Padecer

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Naquela manhã o dia não parecia dia e essa impressão não se dava apenas pelas cortinas fechadas conservando a escuridão no quarto. Na verdade, Jimin não saberia declarar se havia mesmo sequer aberto os olhos. Sentia-se mórbido como se estivesse ainda preso num pesadelo onde já tivesse desistido de lutar contra e apenas se atado a observar as cenas se passando diante dos seus olhos.

Desta forma, por longas horas se manteve quieto encarando o nada na mesma posição, mesmo que seu ombro doesse e seu braço já estivesse formigando. Numa observação geral, Jimin sentia todo seu corpo adormecido e se lhe perguntassem o que exatamente estava pensando ele também não saberia responder.

E mesmo que os travesseiros e lençol macio de Yoongi acolhessem bem seu corpo gélido num nervoso que o acompanhava através de um frio na barriga, não afastavam a sensação incômoda de deslocamento; como se simplesmente não pertencesse àquele lugar tal como a nenhum outro.

O ocorrido da noite anterior jamais abandonava sua mente mesmo que tentasse, mas apesar de saber o que aconteceu, não sabia como e nem o porquê. E talvez fosse isso que mais lhe doesse.

Sabia apenas que sentia o peito pesado em uma angústia que ia se contagiando por todo o corpo até que sua respiração também se tornasse dificultosa; apesar da pele fria em igual temperatura do suor que escorria, sentia seu corpo quente arder tal como os olhos inchados que já não tinham mais lágrimas a liberar.

Era frustrante a percepção de todo seu esforço parecendo ter sido em vão ou simplesmente não ter sido o suficiente; era inevitável se culpar de uma maneira ou de outra. Quer dizer, da mesma forma que uma relação necessita do esforço de duas partes para dar certo, quando dá errado o peso deve pender para ambos os lados também.

Pensou então se Taemin estava sentindo o mesmo peso no peito que ele estava sentindo agora quando de repente já não foi mais capaz de continuar contendo o choro mesmo que de última hora tivesse tentado contê-lo ao morder o lábio com tamanha força. Mesmo agora acordado parecia que o pesadelo jamais acabava quando conseguia assistir diante de si, sua mente refletia a mesma cena da noite anterior. E quando tentou fugir fechando os olhos com força suficiente para expulsar mais das lágrimas acumuladas, enxergou os momentos em que encontrava o marido ao seu lado sempre que abria os olhos pela manhã.

Enxergava os beijos, os carinhos, os toques... E agora sentia na barriga um frio tão forte que o deixava enjoado a se contorcer na cama numa agonia intensificada pelos arrepios incômodos ao reprisar as mãos do Lee passeando tão possessivas pelo corpo de uma outra pessoa. Pensou então em quantas vezes não se vislumbrou com os toques e sorrisos do marido logo após este manchar-se da pele de um outro alguém que não era ele.

Enquanto agarrava forte o travesseiro numa fuga desesperada de toda aquela angústia, sua mente reproduzia os momentos de quando era o cabelo do Lee a ser tão possessivamente agarrado por suas mãos apressadas. E o choro que prendia ainda na garganta eram camuflados como ganidos abafados, dando a Jimin a ligeira lembrança de seus gemidos contidos pelos beijos afoitos que dividiam em toda uma ansiosa necessidade de um pelo outro. As lembranças boas rapidamente se fundindo às ruins resultando em pontadas fortes diretamente no peito já dolorido do rapaz que encharcava o travesseiro com toda a dor de uma mente confusa entre tentar entender e tentar esquecer.

Por quanto tempo estava sendo enganado? E quando foi a primeira vez que o amor do marido parou de ser somente seu? Quando foi que tornou-se tão vago ao ponto do marido ver necessidade de procurar preenchimento em um outro alguém?

Seja lá o que tivesse feito para merecer aquilo, Jimin gostaria de dizer que sentia muito.

Mas sentia muito por si mesmo.

Sofisma || YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora