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Lua 🌙

Depois de ouvir tudo o que o imundo do Jimmy fez com a Samira, a minha vontade era arrastar ele até o quarto do Blanco e deixar ele virar comida de tigre, mas o Unsel não deixou alegando que daria azia no bebê dele e que não ia servir comida estragada para o "garotão do papai".

Tigre imundo, era mais mimado do que eu!

Eu não queria deixar a Samira ir embora, eu queria manter ela do meu lado por uns dias, ainda mais agora sabendo tudo o que aquele árabe dos infernos fazia com minha menina. Ela insistiu que ia pra casa porque queria ficar sozinha, mesmo eu batendo o pé, ela foi pra casa dela.

Depois que a gente deixou as meninas comendo no quarto, eu e o Unsel descemos pra sala para chamar a Samira e contar tudo, e agora estamos os dois na sala parados igual dois bocós sem saber o que fazer ou pensar.

— Temos que voltar lá pra cima e descobrir quem são elas — Quebrei o silêncio o encarando e ele assentiu pedindo para eu ir na frente. Suspirei. Eu não levava jeito com criança, mas eu ia tentar o meu máximo para ajudar essas meninas — Antes eu vou na cozinha pegar uma sobremesa pra elas.

Andei até a cozinha e separei outra bandeja pegando uns docinhos, sorvete, balinhas de goma e bolo de chocolate com bastante cobertura.

— Voltei... — Assim que eu entrei no quarto elas se cobriram com o edredom e isso cortou meu coração. Andei até a mesinha que ficava no canto do quarto e comecei a arrumar a mesa enquanto falava — Poxa, trouxe várias besteiras pra gente. Pensei que vocês poderiam me ajudar a comer.— Baixei o tom de voz e tentei lembrar de como a Gabs e a Raí falavam com crianças, elas sim tinham jeito para essa coisa — Minha mãe fala que é pecado desperdiçar comida.

— Minha mãe diz a mesma coisa! — Uma delas falou saindo debaixo do edredom e vindo em direção a mesa. Eu assustei porque pensei que elas não iriam falar comigo nunca. Pelo menos uma delas falou.

— Sua mãe sabe das coisas então! — Apontei para a cadeira na minha frente — Pode sentar, não vou machucar vocês. Na verdade eu quero ajudar vocês.

— Você promete? — A menininha com um olhar triste falou saindo do edredom e vindo na nossa direção.

Elas eram idênticas e ao mesmo tempo era visível a diferença. Uma parecia falante e totalmente ativa e a outra parecia mais calada e levava um olhar mais triste. Deveria ser proíbido uma criança carregar um olhar de tristeza e medo daqueles.

— Eu prometo.— Estendi a mão para a menininha de olhar triste que ainda estava em pé ao meu lado — Sou Lua Montanari e enquanto vocês estiverem na minha casa ninguém vai machucar vocês! — Falei "minha casa" com tanta ênfase que até eu acreditei. Mas ninguém tocaria naquelas crianças e isso era uma promessa.

— Sou Ana Laura, tia — Apontou para a irmã que era só a cobertura de brigadeiro do bolo de chocolate na cara — Ela é a Clarinha, minha irmã gêmea.

— Jura? — Falei sussurrando — Vocês não são nada parecidas.

— Eu te disse, Laurinha! — A Clarinha, que parecia uma versão em miniatura da Raíssa falou e começou a enfiar uma quantidade absurda de jujubas na boca.— A mamãe e o papai disseram que somos iguais mas diferentes e por isso o papai deu essas correntinhas para a gente.— Ela me mostrou uma correntinha de prata com um pingente de um trevo de quatro folhas e com uma pedra pequena vermelha em uma das folhas — Somos a sorte dele.

— Que lindo isso — comecei a comer e a Laura sentou ao meu lado.— Vocês podem me falar qual é o nome do papai e da mamãe de vocês?

— Você vai contar para os homens maldosos e eles vão machucar meu papai, não vou contar não.— A Clarinha falou nervosa e eu vi que elas ainda estavam assustadas. Não queria nem imaginar o que essas crianças haviam passado.

Ia ser mais difícil do que eu pensava. Respirei cansada e fiquei pensando um pouco, até que eu tive uma ideia.

