mais um conto de fadas

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Sábado, 12 de março de 2022.

Ela pediu que todos saíssem da sala e apenas sua mãe ficasse por ali. Eram muitas novidades para serem assimiladas e Gizelly precisava respirar, principalmente.

- Tá tudo bem, filha? - ela pensou melhor - Imagino que não esteja... Uma grande confusão no que deveria ser o dia mais feliz da sua vida.

- Mãe, o que eu fiz pra merecer isso? Será que eu não sou digna de ter um casamento decente?

- Você é, Gizelly. Você merece ser muito feliz, minha filha.

- Então por que isso tudo está acontecendo hoje?

- Eu também não sei, mas sei que, no fim, vai dar tudo certo.

- Você acha que eu devo me casar, mãe? Você acha que eu devo tentar ir atrás dele?

- A pergunta é: você o ama, Gizelly?

— xxx —

Quarta-feira, 12 de janeiro de 2022.

Ele sabia que não teria mais volta. Sabia que quando acordasse naquela manhã de segunda há um mês atrás, não encontraria mais ela. Ele sabia, mas ainda assim, quatro semanas depois, ele tinha esperança de que ela tocaria sua campainha novamente, tinha esperança de receber alguma ligação dela e tinha até esperança de que ela usasse aquela aliança algum dia junto com ele.

Mas ela não fez. Ela não foi atrás dele, ela não ligou, não mandou mensagem, nem sequer o desbloqueou das redes sociais. Ela apenas seguiu em frente, sem olhar pra trás.

Quando seu telefone tocava, ele torcia para que fosse ela. Quando visitava Helena, torcia para esbarrar com ela. Quando o natal chegou, torceu para que ela aceitasse o convite da mãe dele para almoçar em sua casa. Ele ainda tinha esperança, por mais que soubesse que ela não voltaria atrás.

Utilizava as redes sociais de trabalho para poder ver o que se passava na vida dela, mas era até doloroso demais ver ela curtindo com os amigos no litoral do Espírito Santo, inclusive junto com o tal Josh que aparecia de relance em alguns stories.

Ele se olhava no espelho e não se reconhecia. Nunca foi de sofrer por ninguém, sempre seguiu em frente. Nos Estados Unidos, ele ignorava totalmente a existência dela, mesmo com o coração partido, tentava focar em outras coisas que não fossem ela. Mas depois daquele reencontro, depois daquela noite inesquecível, ele simplesmente não conseguia desapegar. O Felipe Prior, cachorrão da Zona Norte, estava morto por dentro.

Passou a virada do ano rodeado por amigos e amigas. Amigas que já beijou em algum momento da vida, inclusive. Curtiu bastante, mas ainda assim se sentia incompleto. Rodeado de gente, se sentia solitário. Era como se parte dele não estivesse mais ali.

Mas, graças aos céus, estava na hora de voltar para os Estados Unidos e talvez fosse o momento de reiniciar sua vida, ignorando completamente a existência dela novamente.

Quando arrumou sua mala, ele quis levar apenas o necessário, deixando pra trás o que não fosse útil para seu recomeço. Combinou com Fábio que visitaria sua família e, de lá, ganharia uma carona do irmão até o aeroporto.

Era difícil ir embora, mesmo que sua intenção inicial fosse apenas ficar pouco tempo lá fora, mas agora que tudo parecia tão estranho na cinzenta São Paulo, ele já não tinha certeza se queria voltar tão cedo ao Brasil.

Segurou a pequena Helena em seu colo que agora não chorava tanto, pelo contrário, ela adorava o colo do tio-padrinho. Se despediu da comida maravilhosa de sua mãe, deu um grande abraço em seu pai e Celly e seguiu com Fábio para o aeroporto.

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