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Lua 🌙

A presença da Samira significava que algo estava muito errado. Ela já havia me contado que tinha pavor de andar de avião e com a barriga que já estava em evidência, aposto que esse medo estava multiplicado agora.

— Lua, eu juro que não queria te assustar. — falou com aquele tom de voz suave tão característico dela. — Como você sabe eu estava na casa dos meus tios e recebi a poucos dias a visita de um advogado. Encontraram o corpo do meu marido e mais restos mortais de dois homens na casa do Unsel. O Jimmy foi identificado e aquela messalina que tinha um caso com ele também.

— Não pode ser, Sami. Me diz que não é meu Unsel. — Só percebi que estava tremendo quando a Raíssa veio da cozinha com dois copos de água com açúcar em cada mão e deu um gole em cada um antes de me entregar um e o outro para a Gaby que estava sentada ao meu lado, já soluçando e murmurando "Will".

— Antes de vir para cá, procurei a polícia que informou que os corpos estão totalmente carbonizados e que eles não tem material do Unsel ou só Will para comprar o DNA.

— Eu tô grávida... — sussurrei e acariciei a minha barriga.— Ele não podia ter feito isso comigo, ele prometeu não me abandonar...— Meu corpo voltou a tremer enquanto as lágrimas jorravam sem piedade dos meus olhos.— Ele prometeu...

A Samira que já estava com uma cara péssima, depois que ouviu sobre a gravidez não parava de olhar para a minha barriga com um olhar ainda mais triste.

— Vamos passar por isso juntas, amiga.— Segurou a minha mão e a da Gaby — Todas nós perdemos muito nesse incêndio.

Enquanto a Samira nos atualizava sobre o que ela sabia sobre o incêndio, meu ódio por aquele marido filho da puta dela só aumentava.

Ao que parece o Unsel teve que voltar para resolver alguma chantagem que o Jimmy junto com a Aisha estava fazendo. Aquela vaca das arábias tinha provas dos negócios nada limpos do Unsel e estava ameaçando entregar para a polícia se ele não se casasse com ela e passasse tudo para o nome daquela rapariga de cabaré falido.

O Will manteve o Jimmy preso esperando nossa volta e saber se o Unsel o entregaria para a polícia ou resolveria com as próprias mãos, quando a Aisha de alguma forma conseguiu entrar no lugar e fotografar todo o galpão e começou enviar fotos para o Will e o Unsel.

— Como você ficou sabendo disso tudo? — Perguntei, afinal mortos não falam e nossos homens haviam virado churrasquinho. — Fizeram churrasquinho do meu Unsel... — E voltei a chorar. Malditos hormônios!

— O pai da Aisha confessou que a filha contou tudo e estava descontrolada. Mas parece que ela ficou ainda mais fora de si quando soube que o Jimmy estava detido.— A Samira contava e também limpava as lágrimas.

Eu queria ser empática com a dor dela, afinal ela amava aquele rato. Mas só conseguia sentir ódio por aquele filho da puta que eu esperava estar queimando no mármore quente do inferno.

A Sami começou a falar que o pai da Aisha estava arrasado e contou tudo para a polícia, incluindo a minha situação. Eu não poderia voltar a Dubai por suspeita de associação aos crimes do Unsel.

— E eles tem certeza de que os corpos são do Will e do meu Unsel? — Meu filho é do Unsel, eu tinha material genético crescendo no meu ventre para confirmar se aquele corpo era do meu amor.

— Você não pode votar lá, Lua! — A minha mãe que até então eu não sabia que estava entendendo a conversa, nos interrompeu.— Você sabe como são as leis desses países, vai ser presa e ainda pode ser morta. Você tem que pensar nessa vida aí dentro. — Apontou para a minha barriga.

— Desde quando você fala inglês, mãe? — Minha mãe era uma imunda, ficou ali ouvindo tudo e eu crente que não estava entendendo nada.

— Jura que de tudo o que eu falei, você se atentou apenas a isso? — Arqueou as sobrancelhas e colocou as mãos na cintura — Você não vai para caralho de país nenhum, atrás de restos mortais torrados de macho nenhum. Você me ouviu Lua? — Ela já estava gesticulando freneticamente, quando a Rai aproveitou que a mão dela estava para cima e encaixou um copo de água com açúcar.

— Bebe aí, tia — Falou e ficou esperando minha mãe dar um gole.— Arrasou toda trabalhada no inglês, agora pode gritar com a gente em duas línguas diferentes.

Eu só vi a veia do pescoço da minha mãe começar a pulsar. A Raíssa não tinha medo de morrer e eu admirava isso.

— Estava aqui pensando, tenho medo de a minha situação ficar complicada se eu voltar para os Emirados.— A Samira começou a falar baixinho e me aproximei ainda mais dela no sofá. — Eu não tenho mais ninguém próximo e não quero voltar para casa dos meus tios, eu poderia ficar por aqui um tempo?

— Você é muito bem vinda aqui, minha filha. — Mamãe falou e já foi abraçando a Sami. Eu fiquei lá meio chocada, já que ela falou em um inglês perfeito, porque ainda não sabia quando foi que ela começou a falar. Minha mãe era a rainha do embromation no karaokê. Passei minha vida ouvindo ela destruir o inglês nas músicas, tudo havia sido uma mentira.

A Sami foi confortavelmente instalada no quarto de hóspedes, que nada mais era a sala de costura da minha mãe. Ela nos contou sobre a pequena fortuna que herdou e que a manteria em segurança por muitos anos.

Por causa da viagem a Samira se retirou para dormir e eu fui ficar com a Gaby que estava inconsolável. Eu sabia o que ela estava sentindo, afinal também havia sido a primeira vez em que eu entreguei meu coração a alguém. Nunca havíamos nos apaixonado e quando acontece, os nossos amores foram arrancados da gente.

Enquanto chorava abraçada a minha amiga pelas nossas perdas, eu prometia mentalmente ao meu bebê, que tudo ficaria bem.

Emirados Árabe - Dubai Onde histórias criam vida. Descubra agora