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Lua 🌙

Dia 24 de dezembro de 2020, o melhor dia da minha vida e o dia em que descobri que estava entrando no segundo mês da gestação. No começo eu não conseguia ter uma reação, não conseguia nem falar direito sobre, mas com o tempo me acostumei com a ideia de ser mãe, e carregar a criança por 9 meses na barriga. Além de que, quando o bebê nascer, eu vou ter que arrumar o juízo que ainda não tinha. Só espero que não venha com a cara do Unsel.

Como nada na vida são flores, faz mais ou menos um mês e algumas semanas que não recebo notícias do Unsel ou do William. Confesso que toda vez que lembro disso, eu fico nervosa, preocupada. Eu queria ele do meu lado quando descobrisse da gravidez. Com tudo isso acontecendo, Gaby e Raíssa acharam melhor a gente ficar no Brasil até eles entrarem em contato com a gente. Até a Gaby estava preocupada e não parava de falar sobre o William, como ele estaria, se estava com outra e por isso não ligava. Eu só sabia rir, mas lá no fundo alguma coisa me dizia que algo estava errado.

Flashback on. 24 de dezembro de 2020.

Lua

Grávida. Eu estava grávida. Depois das meninas terem me mostrado o resultado, eu fiquei ali parada pensando no momento que eu e o Unsel nos descuidamos. Eu estava grávida de um filho dele. Pelo amor de Deus! Minha mãe vai me matar!

Sentei na cama e fiquei pensando que agora em diante tudo iria mudar, nossas vidas iriam virar de ponta a cabeça. Eu não sei como vou contar pro Unsel, não sei se ele vai aceitar isso, não sei como vou ser mãe. Meu Deus! Eu vou ser uma boa mãe? São tantas coisas pra pensar agora que minha cabeça não funciona.

Falo para as meninas que está tudo bem e que podiam ir para seus quartos que eu ficaria bem. Mas quem eu queria enganar? Estava mais desesperada que nunca e só queria o colo da minha mãe agora.

Deito na cama e choro, porque é só isso que eu posso fazer agora. Olho o teste de gravidez novamente e pisco várias vezes. Eu me descuidei, nós nos descuidamos, mas amor é o que não vai faltar pra essa criança e disso eu tenho certeza.

Levanto minha blusa e passo a mão na minha barriga dando um sorriso.

— Ei, meu bebê — falo com a barriga e continuo a fazer o carinho.

Flashback off.

Depois de alguns dias sem notícias do Unsel e do William, decido voltar para a casa onde eu cresci e onde sabia que teria todo apoio e amor do mundo. Meus pais já sabiam que eu estava no Brasil e até já tinha almoçado com eles algumas vezes, mas ainda não estava pronta para voltar para a casa deles e pior de tudo contar sobre a gravidez.

Antes de contar da gravidez para os meus pais, que acreditam que eu estou apenas de férias e voltaria a Dubai em algumas semanas, tentei contatar o Unsel e o William de todas as maneiras. Eu sentia que algo estava errado, mas também sentia a insegurança de que ele poderia ter me abandonado.

Procurei em todos os sites e jornais internacionais por noticias, mas nada havia sido divulgado. A única pessoa que conhecia em Dubai era a Samira e ela também não atendia ao celular e nem respondia aos emails que eu enviava, pedindo para ela me ligar. Tinha até colocado em um dos emails, o endereço dos meus pais, para caso ela acessasse os emails lá no meio do nada e por alguma razão quisesse me escrever. Minha amiga era uma mulher que gostava de escrever cartas e eu era uma mulher desesperada por noticias.

Antes de virmos para o Brasil ela havia viajado para alguma cidade no meio do deserto ficar um pouco com uma tia distante. Tínhamos apoiado a decisão, pois ela havia acabado de descobrir a gravidez e estava querendo distância do monstro do marido dela. O Unsel e o William, haviam garantido que ela estava segura, mas ela queria passar um tempo longe então apenas apoiamos a decisão dela.

A falta de noticias estava me matando. Quando vi que não havia mais o que inventar para os meus pais e que o meu namorado - que eles falavam que era imaginário - não voltava para me buscar, me abri com os dois. Em meio as lágrimas por ter me tornado uma bomba hormonal, contei que o homem da minha vida, tinha uma profissão perigosa e que aos olhos deles ele poderia ser um bandido, mas era o amor da minha vida e que um pedaço dele crescia dentro de mim.

