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Lizzy

O jantar com o senhor Nicholson seguiu silencioso. Ele não falava muito -Logo notei. Tentei puxar alguma conversa, mas não vingou. Ele também não olhava no meu rosto, tampouco nos olhos. Talvez fosse tímido. Isso não importava muito. Nós tínhamos um acordo, afinal. Ele e eu iríamos casar.

Quando nos despedimos no restaurante, ele parecia, no mínimo satisfeito. Foi educado e pediu um táxi que me deixou em casa. A ideia ainda não parecia clara suficiente. Entrei no pequeno apartamento em cima da cafeteria, em silêncio.

A casa estava escura. Minha avó estava deitada. Tirei os saltos e me joguei na cama.

-Como foi? -Rebeca pergunta sonolenta.

-Eu vou casar. -Murmuro. Porque era a única coisa que meu cérebro havia conseguido processar.

Caramba, eu vou casar com um estranho!

Rebeca ainda fez outras perguntas. Muitas perguntas. E eu fiquei muda em resposta a todas elas. Até ela desistir e dormir. Então o silêncio tomou conta do quarto. No entanto, meus pensamentos não me deixaram dormir.

Eu vou me casar, caramba!

***

-Mesa sete, café descafeinado e um capuchinho. -Avisei enquanto Rebeca já saía com o pedido, indo entregá-lo.

Desde cedo o café estava lotado. Muito lotado, por sinal. Eu tive que repor as tortas duas vezes. Eu não consegui dormir à noite, o que me rendeu muito tempo de madrugada para cozinhar. Enquanto eu amassava e esticava as massas, a visão do senhor Nicholson -meu futuro marido -veio à minha mente em vários momentos. Ele não sorria, mas era educado e sereno. Não me olhou com aqueles olhos famintos que todos tinham, mas me viu como se fosse uma mulher. Às vezes isso é tudo que queremos. Talvez ele fosse tímido. Ou gay. Não seria o primeiro que eu encontrava, já que muitas vezes tive que sair com clientes assim para manter as aparências para suas famílias. Hum... Talvez seja isso. Ele tenha que casar, porém com uma mulher. Nossa... isso explicava tanta coisa.

-Lizzy! -Minha avó me chamava. -Está me ouvindo?

-O-oi. -Volto à realidade. -O que foi?

-Você parece que está em outro mundo. -Ela reclama. -Melhor você ir ajudar Rebeca no salão e eu fico tomando conta dos pedidos. -Diz, vindo para trás do balcão e me expulsando para fora.

-Mas você não pode fazer esforço. -Protesto.

-Faço café desde que me entendo por gente. E estamos muito lotados. -Ela contesta. -Melhor pra você sair do mundo da lua e ir se concentrar no trabalho. Não vou morrer se esquentar um pouco de água e moer alguns grãos de café.

-Hum... -Digo, enquanto levo outra bandeja até a mesa. O casal de clientes sorri. -Bom apetite. -Digo, enquanto eles sorriem e encaram as tortas.

Olhei para Rebeca que parecia atarefada demais correndo de um lado para o outro com as bandejas. Conheço-a desde que éramos meninas. Ela que foi comigo no enterro dos meus pais, e no do meu avô. Ela que me ajudou quando descobri o câncer da minha avó e ela se ofereceu para trabalhar e me dar apoio no café.

Corri para pegar as xícaras e equilibrar na minha bandeja.

-Obrigada. -Ela murmura. -Não sei como você consegue equilibrar tudo.

-Prática. Muitos anos de prática. -Respondo, sorrindo.

Pego mais algumas xícaras e com o pano que estava no bolso de trás do meu jeans, passo na mesa, deixando-a limpa para novos clientes.

Precisa-se de uma esposaOnde histórias criam vida. Descubra agora