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Acordei antes de Katsuki e fiquei um tempo o observando, não sei se foi influência da marca ou não, mas o abracei por trás e aconcheguei meu rosto em seu pescoço. Respirei profundamente aquele cheiro adocicado que ficava quase imperceptível enquanto dormia, desferi um beijo em sua nuca antes de levantar da cama. Fui até o banheiro e lavei o rosto para espantar o sono, peguei um casaco e saí da cabana para procurar o café da manhã. Tentei diversas vezes caçar um coelho, mas sempre acabava fazendo algum barulho; pisando num galho seco; fazendo algumas pedrinhas rolarem; até mesmo minha respiração alta entregava minha posição, resultado de anos sem prática. Desisti do coelho e fui procurar outra coisa, achei umas frutinhas vermelhas e quando estendi a mão para pegá-las umas voz me fez pular de susto.

- Veneno, já esqueceu tudo que te ensinei? – Reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo, virei e Uraraka estava encostada num tronco com ar despojado.

- Ura! – Falei enquanto corria para abraça-la, eu sentia tanta falta dela que doía. Ela era umas das pessoas que sempre estavam em meus sonhos e pensamentos, a primeira pessoa que enxergou quem eu realmente era e me aceitou.

- Idiota, pensei que nunca mais fosse te ver. – Ela falou em eu ouvido enquanto me apertava ainda mais.

- Eu sei, eu sei... Desculpa. – A soltei e encarei seus olhos castanhos, meu rosto doía por causa do sorriso, eu queria que minha pele se rasgasse para poder sorrir mais e demonstrar o quanto eu estava feliz.

- Então... – Ela quebrou o contato visual e recuou um passo para não precisar erguer tanto a cabeça para me olhar. – Está querendo morrer ou matar alguém? – Falou apontando para as frutinhas.

- Ah! – Logo a ficha caiu e me senti envergonhado. – Na verdade, estava caçando o café da manhã, mas acho que os anos na cidade me enferrujaram, então decidi pegar algumas frutas. – Olhei o fruto redondo e vermelho com as sobrancelhas unidas e a testa franzida.

- Então vamos para minha casa, tem bastante comida.

- Não posso, Ura. – Ela me olhou confusa. – Eu trouxe alguém comigo. – Os olhos dela brilharam antes de um grito histérico escapar de sua boca.

- Sendo assim, vamos colher várias frutas para sua companhia misteriosa que irei conhecer.

Mesmo não podendo mais sentir o cheiro de hormônios, era perceptível que ela estava ansiosa e eu estava com um sentimento estranho em relação a esse encontro. Andamos pela floresta colhendo diversas coisas, frutas, ervas, cascas de árvores, acabei sentindo falta das sacolas dos humanos, tive que amarrar tudo com umas folhas compridas e fazer um cesto meia-boca com cipós. Chegamos à cabana e Uraraka sorria de orelha a orelha com um olhar curioso, felizmente Katsuki ainda estava dormindo, respirei aliviado e indiquei a cozinha com a cabeça. Coloquei o cesto que já estava se desfazendo em cima da mesa e Ura jogou as frutas na pia, comecei a guardar as ervas e outras coisas nos armários enquanto ela lavava o resto. Lembrei que eu tinha feito uma fruteira quando ainda morava ali e comecei a procurar o objeto. Achei enterrado no fundo de um armário, passei uma água para retirar a poeira e coloquei as frutas dentro. Peguei a fruteira da pia e coloquei no meio da mesa, fiquei encarando aquele simples objeto que magicamente trouxe outra áurea para a cozinha.

- Izuku, tem alguma coisa pra... – Katsuki chegou na cozinha ainda só de cueca e camisa com os cabelos bagunçados e congelou quando viu a morena ao meu lado.

- Belas coxas. – Uraraka disse lançando um olhar estranho para ele. Saí de onde estava e puxei Bakugo para o quarto, ele colocou uma calça e olhou para mim.

- Quem é aquela?

- Uma amiga, comporte-se. – Eu estava sentindo aquilo de novo, mas não sabia o que era.

- Tch. – Ele aproximou-se de mim e ficou com o rosto bem próximo ao meu. – É melhor ela se comportar. - Fiquei parado na soleira da porta enquanto ele ia para a cozinha novamente, fechei as mãos em punhos e fui até os dois.

