Eu estava sentindo um misto de sentimentos enquanto corria de volta para o apartamento, entrei pela janela e comecei a arrumar minha bolsa. Tinham sobrado poucas roupas com todas as caçadas, minha respiração estava difícil de controlar, não podia perder o controle agora. Saí do quarto abrindo a porta delicadamente, Katsuki me olhou espantado do sofá, eu estava eufórico. Ele tinha ficado ali esse tempo todo? Pisquei rápido para focar no que tinha que fazer. Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas levantei um dedo indicando que se calasse, entrei em seu quarto e procurei por alguma mochila. Peguei a escolar mesmo, joguei todo o material no chão, abri o armário dele e coloquei peças de roupa aleatórias. Saí do quarto carregando a bagagem e recebi um olhar estranho dele, joguei a bolsa em sua direção, ele pegou sem entender nada e avaliou o conteúdo.
- Mas que... - Começou falando, mas me apressei em tampar sua boca e mexer os lábios formando a palavra "silêncio".
Agucei a audição, ouvi o barulho do elevador chegando e passos vindo em direção a porta do lugar. Bakugo percebeu que minha atenção estava na porta e tentou sair do meu aperto quando a campainha tocou. Merda, merda, merda, merda... Olhei para ele em súplica para que não falasse nada, peguei minha mochila do chão e fui andando devagar sem fazer barulho em direção ao meu quarto, olhei para trás e fiz um movimento de cabeça para Katsuki me seguir. A pessoa tocou a campainha mais uma vez e bateu na porta em seguida, puxei-o pelo pulso até a janela, o peguei no colo e pulei. Senti um dor fina nos tornozelos, mas logo passou, coloquei-o no chão e tive que segurar sua cintura para que não caísse. Pular da janela do prédio não era uma coisa muito comum.
- Você tá bem? - Perguntei enquanto olhava ao redor verificando se era seguro continuar. - Vamos. - Não esperei sua resposta e o puxei de novo.
Peguei a bolsa de Katsuki, remexi até achar um casaco com capuz. Joguei para ele, o mandei colocar rápido e cobrir a cabeça. Puxei o meu capuz e tentei nos misturar com as pessoas na rua. Parei e olhei para o prédio, a mulher que eu vira no beco estava saindo pela portaria com uma expressão de frustração, ela falou alguma coisa com o porteiro, aguçar a audição nessa multidão era pedir por uma enxaqueca. Observei-a fazer uma ligação e sair pisando firme pela calçada, senti um cutucão no ombro e virei para me deparar com ele bem próximo do meu rosto. Corei e desviei o olhar, procurei com o olhar algum lugar mais tranquilo, parei quando vi o café em que eu fui no primeiro dia nessa merda de cidade.
Tudo estava exatamente igual, o mesmo cheiro agradável de canela e café, respirei fundo saboreando aquele prazer momentâneo. Sentei na mesa do canto mais afastado da porta e da janela, Katsuki sentou na cadeira a minha frente com um olhar furioso. De novo, não. Assumi a expressão mais amigável possível, percebi que a fúria dele se desfez, respirei aliviado.
- É melhor você me explicar que caralho tá acontecendo.
- Tudo bem... - Percorri o ambiente com todos os sentidos aguçados, estava seguro por hora. - Me encontraram, sabem sobre você. Desculpa te envolver nisso tudo, mas por enquanto nós precisamos fugir.
- Fugir? Eu e você? - Ele sorriu ironicamente e recostou-se na cadeira cruzando os braços sobre o peito, admirei cada movimento dele. - E de quem estamos fugindo mesmo?
- De uma gangue de caçadores que está atrás de mim a anos. - Ele semicerrou os olhos me encarando.
- E você me meteu nessa merda toda?! - Sua personalidade explosiva me irritava às vezes. Massageei as têmporas enquanto pensava em um jeito de tirá-lo disso.
- Olha, eu tenho alguns contatos. - Não consegui encará-lo, a proposta que eu iria apresentar não era muito agradável. - Se você sair da cidade com uma identidade nova, eles não vão perder tempo procurando um Katsuki Bakugo morto.