HOW TO SAVE A HEART | BEAUANY STORY

0.2

Joshua Beauchamp

— Por que não agendou um horário com a minha secretária? – repete a pergunta

— Não tenho dinheiro pra isso

— E como espera que eu te ajude?

— Bondade

— Você não parece um paciente...

— E não sou. Preciso de ajuda para a minha filha... – explico

Até pouco tempo eu era casado com Maddie, estávamos felizes, esperando uma linda menininha e tudo ia bem... até ela nascer. Aurora nasceu prematura e com uma condição rara no coração, a Anomalia de Ebstein. Minha filha é o meu tesouro, tudo pra mim e faço de tudo por ela. Maddie, no entanto, nos deixou, não queria uma filha defeituosa. Essas foram as palavras dela quando estávamos na UTI neonatal, nos primeiros dias de vida da pequena. Ela foi embora sem olhar para trás.

Eu, minha irmã e cunhado temos trabalhado em função dos tratamentos médicos de Aurora. O plano de saúde não cobre tudo, boa parte é considerado tratamento alternativo, experimental e isso é utilizado como justificativa para ignorar as condições dela por uma questão de economia deles. Muitos já disseram para eu aceitar a "causa perdida" e seguir em frente, mas não posso desistir da minha garotinha, então me desdobro para dar conta de tudo sendo pai solteiro. Como eu desistiria da pessoa que eu mais amo nesse mundo?

A doença não a afeta sua personalidade, minha garotinha é um amor, uma doçura, tem os olhinhos azuis mais lindos do mundo, pele clarinha assim como a minha, cabelos num tom de loiro, lisos, como os da genitora, considero Maddie assim depois dela ter tido a coragem de abandonar a nossa filha, uma mãe de verdade jamais faria isso. Resumindo, é a coisinha mais perfeita do papai.

Já são seis meses lutando pela vida da minha Aurora, tentando de tudo, agora ela está com uma solução provisória, ou seja, precisamos de um milagre da medicina para salvá-la. Desde que descobri do problema dela, tenho pesquisado constantemente sobre o assunto, mas não sou médico, não entendo a maioria dos termos ali, então minha ajuda e nada é quase a mesma coisa. Encontrei essa médica, Any Gabrielly Soares, um prodígio da cardiologia, provavelmente a minha única chance de buscar a solução que tanto procuro.

Cursei administração de empresas e antes de ter minha filha, meu emprego era razoavelmente bom, numa grande multinacional sediada aqui em New York. Fui demitido, pois passei a faltar muito por causa da saúde frágil da minha bebê, então arrumei um trampo numa escola de dança já que é um talento meu, os horários são mais flexíveis, mas não paga muito.

Minha mãe cuida de Aurora para mim enquanto estou no serviço, isso quando ela não está no hospital, e temos segurado as pontas com muito esforço da nossa família. Somos muito unidos, há muito tempo, tem sido apenas nós três, eu, mamãe e Sininho, desde a morte de papai na minha infância. Passamos por maus bocados, mas sobrevivemos.

— Senhor Beauchamp, tenho uma cirurgia marcada, não tenho tempo para desperdiçar

— Apenas escute o que tenho a dizer...

— Sinto muito, tenho que ir... – diz após checar seu relógio de pulso

— Por favor, doutora – imploro

— Eu não sou uma pessoa tão má, ao ponto de dizer não sem sequer ouvi-lo, se quiser pode esperar até a cirurgia terminar ou voltar outra hora, outro dia... – levanta e já vai saindo com uma bolsa no braço

— Vou esperar

— Seis horas?

— Eu esperaria o tempo que fosse

A médica saiu e observei cada detalhe dali, os inúmeros certificados nas paredes, as prateleiras abarrotadas de prêmios e livros de medicina, uma mesa metodicamente organizada e dois porta-retratos, quase que escondidos, um sem foto alguma e o outro com a foto de uma família que presumo ser a dela.

Quem tem um porta-retrato sem foto? Me questiono curioso.

As horas foram se passando e as minhas pálpebras pesando, meu corpo está tão acostumado a viver ao extremo, noites mal dormidas cuidando da minha bebezinha, madrugando em hospitais e trabalhando o máximo que posso. Meu corpo está em exaustão, sinto um sono fora do comum... Acabo cedendo e fechando os olhos...