mais aprofundada, mas pela cara do júri, já tinham tomado sua decisão e nenhum outro argumento lhes faria mudar de ideia.

O juiz pediu uma pausa para se reunir com o júri e se retirou da sala. Bárbara que estava sentada na última fileira, se aproximou devagar dos pais tentando passar tranquilidade a eles, e mesmo que não pudesse falar com eles diretamente, podia transmitir com o olhar a calma que eles precisavam para escutar o veredito, ela também estava em pânico por dentro, mas ignorou tudo e sorriu para eles como quem quer dizer "Vai ficar tudo bem".

Depois de alguns minutos, o juiz e o júri retornaram para a sala de julgamentos. Todos mantinham expressões sérias no rosto e os olhos fixos nos acusados, depois de 3 anos de muitas provas sem resposta, investigações perdidas e testemunhas confusas, finalmente o caso do incêndio no Internato Municipal de Santa Ana do Sul, do pequeno município de mesmo nome, chegaria ao fim.

Bárbara fechou os olhos e repetiu para si.

"Vai ficar tudo bem. Eles vão ser soltos. Tenho certeza".

Um Esconderijo No TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora