O primeiro caçador a aparecer foi aquele que encontrei no trem, os olhos dele pareceram brilhar ao me reconhecer e abriu um sorriso macabro. Os outros surgiram logo atrás dele, cada um com sua maleta e terno preto, mas ela não estava ali. Um terror preencheu meu corpo quando eles não fizeram absolutamente nada, apenas nos encararam e sorriram. Aquilo... era uma distração!
- Kacchan... – Deixei escapar em um suspiro. – Dabi e Shinso comigo! Os outros protejam a vila!
- Como assim, Deku? – Shin olhou para mim sem entender. – Temos que ficar e lutar.
- Isso é apenas uma distração, temos que ir atrás dos outros. – Toquei meu antebraço e ele entendeu o que eu quis dizer.
Corremos em direção ao trajeto que o clã havia feito, minha respiração era um misto de rosnado e uivo. Cada passo era como uma ponta de uma lança perfurando meu coração, minha preocupação estava interferindo no meu controle, minha visão mudava constantemente de normal para um tom avermelhado de caça. Eu só queria sentir algo através daquela maldita marca, estava enviando todo meu sentimento através daquilo para que Katsuki pudesse enviar calma em resposta, mas não vinha nada.
As imagens da realidade estavam se misturando com aquele pesadelo, ele não iria morrer, eu iria conseguir acha-lo e ele não iria morrer! Parei bruscamente deslizando um pouco sob o solo úmido em decorrência da neve derretida, farejei o odor que preenchia aquela parte da floresta e senti o ar escapar dos meus pulmões ao perceber o que era aquele cheiro ocre. Dabi e Shin também sentiram e nos apressamos em encontrar o foco, um rosnado baixo escapou da minha garganta quando vi poças de sangue misturadas com a lama escura. Enterrei as garras nas palmas das mãos e inspirei profundamente, não era sangue de lobo e nem de Bakugo.
- Encontraram o clã. – Andei cuidadosamente pelo o que parecia ter sido um campo de batalha. – Foram encurralados. – Agachei e toquei o chão. – Contra-atacaram, nenhum lobo foi ferido.
- Não tem nenhum corpo aqui, Deku. – Dabi falou o óbvio. – E esse cheiro... eu não sei o que é isso.
- Também senti. – Shinso olhou para mim e contraiu o maxilar, ele sabia o que tinha acontecido. – Eu não sabia que ele poderia ser tão poderoso assim.
- Você está me dizendo que Katsuki fez isso? – Levantei devagar enquanto o encarava, ele concordou em silêncio e um sentimento estranho de alívio invadiu meu peito. – Digamos que ele realmente tenha matado... – Farejei os diferentes tipos sanguíneos. – os quarenta caçadores que estavam aqui, mas não explica onde estão os corpos.
- Talvez eu possa explicar. – Uma voz suave ecoou pelas árvores e uma mulher de longos cabelos negros, olhos da mesma cor e uma pele tão pálida quanto a luz do luar surgiu. – Olá, Alfa. – Eu nunca havia visto aquela mulher antes, mas seu nome surgiu em minha mente como uma antiga lembrança adormecida que ganhou vida.
- Hela. – O nome saiu automaticamente dos meus lábios e ela sorriu.
- Seu amigo fez um belo trabalho com aquela escória humana. – A voz dela ecoava em minha cabeça, seus lábios nem se mexiam e aquilo me deixou apavorado. – Eu não quero esta guerra tanto quanto você, seu clã seguiu em direção aos Vulpe. – E então sua silhueta pálida se virou para ir embora.
- Espere! – Gritei e ela parou. – Onde estão os corpos dos caçadores?
- Por que acha que as árvores negras nascem sem frutos e sementes? – Engoli em seco e observei-a desaparecer tão subitamente como chegou.
Olhei ao meu redor para ver nos rostos de Shin e Dabi se aquilo realmente tinha acontecido, o pavor em seus olhares confirmaram minha dúvida. Aquela era a personificação da floresta, a deusa Hela.
- Temos que ir. – Falei preenchendo o silêncio.
- Temos que voltar. – Dabi falou quase ao mesmo que eu. – Não podemos deixar os outros sozinhos para proteger a vila.
- Você ouviu o que Hela disse, eles estão com os Vulpe. – Shinso concordou com Dabi.
- Ela falou que foram em direção à eles, não que já estavam lá. – Eu ainda não sentia nada de Katsuki através da marca e aquilo estava me enlouquecendo.
- Você é o alfa, não pode abandonar seu povo por causa de uma paixãozinha idiota. – Rosnei mais alto e passei a mão sob aquele disfarce que Ura tinha feito, deixei as duas marcas à mostra para Dabi ver.
- Não é uma paixãozinha idiota! – Falei entredentes. – Mas vocês estão certos, não posso abandonar meu clã.
Voltamos pelo mesmo caminho, todos ainda estavam nas mesmas posições. Os caçadores permaneciam parados segurando suas maletas e os lobos ainda estavam em formação. Sussurrei a localização do clã para eles ouvirem, não podíamos ficar ali sem fazer nada, aquela caçadora ainda não tinha aparecido. Precisava confiar em Hawks para enviar os reforços. Foi como se o Alado estivesse ouvindo meus pensamentos, um borrão vermelho cortou os céus e pousou em minha frente. Ele estava ferido.
- Hawks! – Gritei quando ele desabou no chão de joelhos. – O que aconteceu?
- Eles cercaram o Clã Vulpe... – Sua voz estava fraca. – Fui alvejado quando tentei voltar para avisá-lo.
- Avisar o quê?! – Senti os pelos preencherem meu corpo enquanto a transformação se completava.
- Aquele seu amigo, o forasteiro... – Ele levantou o olhar aterrorizado para mim. – Eles o pegaram.
Senti os ossos quebrando e remodelando, o focinho alongando, as presas aparecendo e por fim, a cauda. Eu só enxergava vermelho, estava sedento por sangue, olhei em direção aos caçadores e notei a surpresa e medo em seus olhos. Um rosnado vibrava baixo no fundo da minha garganta, o uivo que se seguiu foi mais um aviso a todos os seres sobrenaturais que habitavam aquela floresta. Não era mais só minha guerra, era de todos.
Avancei primeiro, os outros lobos vieram logo atrás. Assim que comecei a correr em direção aos caçadores, as maletas se transformaram em armas, cada uma diferente da outra. Aquele caçador de cabelos brancos e olhos vermelhos investiu contra mim com uma espécie de chicote de três pontas. Saltei para o lado e finquei as presas em seu braço o separando do resto do corpo. Ele caiu no chão urrando de dor e investi contra seu pescoço, olhei em seus olhos enquanto sua vida deixava seu corpo. Em outra ocasião, aquilo saciaria meu lobo, mas a cor avermelhada não foi embora, o ódio estava me cegando e me fazendo perder o controle. A parte humana estava desaparecendo e a parte selvagem lutava para assumir, se fosse para salvar Katsuki, eu me tornaria o monstro que nasci para ser.
Olá lobinhos! Estamos quase na reta final, estão gostando? Ai esse Deku, matando os outros *passando pano*.... Hihihihi, postei capítulo novo de The Last Avatar também.
É isso meu povo, até semana que vem😘🐺