— Eu não consigo nem olhar para a sua cara, Lua!— Meu pai levanta do sofá e anda em direção a porta.— Você sempre soube o quanto odiamos mentiras nessa casa. — Fala ainda de costas com a mão na maçaneta. — Você e seu filho ficam aqui, mas não espere que eu vá ficar feliz se você voltar para aquela vida. — Ele saí e ainda escuto ele resmungando baixo algo sobre,"se aquele filho da puta voltar."

As palavras do meu pai são duras, e só percebo que estou tremendo de tanto chorar, quando sinto minha mãe me abraçar forte e chorar junto comigo.

— Nós te amamos, filha. — Ela diz entre as lágrimas — Só queremos o melhor para você, sempre!

Após uma semana de silêncio do meu pai, ele junto com a minha mãe me levam para a minha primeira consulta médica e se apaixonam pelo meu bebê, assim que escutam o coraçãozinho dele batendo. Devido a todo estresse e ansiedade que venho passando no último mês, minha pressão está completamente descontrolada e o médico me proíbe de viajar.

Meus pais haviam finalmente concordado a me emprestar dinheiro para comprar uma passagem para Dubai e contar ao Unsel sobre a gravidez. Ele merecia saber sobre o bebê e daríamos um jeito para termos uma vida tranquila.

Fiquei tão desnorteada com a noticia, que liguei para as meninas assim que saímos do consultório médico e elas vieram correndo para a casa dos meus pais ficar comigo. Era uma emergência e em casos de emergências, precisávamos de comida e filmes ruins.

— Não tem problema, nós vamos e descobrimos o que está acontecendo lá. — A Gaby fala e a Rai concorda com a cabeça enquanto mastiga a segunda coxinha em menos de três minutos.

Quando liguei para ela, a doida estava trabalhando com a tia, uma salgadeira famosinha aqui no Rio. Acho que ela trouxe o estoque de salgados inteiro da mulher, porque chegou aqui com uma caixa gigantesca de isopor com uns cinquenta salgados diferentes.

— Eu sinto que tem algo muito errado. — Falo enquanto mastigo um kibe calmamente. A gravidez estava me destruindo de tanta azia, então eu comia bem devagar, porque na minha cabeça fazia alguma diferença. — O Unsel não me abandonaria, eu sinto que não... — Paro de falar, porque sinto que vou chorar se continuar falando e me levanto para pegar um copo de água quando escuto a campainha tocar.

— FILHAAAAAA! TEM UMA MULHER FALANDO EMBOLADO AQUI NA PORTA E SÓ ENTENDI SEU NOME. — Minha mãe fala no idioma dela o "gritando", largo o meu copo na pia e vou em direção a porta.

Poderia imaginar, uma infinidade de pessoas que poderiam ser a tal da visita que deve ter ficado surda com os berros da minha mãe, mas ali parada na entrada da minha casa estava a possível resposta de todas as minhas dúvidas recentes. E saber que ela havia atravessado o Atlântico sozinha para me ver, significava algo muito ruim.

Meu coração estava acelerado, sentia o suor escorrendo pela minha nuca enquanto me aproximava dela e assim que parei em frente e olhei seus olhos vermelhos e ela olhou nos meus, tudo ficou escuro e meu corpo só não atingiu o chão porque alguém me segurou.

Assim que abri os olhos, percebi que estava no sofá com a cabeça apoiada nas pernas da Raissa, que agora estava segurando uma taça de sorvete.

— Toma, engole que você vai se sentir melhor! — Falou enfiando a colher na minha boca, sem nem me dar tempo para pensar — Sorvete melhora tudo! —Outra colher.

— O que aconteceu? — Perguntei meio confusa e dei uma risadinha lembrando que devo ter ficado louca se vi o que realmente eu vi antes de desmaiar.

— Eu aconteci, Lua. — Virei a minha cabeça em direção a voz . — Vim, porque precisamos conversar. Como sua amiga, te amo e te devo muito. Não poderia te contar isso por telefone ou email, então quando você me enviou aquele email informando da sua gravidez soube que precisava vir.

— Ele está vivo, Samira? — E por alguma razão o que vi nos olhos dela quando eu fiz a pergunta, me fez desmaiar novamente.

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