— Meninas? — Elas pararam de comer o bolo e olharam pra frente com os olhos cheio de curiosidade — vocês já viram um tigre de perto?

— Um tigre tia? — Clarinha perguntou com os olhos arregalados — Igual o da era do gelo?

— Sim meu amor, só que ele é branco — Falei sorrindo com a carinha que ela fez.

Ana Laura que era mais calada me fitou e abriu um pequeno sorriso, o que me fez morrer de amores por ela. Eu estava começando a achar legal essa ideia de “cuidar” da Clarinha e da Laura.

— Mas ele não morde? — Mais uma vez, clarinha perguntou assustada.

— Sim — Respondi sincera — A tia também morre de medo, mas quando o tio Unsel tá lá o Blanco fica quietinho.

Quando chegamos ao quarto daquele dinossauro branco que atendia pela alcunha de Blanco, o Unsel já estava lá brincando com ele.

— Ali crianças, viu ele é mansinho quando o tio Unsel tá perto.— Senti quando a Laurinha e a Clarinha apertaram as minhas mãos — Não precisam ter medo, ninguém aqui vai machucar vocês!

O Unsel deixou o Blanco com o cuidador e veio na nossa direção, eu não entendi o que estava acontecendo mas alguma coisa havia chamado a atenção dele.

— Tá tudo bem? — Perguntei e ele sacudiu a cabeça concordando, mas não acreditei pois ele não parava de olhar para o pescoço das crianças.

— Ele parece o tio Grego — A Clarinha falou para a Laura e eu já fiquei de orelha em pé, qualquer informação já era uma ajuda.— Você não conhece ele, mamãe falou que é o chefe do papai.

— Meninas, que pingente bonito. — O Unsel falou se ajoelhando em um português deplorável e me segurei para não rir, mas as crianças começaram a rir e não responderam.— Olha, Lua acho que vou comprar um igual para você.— Ele tentou outra aproximação, mas elas deixaram ele falando sozinho e foram para perto do cuidador do Blanco.

Com as crianças afastadas e admirando o Blanco, ele começou a me explicar o motivo do colar ter chamado a atenção.

— Ele parece esse colar que eu te dei, você nunca reparou na pedrinha dentro do diamante?

Na mesma hora tirei o cordão do pescoço e vi que realmente tinha uma pedrinha minúscula vermelha atrás do pingente e que o diamante em forma  de lua ofuscava.

— Elas me contaram que o pai delas que deu. Que porra é essa Unsel? — Perguntei nervosa desconfiando da resposta e puta para um caralho, já.

— Um rastreador — O imundo falou e meu sangue ferveu.

— Meninas, vamos com a tia para bem longe do tio Unsel que tem uma cabeça de mamão e acabou de me irritar profundamente. — Dei uma mão para cada uma e saí dali com o Unsel vindo atrás de mim xingando em árabe e me chamando de cabeça dura em todas as línguas que eu entendia.

— Você não facilita mesmo, não é mulher? — Falou irritado e eu dei de ombros enquanto arrastava as crianças pela casa.

— Você estava me rastreando esse tempo todo sem o meu consentimento, seu filho da puta!

— Linguagem, mulher! — Disse entre os dentes — Temos crianças no recinto.

— Não posso te xingar em português seu embuste, mas posso em todas as outras linguas que sei falar e as que eu desconheço, onde já se viu, me rastrear? — Foi só então que eu parei e me liguei no que estava acontecendo. Parei de andar e me abaixei para ficar na altura das meninas.— Acho que podemos achar seus papais com a ajuda desses colares, vocês poderiam emprestar para os tios?

Elas soltaram as minhas mãos e foram conversar mais a frente e nesse momento o Unsel me abraçou por trás. — Não fica chateada comigo, amor — Deu um beijo no meu pescoço— É tudo para sua proteção.

— Isso não vai ficar assim, seu árabe manipulador. — Me virei para ele — Ainda não acabei de te xingar seu filho de uma puta manca! — Me afastei e saí andando.

— Minha mãe não era puta — Falou alto e eu olhei para trás assustada.

— Ela era manca? — Ele ia responder, mas as crianças chegaram na hora me entregando as suas correntinhas.

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