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Despertei novamente no mesmo local em que havia visto Toshinori, olhei ao redor da cabana e percebi estar no clã Vulpe; a decoração minimalista e a estrutura semelhante à uma oca me fizeram ter a certeza de estar entre as raposas. Levantei o tronco devagar e testei o movimento do pescoço, não estava mais tonto, então decidi levantar e procurar por alguém. Ao ficar em pé, me senti estranho, como se meu corpo fosse mais leve e meus ouvidos estivessem tampados, então lembrei do ocorrido. Procurei pela marca da maldição, mas não havia mais nada lá além da minha pele cheia de cicatrizes antigas. Inspirei com força tentando captar algum cheiro, mas não senti nada, estalei os dedos em cada orelha para testar minha audição e... não senti a dor fina de sempre.

Aquela cópia estava certa, meu lado lobo tinha morrido junto com ele, eu não era mais parte do clã, eu não poderia mais ser o chefe, não poderia mais caçar ou correr sentindo o vento sendo cortado pelo meu corpo... Caí sentado de volta na cama, eu era um humano, um antigo alfa verdadeiro tornou-se um simples humano incapaz de salvar... KATSUKI!

O nome dele gritou em minha mente e saltei da cama num impulso, saí da cabana em que estava e me deparei com um escolta numerosa de guerreiros, estavam me vigiando? Procurei algum conhecido nos rostos que me encaravam atentos a qualquer movimento meu, acabei prestando mais atenção ao meu entorno, várias casas destruídas, algumas árvores caídas e alguns guerreiros continham curativos. Percebi que farejavam o ar e trocaram o olhar de concentração por incerteza; as armas foram abaixadas e todos pareceram curiosos com algo.

- Deku? – Ouvi a voz inconfundível de Ura e sua silhueta surgiu entre a multidão. – É você mesmo?

O braço que eu havia machucado estava enfaixado e preso numa tipoia, revezei o olhar entre os guerreiros, seu braço ferido e sua expressão confusa.

- O que aconteceu com você? – Ela inclinou o corpo um pouco para a frente e fungou o ar. – Não sinto seu lobo.

- Jovem Midoriya? – O corpo forte e grande de Toshinori surgiu em meu campo de visão. – Não deveria ter saído da cama, ainda está muito recente.

Ouvi alguns rosnados quando ele falou, o clã ainda não o perdoara e duvidava de que um dia iriam. Se antes eu tinha alguma dúvida de que me tornara humano, aquela reação em massa confirmou tudo.

- Onde ele está? – Perguntei me referindo à Bakugo.

- Calma, os caçadores já não são mais uma ameaça, porém... – Yagi olhou para Uraraka apreensivo e ela retribuiu o olhar.

- Não conseguimos encontra-lo. – Ochaco falou e engoliu em seco.

- O quê?! – Minha mente gritava que era um engano, uma brincadeira de mau gosto. – Você disse que recebeu um sinal ou coisa parecida, que ele tinha enviado. – Dei alguns passos em direção ao loiro mais velho.

- Lofnianos agem de maneira... estranha. Não conseguimos rastreá-lo, os caçadores sumiram e não havia rastro algum que pudéssemos usar para encontra-lo. – Não, era mentira, Katsuki não poderia ter desaparecido tão subitamente.

- E ela? A caçadora? – Perguntei tendo que controlar minha voz para não gritar.

- Aquela responsável por esta tragédia está presa e mantida em observação. – Os guerreiros abriram passagem para que um homem usando máscara de raposa passasse.

Reconheci pela pintura corporal e pelos colares que aquele era o Kitsune, líder dos Vulpe; abaixei a cabeça em sinal de respeito e em reconhecimento de sua autoridade. Ouvi ordens serem proferidas em outra língua e a multidão dispersou, o líder apontou para a cabana que eu tinha acabado de sair e o seguimos para dentro. Ura e Toshinori pareciam à vontade perto do mascarado, mas eu não confiava em quem não podia ver o rosto.

- Parece que não se lembra mais de mim. – Ele retirou a máscara e revelou sua identidade; o cabelo preto arrepiado e sorriso irônico me pegaram de surpresa.

- Shindo? – A surpresa durou apenas alguns segundos. – Quando se tornou Kitsune?

- Já fazem alguns anos, raposas crescem rápido, Coelhinho. – Todo meu respeito caiu por terra ao escutar aquele apelido infame.

- Algumas coisas nunca mudam... mas chega de papo furado, como podemos encontrar Katsuki? – Já estava começando a me incomodar o quão tranquilos eles aparentavam estar.

- Só uma pessoa pode responder sua pergunta. – Shindo falou e me olhou seriamente. – Hela te aguarda na Caverna das Almas.

Esperei a interrupção por parte de Uraraka, mas ela apenas me lançou um olhar de compreensão, estranhei seu comportamento. Depois fomos levados para a Casa Central, onde me forneceram roupas novas e informações sobre o caminho que precisava fazer. Todos sabiam que ir até aquela parte da floresta era suicídio, os metamorfos que se recusaram à aceitar a graça de Hela viviam em suas formas animais e não possuíam raciocínio algum; um humano morreria em menos de 24h.

- Fornecerei cinco homens para acompanha-lo, mas terá que entrar na caverna sozinho. – Agradeci à Shindo, eu estaria eternamente em dívida com ele e com seu clã.

- Eu também vou. – Ura se manifestou pela primeira vez desde que começamos a reunião.

- Não. – Falei rapidamente. – Ainda está machucada e não posso te colocar em perigo de novo. – Ela iria protestar, mas foi interrompida.

- Eu o acompanharei e o protegerei com minha vida. – Fiquei paralisado com a fala de Yagi e arregalei os olhos com sua reverência.

Depois daquela cena totalmente desnecessária, decidimos partir antes do nascer do sol. Nos reunimos para uma despedida regada a comida, música e risadas. Mesmo em meio ao caos, os dois clãs conseguiram encontrar alegria, aquela noite estava agradável e com o céu limpo, as estrelas brilhavam sob nós como uma benção celestial. Olhei para as marcas em meu braço, aquela era a prova de que ele ainda estava vivo em algum lugar daquela floresta negra e eu iria encontra-lo, nem que tivesse que perder minha humanidade também.


Atrasada? Um pouco, mas tá aí kkkkkk Gente, vocês já ouviram falar em DR? Uma realidade alternativa que você entra durante o sono ou coisa parecida... Resondam aí e até semana que vem lobinhos 😘🐺

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