Os dias no internato de Santa Ana do Sul estavam começando a ficar mais tranquilos com a chegada do fim do ano, grande parte dos alunos ainda tinha que fazer provas e trabalhos de recuperação para conseguir atingir as médias de aprovação, mas o restante já passava os dias apenas conversando, ou nas atividades de clubes, nunca o silêncio durou tantos dias em um lugar com tantos jovens.
Bárbara era parte do total que já estava aprovado, e podia fazer o que quisesse no restante do dia contanto que assistisse pelo menos algumas das aulas do dia, como ainda não tinha se desligado totalmente de seu vínculo com Nate, ainda escutava a voz do guardião de vez em quando na sua mente, mas nunca conseguia entender o que ele dizia com clareza, assistir as aulas lhe ajudava a se distrair disso, e também lhe ajudava a não pensar o tempo todo em sua discussão com ele, até porque só tinha se passado 2 dias que tinham se visto pela última vez, ainda faltavam muito para o fim do mês.
Após sua última aula daquele dia, Bárbara almoçou correndo com os amigos, que iriam assistir a um jogo de futebol na TV, e se despediu deles para ir até a enfermaria ver Arthur, o rapaz iria receber alta no fim da tarde, e ela queria passar algumas horas com ele antes que fosse liberado, seria uma boa oportunidade para uma conversa franca. Nos últimos dois dias, Bárbara só visitou Arthur enquanto ele dormia, ainda estava juntando coragem para lhe dizer algumas coisas, mas enfim iriam conversar novamente, e dessa vez ela esperava que a conversa terminasse sem impasses entre ela e o rapaz, eles mereciam uma trégua.
Como Bárbara ia até a enfermaria todos os dias para visitar Arthur, a enfermeira nem lhe questionava na hora de entrar, simplesmente abria a porta e deixava a garota ir até Arthur, também lhe informava quando ele estava acordado ou dormindo. Após o almoço, quando a garota chegou a enfermaria, a enfermeira deu um sorriso tranquilizante para Bárbara e lhe indicou a direção da cama onde Arthur estava.
- Ele já está acordado, se quiser vê-lo pode ficar à vontade - disse ela, estava checando seus registros sobre o estado de Arthur durante sua estadia na enfermaria.
- Como ele tem estado? - quis saber Bárbara, antes de ir até o leito de Arthur.
- Me parece bem melhor, deixamos ele na observação apenas por garantia - respondeu a enfermeira, pelo visto a doença de Arthur não dava sinais em exames de rotina, e a enfermeira não devia ter a menor ideia de seu real estado de saúde - Sabe mocinha, você é a namorada mais preocupada que já conheci, sempre vindo visita-lo, ele é um garoto de sorte.
Bárbara riu envergonhada.
- Nós não somos namorados, somos só amigos - corrigiu ela, tímida - Ele disse que somos namorados?
- Ele está sempre perguntando de você, querendo saber se veio enquanto ele dormia, e se ficou preocupada demais - contou a enfermeira, com um sorriso brincalhão - Acho que se não são namorados, deviam parar de perder tempo, a juventude não dura para sempre, eu bem sei disso.
Parecia que tudo levava Bárbara a falar sobre tempo, justo agora que tinha brigado com Nate. Era bem contraditório que pudesse ignorar Nate, mas não o tempo. No final não conseguia ignorar nenhum dos dois, o tempo estava em tudo.
- Eu vou me lembrar disso - disse Bárbara para a enfermeira - Deve estar certa sobre o que diz, estou perdendo muito tempo, em todos os sentidos. Eu posso entrar para vê-lo agora? Queria conversar um pouco com ele, mais se estiver muito cansado eu volto depois.
- Claro que pode! Ele acordou a poucos, está bem desperto - permitiu a enfermeira, estava de saída para almoçar - Assim você faz companhia a ele enquanto eu estiver fora, volto mais tarde para dar a alta, tudo bem?
- Sim, pode ficar tranquila! - concordou Bárbara - Prometo que não vou agitá-lo.
A enfermeira terminou de arrumar suas coisas e deixou a enfermaria em seguida. Bárbara caminhou até onde ficava a cama de Arthur e viu o rapaz sentado, assistindo algo em uma pequena televisão no canto do quarto, era um jogo de futebol. Arthur aparentava estar recuperado, sua pele tinha recuperado o tom dourado e vívido de sempre e seus olhos estavam alertas para tudo, era bom ver que estava melhor independente de sua doença, Bárbara ainda não tinha se conformado totalmente com a morte eminente do rapaz, mas ficava aliviada que ele não estivesse sofrendo por nenhum sintoma.
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Um Esconderijo No Tempo
FantasyBárbara, nossa protagonista de 17 anos, é uma jovem inconformada e impulsiva, que a anos convive com a investigação do massacre da escola de seus pais,do qual eles são acusados injustamente. Por conta de um erro do tempo, ela sofre um acidente fata...