- Então, essa é sua companhia misteriosa? – Ela me perguntou apontando para o loiro sentado à mesa.

- Uraraka, este é Katsuki Bakugo, meu... – Olhei para ele, mas assim com Ura, ele me olhava com expectativa. – Meu convidado. – Merda, Deku!

- Seeeeeeei... – Ela semicerrou os olhos e tomou seu lugar à mesa também.

Eles se encaravam tão intensamente que me senti extremamente desconfortável, fiquei em pé atrás dele e coloquei uma mão em seu ombro, olhei para Uraraka em desaprovação, ou era isso que achava. Ela levantou as mãos em defesa e desviou o olhar.

- Você é de fora, né? – A morena perguntou para Katsuki.

- Sim, e daí? – Podia pelo menos se esforçar, né Bakugo?

- Nada, - Ela olhou novamente para mim com os olhos semicerrados. – como conheceu Deku?

- Morávamos juntos.

- Você tem namorada? – Onde ela queria chegar? Olhei-a apreensivo.

- Não. – Senti os músculos dele tencionarem sob meu toque.

- Você tem namorado? – Puta que pariu, Ochaco!

- N-Não. – Ele gaguejou. E então a gota d'água.

Ela colocou a mão sob a dele e inclinou-se sob a mesa chegando bem perto, perto demais. Quando o rosto dela estava a uma curta distância do dele, agi por impulso e o empurrei para trás. Encarei Uraraka com garras e presas amostra, ela apenas me olhava com uma expressão vazia, voltei a mim e me controlei.

- Você só pode estar maluco! – Ela podia ser pequena, mas quando ficava com raiva era intimidante. – Dabi vai acabar descobrindo isso!

- Ela já sabe. – Falei quase em sussurro.

- Pelos deuses! Deixe-me ver. – Eu sabia o que ela queria ver, mas se eu mostrasse a marca do lobo consequentemente mostraria a marca de lofn.

- Não tem nada pra ver. – Tentei convencê-la.

- Deku Lupis, ou você tira essa droga de casaco ou eu mesma tiro. – A raiva dela era perceptível pelo brilho medonho em seu olhar. Xinguei mentalmente e retirei a peça de roupa.

Quando eu estava terminando de retirar a manga do braço marcado, Katsuki pulou na minha frente, dificultando a visão de Uraraka. O cheiro de caramelo estava ficando intenso, isso também não era bom, ela perceberia que eu não conseguiria ficar perto dele. Toquei seu braço enviando ondas de calma, o cheiro amenizou, mas eu podia ver faíscas saindo dos olhos castanhos da morena. Esses dois iriam acabar brigando e algum de nós três sairia muito machucado, com um pesar no coração olhei Ura e me arrependi instantaneamente, seu olhar era de puro choque.

- Acho melhor você ir, Uraraka. – Engoli em seco para não desabar ali.

- Deku...

- Você ouviu. – Katsuki falou. – Vá embora.

Ela passou por nós dois, lançou-me um último olhar antes de sair pela porta, eu a tinha traído, quebrado sua confiança. Mas ninguém podia saber quem Katsuki era de verdade, ele acabaria morto, tive que mentir para a única pessoa que esteve comigo em meu pior momento, minha única amiga de verdade. Não aguentei segurar mais, desabei a chorar copiosamente, Bakugo travou e não soube como reagir, ele nunca me viu chorar antes. Mas ele logo saiu do torpor e me abraçou, chorei tudo o que vinha acumulando a meses, o dia da profecia ficava cada vez mais perto, sentia que estava quase surtando, então me agarrei a única coisa que me mantinha em pé. Meu pilar agora era Katsuki, independente de eu não saber se o amor era por causa da marca ou não, agarrei-me a esse sentimento como sendo minha âncora.

Boa dia, boa tarde e boa noite meus lobinhos! Perdão qualquer erro no capítulo, escrevi no meio de uma crise de enxaqueca, ainda estou na crise, maaaaaaas acho que não ficou tão ruim assim kkkkkkk. Ia escrever mais, só que tô bem ruim, até próximo sábado ♥️

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora