A sensação de sentir o que Katsuki sentia era estranho, eu adorava a ideia de ter um sentimento de felicidade duas vezes mais intenso, mas me preocupava com a raiva. O que aconteceria se nós dois estivéssemos com muita raiva? Estávamos andando de volta pelo corredor para sair da escola, muitos pensamentos de preocupação me atingiam como mísseis. Lembrar que eu tinha que voltar pra casa me deixava tenso, não sabia como eles iriam reagir ao me ver, saí de lá sem dar satisfação para ninguém. Fugi como um rato, no escuro e na surdina. Não percebi quando minhas mãos começaram a tremer, mas as fechei em punhos para diminuir o tremor.
- Você tá tenso. - Katsuki falou despreocupadamente.
- É... - Não queria entrar nesse assunto, mas ouvir alguém dizer que eu estava tenso, aumentou mais ainda meu desconforto.
- Que saco, vem cá. - Ele me puxou para um abraço, envolvi sua cintura com meus braços enquanto recebia um carinho muito gostoso na cabeça.
Fui me acalmando ao poucos, não sei dizer se era a marca ou apenas o efeito que Katsuki tinha sob mim. Ele deve ter sentido que eu já estava calmo e diminuiu o aperto do abraço, mas não me soltou completamente. Ficamos parados no meio do corredor, nossos corpos estavam colocados e os rostos a poucos centímetros de distância. Encarei aqueles olhos vermelhos, tão lindos e tão perigosos. Eu sentia a respiração dele fazer cócegas no meu rosto, nossos lábios estavam quase colados, o calor dele era tão reconfortante.
- Bakubro?! - Katsuki rapidamente me soltou com um empurrão me fazendo perder um pouco o equilíbrio. Kirishima olhava para a gente com surpresa.
- Você não viu nada, cabelo de merda. - Senti um desconforto na marca, ele estava mudando de humor.
- Calma, eu não julgo. - Os olhos dos ruivo passavam de Katsuki para mim. - Mas... Ele? - Senti o cheiro e uma pontada de tristeza na sua voz.
- Katsuki, eu vou esperar lá fora. - Falei tocando seu ombro e enviando um sentimento de calma.
Saí do corredor os deixando sozinhos, não pude deixar de me sentir incomodado com isso. Ciúmes, Deku? Se controla, não tenho tempo pra isso. Fiquei sentando nos degraus da escada esperando Katsuki voltar, comecei a pensar em como sair da cidade sem fazer alarde. Primeiro tinha que me livrar da escola, uma carta da minha "família" pedindo para eu voltar para ajudar em casa, pois meu pai está doente... Não era uma péssima ideia. Agora, como fazer isso com Katsuki? Não o conheço tão bem assim, nem sei se ele tem família. Ele poderia fazer intercâmbio e acabar ficando por lá, pois uma faculdade demonstrou interesse nele... Mas, que tipo de interesse? O intercâmbio poderia ser de trabalho voluntário e Katsuki demonstrou um excelente trabalho ao comandar e organizar os papéis de cada voluntário. Sendo assim, a faculdade estaria de olho nos dotes de empreendedorismo dele, ou organizacionais, o que era perfeito para se dirigir uma empresa, ou pequeno comércio.
- Você costuma murmurar muito? - Me assustei com a chegada repentina de Bakugo.
- É... - Desviei o olhar dele para a entrada da escola. - Estava pensando em como descomplicar nossas vidas.
- Ainda vamos ter que morrer? - Ele juntou-se a mim na escada.
- Não. - falei sorrindo. - Pensei em fazer uma carta dos meus pais comunicando minha saída da escola, pois preciso voltar para minha cidade.
- E eles vão fazer isso? - Olhei confuso para ele. - Seus pais.
- Ah... - Olhei de volta para a entrada. - Eu não tenho pais. - Ficamos em silêncio por alguns segundos. - Tá tudo bem, eles já se foram há décadas.
- Décadas? Mas você não tem 16 anos? - Não pude conter um sorriso.
