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Any Gabrielly

Que homem complicado.

Aguenta firme, Any, é pelo bem da Aurora. Minha consciência tentava acalmar meus nervos lembrando o objetivo disso tudo.

Esse doutor Lucas é irredutível, eu falei que precisaríamos fazer a cirurgia nos Estados Unidos e ele me encheu de condições. Ele é cheio dos caprichos e eu nem posso julgar, pois também sou assim. Gosto das coisas do meu jeito e muitos cirurgiões também são assim, é bem comum, eu já devia ter me acostumado. Detesto admitir, mas preciso dele. O estudo desenvolvido por ele é fundamental nesse caso e mãos extras seriam de muita utilidade.

Depois de me render à todas as exigências do médico, fomos até o instituto de pesquisa cardiológica onde ele trabalha tentar esboçar uma estratégia. Mostrei todos os exames da pequena, porém ele disse precisar ouvir o coração dela por conta própria e fazer um modelo 3D exato do órgão.

A impressora deles é incrível, no hospital que trabalho também temos algumas, mas essa é muito especial, específica para corações.

Agora eu quero muito uma dessas.

Assim foi a tarde inteira, pesquisando, lendo e tendo ideias. Ficou tarde e o moreno me chamou para jantar, aceitei, olhei meu celular pela primeira vez em horas e respondi as mensagens de Josh.

Fora do trabalho, Lucas é bem gente boa, agora que estamos num momento mais relaxado pude notar a beleza do moreno. Temos muito em comum, quando se entra no curso de medicina, ser médico vira uma espécie de traço de personalidade, então a conversa flui muito, de casos interessantes de pacientes a estudos e pesquisas inovadoras... até o gosto por séries e filmes fica parecido... Ele deu umas investidas em mim, mas logo deixei claro que sou casada e ele parou. Trair o Josh está fora de cogitação, eu detestaria se fosse ao contrário, então pra mim é o certo a se fazer, apesar de não vivermos um relacionamento de verdade.

Jantamos, conversamos e logo preferi voltar para o hotel. O sono e o cansaço me consumiam e mais uns minutos ali eram o suficiente para eu capotar no meio do estabelecimento.

Cheguei na recepção e fui informada que já tinham o meu quarto, deram um jeito na logística e conseguiram mais cedo que o previsto. Resolvi recusar, mal fico no quarto mesmo e dividir com Josh e Aurora é bem tranquilo. Devo admitir que, no fundo, eu gosto dessa sensação de ter alguém, não estar sozinha e ter outro corpo aquecendo a cama.

Abri a porta do quarto tentando fazer o mínimo de barulho possível e encontrei o loiro dormindo com o computador no colo. Tadinho, capotou de tanto cansaço. Rio baixo com a cena. Dou uma espiada na tela e vejo que ele está resolvendo coisas da empresa. Ele realmente se importa... se esforça, admiro muito isso, sendo casado com a filha do dono, é óbvio que um cargo na diretoria já é garantido para ele, mas Josh quer fazer por merecer, acho nobre de sua parte.

Guardo o notebook na gaveta da mesinha de cabeceira, o ajeito na cama e cubro seu corpo com o lençol. Vou até o banheiro, faço minhas higienes, coloco um babydoll, ligo o ar e me deito na cama. Josh sentiu o coxão afundar e me puxou para perto de maneira que acabamos dormindo agarrados.

E eu gostei.

Me sinto bem dividindo cama com ele. Tudo parece menos solitário.

Acordei no dia seguinte com Josh ainda me apertando, me soltei, vi as horas e dei uma olhadinha na bebê. Evitei ficar com ela ultimamente, pois estou me afeiçoando demais. O problema disso é justamente o motivo do acordo. Como é que eu vou fazer a cirurgia se meus sentimentos passarem por cima da minha razão?

Noto ela olhando para o meu seio sinalizando fome e desvio o meu olhar para o mesmo vendo uma pequena manchinha na minha roupa sinalizando que vazou leite dele. Senti eles mais pesados que o normal pela primeira vez.

Bom sinal. Apesar de ter sido um pouco mais cedo que o planejado, quanto antes, melhor para a pequenininha se acostumar. O tratamento super deu certo. Minha médica avisou que era possível, pois fiz tudo certinho. Sempre fui metódica, então procuro fazer as coisas exatamente como consta nos manuais de tudo na minha vida e não foi diferente para o processo de lactação induzida. Não teve um dia que deixei de tomar o remédio, estimular o seio, usar a bombinha e até acrescentei aveia na minha dieta, pois ajuda.

Nunca amamentei sem a sonda, mas não deve ser tão difícil né? Aurora parece estar com fome e com o sono desregulado, pois são seis da manhã e o café do hotel nem aberto está.

Tenho que melhorar a minha alimentação e evitar ao máximo beber, tudo que eu como ou bebo a afeta, então vou me cuidar muito mais a partir de agora.

A peguei no colo, sentei na cama, levantei a minha blusa e ela logo abocanhou meu seio e sugou o leite muito satisfeita. Doeu um pouco no início, mas depois me acostumei com o incômodo.

— Tá gotoso Aurora? – pergunto com uma vozinha fofa e ela sorri me deixando em paz

— Eu gosto muito de você viu bebê...
eu fico fugindo de você porque eu to com medo... medo de gostar tanto de você e não conseguir fazer a sua cirurgia... você não pode virar um conflito de interesses, senão eu não vou conseguir abrir o seu peito e consertar o seu coraçãozinho... – faço um carinho nos cabelos loirinhos dela e confesso

— Eu não consigo nem olhar pra sua cicatriz sem ter vontade de chorar... que tipo de médica eu sou em... – sinto minha voz embargar um pouco – Acho que isso é tudo por hoje – o leite dos meus seios acaba depois de um tempo

A produção de leite é proporcional ao estímulo, então meu objetivo é produzir o suficiente para duas mamadas ao dia, já que ela já começou a comer outros alimentos. Aos poucos isso vai se regular.

— Sua mãe foi muito burra em te deixar... tem que ser... uma menininha linda dessa é o sonho de qualquer um – dou um beijinho em sua bochecha e ela balbucia uns fonemas aleatórios me fazendo rir

Esse pinguinho de gente me faz feliz, tenho que admitir.

HOW TO SAVE A HEART | BEAUANY STORYOnde histórias criam vida. Descubra agora