Capítulo 44: O Caminho até o Contra-ataque

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Após o incidente do baile de fim de ano no internato, Bárbara e Arthur escaparam da confusão para procurar pelos amigos. Inácio e os demais deviam estar irritados pelo trote feito por Celso, e Bárbara temia que eles saíssem da cidade. Tinham de encontrá-los o mais rápido possível.

Enquanto caminhavam pela estrada que ligava o internato a cidade, Bárbara e Arthur mal conversavam, se concentraram ao máximo para enxergar o rastro de tinta deixado por seus amigos. As árvores ao redor da estrada balançavam com o vento e uma fina garoa caía sob o caminho de terra. O relógio que levavam marcava meia noite, tinham andado em linha reta por pelo menos uma hora, até que Bárbara percebeu que Arthur a acompanhava com passos lentos, lentos até demais.

A garota virou-se para ver Arthur. Ele estava ofegante.

— Está tudo bem? — perguntou ela — Estou andando muito rápido?

Arthur tentou disfarçar, mas sua respiração estava agitada demais. Com toda aquela situação, ele tinha se esquecido que seu estado de saúde não o permitia se esforçar tanto em um único dia.

— Eu vou ficar bem — disse ele, com a voz fraca — Não se preocupe comigo, isso acontece de vez em quando. Deixe-me parar por uns minutos e podemos prosseguir.  

Bárbara sentia seu peito doer de agonia ao ver Arthur se arriscar tanto para acompanhar sua caminhada desesperada. Na festa ele já tinha se mostrado muito cansado depois de dançar por poucos minutos. 

— Talvez seja melhor você voltar, eu posso continuar sozinha — sugeriu — Você tomou os seus remédios hoje? Estou ficando seriamente com medo agora, e se algo acontecer e…

— E eu acabar morrendo no meio do caminho? É o que ia dizer? — cortou o garoto — Marina, eu já te pedi para não me tratar como se eu estivesse inválido. Não vou deixar você andar nessa estrada sozinha no meio da noite, pare de me olhar como se eu estivesse me arrastando ao seu lado!

Bárbara não conseguiu responder, se recusava a discutir com Arthur naquele estado e não conseguia evitar de ficar preocupada. Arthur sabia que seu tempo estava se esgotando, e lembrar disso o tempo todo o deixava estressado.

Incomodado com o silêncio entre eles, Arthur logo se arrependeu.

— Não ligue para o que eu disse. Eu estou me sentindo péssimo, tenho medo de admitir que estou com dor, porque isso significa admitir que estou prestes a morrer.

Bárbara afastou algumas lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos e abraçou Arthur.

— Me desculpe, eu não estou menosprezando seu esforço, mas me dói ver você se recusando a reconhecer que precisa de ajuda. Ignorar tudo não vai te fazer se sentir melhor, se está com dor, você precisa se cuidar!

— Eu sei Marina — respondeu Arthur, abraçando a garota com cuidado, seus membros doloridos se recusaram a prosseguir — Eu não quero deixar você sozinha, mas mal consigo ficar de pé. Isso é tão humilhante.

Bárbara sentou na beira da estrada ao lado de Arthur e começou a chorar.

— Porque temos de passar por isso? Não é justo!

O peso de tudo o que estavam segurando se tornou pesado demais. Bárbara não sabia o que o futuro lhe reservava, temia que o silêncio de Nate significasse uma tragédia, temia pela vida de Arthur que se esgotava aos poucos, tudo isso era desgastante.

Arthur já tinha se questionado várias vezes sobre sua doença. O mundo tinha bilhões de pessoas, e dentre todas essas pessoas justo ele foi contemplado com uma vida curta, realmente não parecia justo. Ao invés de se lamentar e chorar, o rapaz decidiu que estava na hora de reconhecer que precisava de ajuda, isso não era um sinal de fraqueza.

Um Esconderijo No TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora