Aquele dia estava sendo particularmente longo para Nate. Em 24 horas o guardião já tinha feito de quase tudo. Acordou de manhã e viajou no tempo até 1995, reencontrou Bárbara e fez as pazes com a garota, leu o livro de cartas de Matteo, enfrentou Camil e seu hospedeiro, perdeu o primeiro embate, e para finalizar, fez mais três passeios pelo tempo sem nem ao menos entender para onde estava indo. Tudo isso sem parar para um café.
Esse último problema foi resolvido pelo espírito da esfera da história.
Após deixarem o cenário pré-rebelião em Paris, o estranho espírito decidiu levar Nate para conversar em um lugar mais confortável. Presenciar o lugar de sua morte não deixou Nate relaxado. O destino escolhido foi uma cafeteria simples em São Paulo, no Brasil.
A chegada no lugar foi como em muitas outras viagens no tempo: eles simplesmente apareceram em uma mesa e ninguém pareceu reparar na presença deles, como se sempre tivessem estado ali.
O aroma do café recém coado e pão com manteiga deixou Nate mais relaxado em segundos. Desconfiado, o guardião do tempo sentou-se inquieto na cadeira e observou o movimento na cafeteria. Era um estabelecimento aconchegante, repleto de clientes tranquilos e concentrados em suas conversas. Todos ali estavam focados em seu próprio mundo, e Nate percebeu que não precisava se incomodar em ser ouvido.
- Espero que se sinta melhor aqui - desejou o espírito, observando a desconfiança de Nate com curiosidade. A aparência de Leon que o espírito usava deixava Nate mais incomodado do que a vontade. - Gosto muito desse país, é a primeira vez que o visito. As cafeterias daqui são muito agradáveis.
Um garçom distraído deixou dois menus na mesa onde eles estavam e partiu para atender outros clientes. Nate estranhou que pudessem vê-los.
- Podem nos ver aqui? Não estamos... invisíveis? - perguntou o guardião.
O estranho sorriu com tranquilidade.
- Não se preocupe Nate. Nesse exato momento, você está de volta ao seu corpo de guardião, feito de material espiritual. O corpo de um guardião é físico, e o meu é bem parecido, não sou um espírito no sentido literal. Digamos que sou sólido o suficiente para aproveitar um bom café. - explicou ele, lendo os pratos do menu. - Aqui somos apenas mais dois clientes, se esqueceram de nós assim que partirmos. Não seja tímido, escolha algo para bebermos enquanto conversamos. Será uma longa conversa.
Nate assentiu e tentou se acalmar. Parecia que aquele estranho tinha tudo sob controle. Olhou o menu sem muita atenção e seguiu conforme o espírito ditou.
- Então - começou o guardião - Se vamos conversar é melhor que me diga o seu nome. Estou realmente confuso de como devo chamá-lo. E você está usando a aparência do Leon também, é bem estranho.
- Pode me chamar como preferir, Nate - disse o estranho, rindo de leve. - Sou um espírito antigo, na época em que fui criado ninguém se deu ao trabalho de me nomear. Vivi muitas eras dentro da esfera e também não tenho uma aparência própria, e quando fui libertado escolhi me parecer com o Leon para que me achasse mais familiar. Talvez não tenha sido uma ideia tão boa, não é?
- Bom, eu tomei um belo susto. Mas não foi uma tentativa em vão, talvez me ajude de verdade - admitiu Nate. Acabou se acostumando a ver o rosto de Leon novamente. - Mas se ninguém te deu um nome, posso te chamar de Leon mesmo?
O espírito concordou de imediato.
- Será Leon então.
Passado o estranhamento inicial, Nate sentiu-se mais à vontade. Era como se pudesse ter a chance de conversar com Leon novamente. Às vezes, ele sentia falta das conversas que tinha com o antigo amor de sua vida humana, Leon tinha o dom de conquistá-lo com suas palavras.
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Um Esconderijo No Tempo
FantasiBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...