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Any Gabrielly

A minha vida inteira estive acostumada a ser a melhor, melhor da classe, da universidade, da turma de residência, da cardio, de tudo. Sou um prodígio da cardiologia, entrei na faculdade de medicina aos 16, terminei aos 23, mais cedo que o normal e sendo a primeira da turma, minha residência foi no MMS, o melhor hospital de residência do mundo e foi assim que eu me tornei uma das melhores e mais jovem cirurgiã cardíaca do país aos 27 anos.

Abri meu próprio consultório há dois anos e meus pacientes são em sua maioria idosos devido ao agravamento de problemas cardiovasculares nessa faixa etária. Também faço umas cirurgias numa rede de hospitais, mas não aceito todas, a maioria são casos raros para por em prática as minhas inovações cirúrgicas, não, os pacientes não são cobaias, mas é a minha forma de tentar ajudá-los, pois muitas doenças e falhas no coração não tem solução e com o meu talento posso tentar revolucionar essa área que mata tanta gente, que é a cardiologia.

Meu sucesso foi pautado no meu mérito, mas não serei ignorante em dizer que as condições financeiras dos meus pais não ajudaram bastante na minha carreira acadêmica. Estudei nas mais conceituadas instituições do país e do mundo e, apesar da hostilidade daqueles outros herdeiros que estudavam ali, foi uma ótima educação.

Desde que nasci, a minha vida e a da minha irmã já estavam escritas, fazer os melhores cursos de administração de empresas, economia e direito para assumir os negócios da família. No entanto, nenhuma de nós seguiu nosso "destino", me tornei médica e meus pais se orgulharam de mim, mas deixaram claro que se não eu, meu marido deveria cuidar dos negócios da família. Minha irmã, Nour, decidiu seguir seu sonho também e se tornou artista plástica, ela está noiva de Pierre, um estrangeiro, e assim que casarem, irão morar na França, o país natal dele e o coração da arte. Nada contra a minha irmãzinha, sei que Paris é incrível e perfeita para desenvolver ainda mais as suas habilidades artísticas, mas ela está indo embora e deixando tudo em cima do meu colo.

Eu tinha a pessoa perfeita para mim. Pelo menos foi o que imaginei, até que ele se revelou ser o contrário de tudo que eu pensava. Meus pais o adoram, as duas famílias são amigas, então minha penitência será encontrá-lo para sempre nas festas de família, que são muitas. Minha mãe ama organizar festas de verão na nossa casa nos Hamptons, um bairro de luxo que abriga a elite nova-iorquina. Eu até gostaria de lá, se não fosse aquelas pessoas cheias de veneno vigiando cada passo meu, é um lugar lindo, a praia é uma maravilha, uma das melhores dos Estados Unidos.

Tenho evitado essas festas, mas com a chegada do verão, será inevitável.

Minha irmã casará em três meses, no verão, esse é o tempo que tenho para arrumar um par, seria bom se eu arrumasse alguém antes, justamente, para não parecer muito suspeito. Várias ideias passaram pela minha cabeça para solucionar esse probleminha, mas não tenho coragem de fazer nenhuma delas. Não posso aparecer sozinha, é uma questão de orgulho!

A festa de noivado foi na semana passada e foi um desastre socialmente falando, fui apenas com a minha melhor amiga Savannah o que rendeu olhares e burburinhos maldosos sobre mim. Faz tempo que eu não tenho ninguém, mas especificamente um ano, e é o suficiente para falarem de mim pelas costas, como se o sucesso de uma mulher dependesse de um macho. Uma mulher não pode ser solteira em paz!

Sav é a minha enfermeira instrumentadora, formamos uma bela dupla na sala de cirurgia, nos conhecemos na residência há uns quatro anos e desde que comecei a ser médica atendente, só realizo procedimentos com ela. Ao contrário de mim, ela faz muitos plantões no hospital, pois a minha área é mais de pesquisa, fico mais com a cara enterrada nos livros, mas sempre temos tempo uma para outra. Diferente de mim, ela cresceu numa família normal, mas, com o nosso tempo de amizade, acabou se acostumando a frequentar esses eventos sociais comigo.

Acabei de voltar de um almoço com ela, hoje tenho uma cirurgia de amiloidose cardíaca que é bem rara daqui menos de duas horas e tenho que ir me preparar no hospital. Meu trabalho nunca me entedia, todo dia me aparece um novo desafio, estou sempre em busca do sim em meio aos nãos da medicina. 

Por acaso, resolvo passar no meu escritório para pegar umas coisas e me deparo com um homem, loiro, um pouco mais alto que eu, com os olhos cor de oceano bem vermelhos implorando para que Hina, minha secretária, o deixe falar comigo.

De paciente desesperado eu entendo e Hina também, porque, bem, sobra pra ela. Estou com o tempo apertado, mas decido ouvir o tal homem, estou curiosa.

— Deixe-o entrar, Hina – digo num tom firme passando reto por eles e entrando em minha sala

Me espanto com a minha própria atitude, desde quando fiquei tão boazinha com estranhos que ainda por cima não marcaram hora? Detesto gente desprogramada. Qual é a dificuldade de passar a mão no telefone, hein?

Ambos me encaram, Hina com uma expressão meio chocada e o estranho com um brilho no olhar.

Sento em minha poltrona e ele logo adentra o cômodo.

— O que te traz aqui com tanta urgência senhor...

— Beauchamp

— Pois bem, Beauchamp, por que não marcou uma hora? – pergunto com a sobrancelha arqueada e com seriedade na voz

— Bem...

Muita coisa de medicina nessa estória será extremamente fictícia, não tenho formação nisso, meu conhecimento é bem básico, então não levem como verdade. ⚠️⚠️⚠️

HOW TO SAVE A HEART | BEAUANY STORYOnde histórias criam vida. Descubra agora