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Liam

Meu pai faleceu há seis meses atrás. Não foi uma coisa fácil de aceitar, mas pela ordem natural da vida, aconteceria.

Eu amava meu pai. Ele era o homem mais respeitável, justo e inteligente que eu conheci. E -além de tudo -me ajudou a superar muitas das minhas limitações durante minha vida, seja infantil ou adulta. 

Durante todos esses seis meses que transcorreram, eu percebi que minha mãe havia ficado abalada demais para a leitura do testamento.

O testamento era o de menos nesse momento e eu sabia.

No entanto, percebi que minha mãe parecia que havia perdido sua parte mais importante -meu pai. Era óbvio para mim que eles se amavam profundamente, embora eu ainda não pudesse entender bem isso de sentimentos -o que ainda não entendo -, eu respeitava. E em forma de respeito, eu, como filho mais velho, decidi que a leitura poderia esperar um pouco. O tempo que fosse preciso para que ela se recuperar.

Ela se recuperou e, exatamente, hoje ocorreria a leitura do testamento.

Eu estava sentado, quieto -como sempre ficava. Estava vestido com um terno azul-marinho, um dos que costumo usar no trabalho. 

Era feito sob medida, não por extravagância. 

Eu, sinceramente, odiava algo que não se encaixava. Não gostava de nada folgado demais, ou apertado demais. Tinha que ser justo! Sem fios soltos ou sobras. 

O terno era azul-marinho e combinava bem com a gravata preta, sobre a blusa branca. Odiava estampas, detestava cores extravagantes. 

As roupas -e coisas no geral -deveriam ser harmônicas.

O barulho do relógio me incomodava e eu tentava me distrair enquanto olhava minha mãe ao meu lado, sorrindo para mim. Ela não precisava me tocar ou segurar minha mão. Ela sabia que toques não eram meu forte, e que tampouco eu sabia demonstrar emoções. Eu era um fracasso total nesse quesito -o emocional. Justo agora que deveria estar, no mínimo, ansioso para a leitura do testamento -as outras pessoas com certeza ficariam- eu apenas estava... normal. Tentando ignorar o barulho de tic-tac do relógio.

O advogado do meu pai, acabara por chegar. Entrara com sua maleta de couro preta, a qual depositou na mesa.

-Perdão o atraso.  -Ele pede, ao se sentar.

-Sem problemas. -Minha mãe responde com um sorriso.

Minha mãe usava um vestido vinho com um sobretudo de pelos branco. Seu cabelo estava preso em um coque e usava um brinco de pérolas que combinava com o colar -também de pérolas.

-Estamos prontos. -Minha irmã mais nova(e única), Loren, disse.

Loren era três anos mais nova que eu. Possuía a pele bronzeada -algo característico na nossa família. Seus olhos eram de um castanho mel, que quando o sol iluminava, fazia adquirir um tom dourado, também iguais aos meus. E, ao contrário dos meus cabelos negros, possuía cabelos dourados. Era linda.

O advogado novamente teve a minha atenção quando limpou a garganta, já com o documento em mãos. O homem começou a leitura e eu, claro, me atentei a cada uma de suas palavras, me atentando também às pausas causadas pela pontuação adequada.

-"... e para minha filha, Loren Nicholson, deixo a casa de praia e uma quantia pré-determinada. Para meu filho, Liam Nicholson, deixo a segunda mansão da cidade e igualmente será enviado uma quantia pré-determinada. Sei que meus filhos não necessitam que lhes dê nada, tendo em vista que souberam fazer seus investimentos e seguiram seus caminhos" -O advogado lia.

Precisa-se de uma esposaOnde histórias criam vida. Descubra agora