- Na idade de vocês, eu tenho 25. Meu povo não envelhece na mesma linha temporal que os humanos.
- Mas... Eu também não sou humano. - Virei para encará-lo, era perceptível a tristeza em seu olhar. - E quantos anos você tem de verdade? - A tristeza dele foi rapidamente substituída pelo habitual deboche.
- Bom... - Ponderei um pouco se respondia essa pergunta ou não. - Tenho 307.
- O quê?! - Ele me olhou com descrença. - Quer dizer que eu transei com matusalém? - Caímos na gargalhada, fazia tempo que não me divertia assim. - Certo, e eu? O que você pensou pra mim?
- Você poderia ir fazer um intercâmbio voluntário. - Katsuki me olhou como se perguntasse "você realmente acha que eu faria serviço voluntário?". - Mas calma, você seria encarregado de organizar as coisas e dizer o que cada um iria fazer.
- Agora fez sentido, mas um intercâmbio normalmente dura seis meses.
- Eu sei, depois de uns 5 meses, uma carta irá chegar aqui dizendo que uma faculdade se interessou por você, ofereceu uma bolsa de estudos em alguma escola e você vai trabalhar por meio período na faculdade.
- Se você pensou nisso, então porque caralhos sugeriu que eu morresse? - Suspirei profundamente.
- Antes eu não tinha que voltar pra casa. Você ainda corre perigo, você vai continuar vivo, mas não vai poder voltar a ter a vida de agora. Sinto muito, Katsuki.
Levantei e estendi a mão para ele que pegou sem exitar, caminhamos lado a lado até a saída da U.A. Continuamos andando escondidos até a estação de trem, comprei as passagens com destino a Romênia. Sentamos em um banco mais afastado, eu me sentia completamente tenso e ansioso, Katsuki afagou meu ombro enviando ondas de calma. Relaxei um pouco no banco e encostei a cabeça no ombro dele, meu gesto atraiu alguns olhares curiosos e outros de repulsa, voltei a me sentar ereto e distanciei-me um pouco dele. Não era bom chamar atenção quando se tenta fugir. Lembrei do amigo ruivo de Katsuki, ele realmente parecia deprimido ao nos ver juntos. O que será que eles conversaram?
- O que tá te incomodando? - Ele perguntou olhando para mim de soslaio.
- Nada. - Respondi o mais amigável que consegui, não era da minha conta saber o que ele tinha falado com o ruivinho.
- Fala logo, seu incômodo tá passando pra mim. - Limpei a garganta e recostei-me no banco.
- Como foi lá com... - Tentei lembrar o nome dele. Como eu esqueci o nome do cara? Eu sabia a uma hora atrás. - Seu amigo.
- Foi de boa. Ele agiu meio estranho, perguntou se nos estávamos namorando, desde quando estávamos juntos... Eu não sabia o que responder, então disse que foi um mal entendido e que não precisava se preocupar. - Senti que tinha algo a mais, mas achei melhor não perguntar.
O trem chegou meia hora depois, ficamos aperfeiçoando o plano do intercâmbio enquanto esperávamos para embarcar. Nossos assentos eram no último vagão, na última cabine. Entramos, fechei a porta e abaixei as cortinas. Sentei de frente para Katsuki, ele tinha uma expressão de preocupação, coloquei a mão em seu joelho e dei um sorriso de lado.
- Vai ficar tudo bem.
O trem começou a se mexer, aconcheguei-me no banco e fiquei olhando a paisagem pela janela. Bálcãs, aí vamos nós.
Gente, misericórdia. Que onde de azar foi essa? Primeiro perdi metade do capítulo, depois choveu e a internet quase não volta, credo. Vou acender um incenso kkkkkk. Finalmente nosso lobito disse a idade dele, ele é velho mesmo, tadinho. Mas enfiiiiiiiiim, a primeira parte está acabando e logo logo as coisas vão ficar mais complicadas na vida do casalzinho. Beijinhos, desculpa os transtornos kkkkkkk, até sábado ♥️