Fiquei sentado no sofá esperando Katsuki chegar em casa, eu sabia que ele iria me encher de perguntas e só de imaginar isso já ficava com raiva e nervoso. Mas eu também tinha meu interrogatório pronto na ponta da língua, ele que me devia uma explicação muito boa para aquela merda de marca. Se eu tivesse seguido meu plano desde o início, tudo estaria bem, eu não estaria aqui num sofá esperado o cara por quem me apaixonei chegar e começar uma DR; se eu tivesse me mudado quando tudo ficou complicado, não estaria nessa situação de merda; se eu não fosse amaldiçoado, estaria em casa, com meu clã; se... São muitos se's que eu poderia ter vivido, mas o destino é um filho da puta sádico. O barulho do elevador chegando no andar do apartamento denunciou a chegada dele, meus músculos ficaram tensos. Encarei a porta até escutar o barulho da fechadura sendo aberta, virei o rosto para a tv ligada num programa de vendas e fingi total interesse num anel cravejado de rubis e esmeraldas. Ri secamente percebendo o quanto o meu destino era realmente o mais sádico de todos, mas eu também era meio masoquista.
- Ei. - Ele chamou minha atenção. - A gente pode conversar? - A guarda dele estava tão baixa que senti um desejo imenso de levantar e beijá-lo lentamente até sentir seu corpo desmanchar em meus braços... Mas que porra? Foco, Deku! Foco!.
- Claro. - Abri espaço no sofá de dois lugares, ele sentou o mais afastado de mim possível. - O que você quer conversar?
- Tenho apenas duas perguntas pra fazer. - Com toda minha força de vontade, acenei para que continuasse. - Certo. Quem fez isso? - Ele colocou o dedo no meu pescoço, minha confusão devia estar muito estampada já que ele explicou o que estava vendo. - Você não tem uma marca no corpo dos últimos... acontecimentos, mas esse - Colocou o dedo de novo em meu pescocço - Não saiu. Então deve ser recente.
Puta que pariu, agora eu fodi tudo mesmo. Fiquei catatônico, lembrei do encontro com Todoroki mais cedo. Eu deveria ter verificado meu corpo antes de voltar para a aula, mas minha cabeça não estava muito boa. Aquela conversa era o menor dos meus problemas, um ciúmes era tudo o que eu menos precisava no momento. Virei para frente, na direção da tv agora mutada. Apoiei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto não mãos, soltei um gemido baixinho de cansaço. Esfreguei as têmporas e passei as mãos pelos cabelos, pensei por um tempo antes de falar alguma coisa. Dizer a verdade ou não? Na verdade, por quê eu deveria me dispor a essa situação? Eu conheço esse cara a quanto tempo mesmo? Um mês? Mas a sensação de ter que dar alguma satisfação me corroía, era como se eu precisasse falar cada detalhe do que eu fazia ou como fôra meu dia para ele. Era assim que as pessoas apaixonadas se sentiam? Isso é uma bela de uma grande bosta. Olhei Katsuki com antenção, aqueles olhos carmesim me tiravam a concentração, desviei o olhar para minhas mãos.
- Katsuki, no momento minha vida virou de cabeça pra baixo. Eu não posso te contar tudo, mas saiba que eu não pretendo ficar com outra pessoa, se é isso que te preocupa. - Fui o mais sincero-dentro-dos-limites que eu consegui. - Próxima pergunta, por favor.
- Que porra de tatuagem é essa? - Esse era o Bakugo que eu conhecia.
- Na verdade, eu também queria te fazer a mesma pergunta. - Agora ele me olhava confuso. - Eu que te pergunto, que porra de tatuagem é essa? - Estendi o braço marcado, deixando os traços pretos bem visíveis para ele.
- E como caralhos é que eu vou saber? - Ele disse com um leve tom de raiva na voz.
- Já que a marca de Lofn só pode ser colocada por seus descendentes. - Olhei a expressão confusa dele aumentar mais. - Então, Katsuki Bakugo, você tem algo a me dizer?
- Por acaso tá insinuando que eu sou um bicho como você? - Doeu, ser chamado de bicho por ele de alguma forma me magoou.
- Sério? Bicho? - Vi um lampejo de culpa cruzar seu rosto, mas foi rápido o suficiente para que ele ignorasse e assumisse a rotineira expressão de raiva. - A conversa foi boa, se realmente não sabe o que você é, pesquise. O bicho precisa se distrair.
Levantei do sofá e me tranquei no quarto, não podia me permitir esse tipo de distração. Calcei meus tênis e saí pela janela, aterrissando perfeitamente no chão. Coloquei o capuz do casaco e fui andando pelas sombras, ainda tinham muitas coisas para assimilar. Toshinori era meu avó, querendo ou não, era o único que poderia me ajudar. Minha transformação não estava certa, eu nunca tinha visto ninguém virar um lobo completo, e ainda essa merda de marca.
Caminhei por muito tempo, o sol já estava se pondo quando vi uma mulher passar por mim de forma suspeita. Ela cheirava estranho, acompanhei sua silhueta se distanciar e desaparecer num beco. Algo naquela mulher me incomodou, segui na mesma direção cautelosamente. Os pelos da minha nuca arrepiaram em aviso, algo estava errado. Me encostei na parede da entrada do beco e me esgueirei um pouco para poder ver lá dentro, a moça estava de costas conversando com alguém que eu não conseguia ver direito. Agucei a audição para ouvir a conversa.
- Mas eu não sei como fazer para me aproximar dele. - Acho que era a voz da moça.
- Ele é só um garoto, tenho certeza que não resistiria a uma bela mulher. - Outra pessoa respondeu, era perceptível o uso de algum tipo de aparelho para distorção de voz.
- Tudo bem, se você achar que vai funcionar... Mas eu tenho uma dúvida, ele não mora sozinho. Observei a rotina dele por algumas semanas, sempre que o via entrar no prédio, um menino loiro entrava alguns segundos depois atrás dele. - Meu coração parou nesse momento. - Fingi ser amiga da família do loirinho e perguntei se ele morava com mais alguém, pois queria fazer uma surpresa. O porteiro me confirmou que Deku mora com ele.
- Muito bem, isso foi de suma importância para mim. Prossiga com o plano, a extinção dessa raça miserável está perto.
Meu corpo estava completamente travado naquela parede fria, o que eu tinha ouvido era mesmo real? Eles tinham me achado, eu tinha que fugir o mais rápido possível, mas o pior é que eles sabiam de Katsuki. Ele provavelmente seria usado como algum tipo de refém para fazer chantagem, ele teria que ir comigo. Puta que pariu, Deku! Tu só fode as coisas. Bakugo iria ter que entender, por bem ou por mal.
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