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Joshua Beauchamp

Hoje fui dar as minhas aulas de sábado enquanto Aurora estava no hospital apenas em observação. Na quinta à noite, ela teve dificuldade para respirar, então a levamos para lá. Hoje ela terá alta, se estiver tudo bem, e iremos para casa.

Deu o horário e dispensei a turma. Fui direto para o hospital, pois Aurora ficou lá sozinha, a família toda estava ocupada, mas sei que ela está bem cuidada e segura, já conhecemos a maioria, se não todos, os funcionários da pediatria. O médico a colocou num holter, um exame que por meio de um aparelho monitora o coração por 24 horas para checar quaisquer arritmias cardíacas, provavelmente essa hora já tiraram, pois o tempo estipulado se encerrou.

Entro em uma das salas da pediatria e me deparei com uma cena inesperada. Doutora Soares e a minha filha. Sorrindo.

O que rolou?

— Isso vai ser geladinho, mas não se assusta, bebê – diz de costas para mim colocando o estetoscópio no peito de Aurora por um bom tempo

— Muito bem, fofinha, pode me chamar de Doutora Any... muito grande né... pra você pode ser só Any então – a morena diz e Aurora sorri

A médica anota uma porção de coisas numa prancheta e eu ainda estou sem reação, parado, só observando.

— Cadê a sua mãe, gracinha? Você tá fraquinha, precisa de leite materno...

— Foi embora na primeira semana – as palavras escapam da minha boca com certa aspereza e ela olha para mim com uma expressão que não sou capaz de decifrar

— Que irresponsável! – murmura entre dentes

— Ainda não tenho o seu dinheiro...

— Tudo bem, vou ajudar mesmo assim

— Obrigado – impulsivamente a abraço agradecido

— Não agradeça ainda... Preciso que faça uma coisa por mim

— O que?

— Desculpa a pergunta invasiva, mas você tem alguém, romanticamente falando, na sua vida?

— Não...

— Preciso que case comigo

— Como é que é? Eu nem te conheço – a solto

— Vamos tomar um café... e eu te explico – assinto meio desnorteado, pego Aurora no colo

— Ela já pode sair, Doutor? – pergunto ao médico responsável por ela

— Peraí, deixa eu verificar... liberada, foi só um susto, tá tudo certo – diz analisando os papéis e relaxo

Fomos até a cafeteria daqui e pedimos, cada um, uma xícara de café.

[...]

— Olha só, eu vou ser o mais sincera possível com você, eu sei que estou soando maluca...

— Meus pais querem que eu me case, mas graças à umas coisas aí da vida, eu não acredito mais em amor...

— O meu pai quer se aposentar da direção da empresa e eu não sei nada sobre isso... sou médica, não nasci pra a vida de papelada e cálculo... já disse quinhentas vezes para contratarmos alguém da área logo, mas ambos se recusam a colocar alguém que não seja da família no controle

— Querem que eu arrume um marido a todo custo e, resumindo, eu não quero decepcionar minha família

— Então... se a gente casar, todos os nossos problemas vão se resolver de uma vez só, eu vou dar à minha família o que eles tanto querem, você e a bebê vão ter acesso ao meu plano de saúde que cobre tudo que você imaginar e, se não cobrir, eu tenho dinheiro o suficiente pra buscar tratamento onde você imaginar... Vou fazer o meu melhor para salvá-la, pode ter certeza

— Como você sabia que eu sou formado em administração de empresas? – pergunto assustado

— Você é formado? Não sabia. Melhor ainda...

— Olha só, não precisamos fazer nada, só uns beijos na frente da família no máximo

— E se eu disser não, você não ajuda a minha filha – presumo

— Resposta sincera?

— Por favor...

— Não importa a sua resposta, vou atrás de um solução para ela de qualquer maneira, custe o que custar

— Sério? – pergunto surpreso

— Uhum... gostei dela... é daqueles anjinhos que vale a pena lutar para salvar a vida...

— Eu aceito

— Tem certeza?

— Eu te ajudo com o seu problema e você me ajuda com o meu... é mais que justo... Fechado?

— Fechado...

— Foi ótimo fazer negócios com você, passe na segunda, você e Aurora, no meu escritório para assinarmos o contrato

— Que contrato?

— De casamento... não confio apenas em palavras

— Estarei lá

— E faz um exame de sangue completo novo nela e leva os dados do holter que ela fez

— Ok – respondo e ela vai embora

— Onde o papai foi se meter em, princesa? – olho para ela e automaticamente sorrio

— Pelo menos você vai saber como é ter uma mamãe, nem que seja de mentirinha... ela parece se importar com você... bem lá no fundo... – acaricio os cabelos da pequena

Eu não vou impor nada não, mas se vier naturalmente, que mal tem Aurora ter uma figura materna?

Meu Deus do céu como eu sou emocionado... Eu mal a conheço!

Mas vamos casar né?

Que loucura em...

O lado bom é que ela parece ser boa no que faz...

— Eu acho que ela pode ter salvar, bebê – digo com os olhos marejados

Aurora balbucia uns fonemas aleatórios e arranca outro sorriso meu.

— Te amo mais que tudo, filha – a abraço delicadamente

— Seu papai vai sempre fazer o melhor para você, minha princesinha, vamos fazer esse exame de sangue logo

Desde que minha pequenininha veio ao mundo, sou fraco para ver o seu sofrimento, nem que seja por saúde, como é o caso, me dói vê-la chorar.

Fomos fazer o tal exame e os minutos que ela chorou ali pareceram uma eternidade. Tiraram a quantidade necessária e finalmente voltamos para casa.

Moro, atualmente, com a minha mãe, pois ela me ajuda com a pequena e acabei vendendo o meu apartamento na partilha de bens do divórcio. Como usei o dinheiro para arcar com as despesas hospitalares, ela nos acolheu lá.

Ela é um exemplo de vida pra mim e Sina, sempre deu duro por nós.

Eu não poderia ter pedido alguém melhor como mãe.

HOW TO SAVE A HEART | BEAUANY STORYOnde histórias criam vida. Descubra agora