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Katsuki ficou comigo até meu ataque passar, funguei, mas o nariz estava congestionado, levantei-me do chão e fui lavar o rosto. Eu não podia demonstrar esse tipo de fraqueza, a voz do meu pai fez eco em minha mente: "Um bom alfa é sempre forte, nunca demonstre suas fraquezas em público, o inimigo pode estar ao lado". Minhas vias aéreas já estavam livres, respirei profundamente e voltei a cozinha. Ele estava sentado novamente a mesa encarando a cesta de frutas, ouvi o barulho de seu estômago e sorri de lado.

- Pode comer, não são perigosas. – Falei apontado para as frutas.

- Não costumo colocar coisas desconhecidas na boca. – Levantei uma sobrancelha e ele enrubesceu. – Tch, tanto faz.

Peguei um fruto amarelo e dei uma mordida, ele observou atentamente para ver se era seguro, engoli o pedaço e sorri indicando que estava tudo bem. Tomamos café da manhã em silêncio, fiquei grato por não termos tocado no assunto, eu não gostava de chorar, pelo menos não na frente de outras pessoas. Adorava isso nele, a discrição, fiquei observando-o enquanto se preparava para sairmos de casa para ir à biblioteca, cada movimento me deixava em transe, Katsuki tinha uma beleza natural, sua pele clara e cabelos loiros realçavam o vermelho vibrante de seus olhos.

- Cuidado pra não babar, idiota. – Ele disse me olhando com ar de superioridade.

Aproximei-me dele e lhe dei um beijo rápido, mas logo depois já estávamos nos devorando por completo. Ele era quente e eu queria sentir seu calor em contato com minha pele, mas lembrei do compromisso marcado com Shinso e interrompi o beijo.

- Nós precisamos ir. – Falei enquanto meu corpo gritava não.

- Certo. - Abri a porta e senti um frio na barriga, agora era oficial, eu havia voltado para o clã e trouxera um forasteiro, que atirem as pedras.

Senti o peso de cada olhar no caminho até a biblioteca, todos pensavam que eu estava morto, não imagino o que meu povo passou todos esses anos. Mas uma coisa em especifico chamou minha atenção, o grupo de caça olhava Katsuki com ódio, Dabi deveria ter envenenado a mente deles, mas o Dabi que eu conhecia jamais faria isso. Procurei o moreno em meio aos integrantes do grupo, mas ele não estava lá, reconheci alguns caçadores e outros não. Quantos filhotes nasceram nesse tempo? Shinso nos esperava na entrada da casa do chefe, as olheiras pareciam mais fundas e os cabelos estavam bagunçados.

- Bom dia, Zuku – Ele me cumprimentou com uma leve reverência. – E Katsuki. – Sem reverência.

- Bom dia. Estamos prontos para começar. – Falei empolgado para achar aqueles manuscritos preciosos.

- Sim, sim. Por aqui. – Mesmo sabendo o caminho até o local, o segui em silêncio. – Devo avisar que isso aqui está um pesadelo. – Ele falou com uma expressão triste. – Divirtam-se. – A tristeza foi substituída por uma largo sorriso sádico.

Certas coisas nunca vão mudar, a facilidade de ligar e desligar sentimentos de Shinso era e continua sendo impressionante. Abri a porta do recinto e uma nuvem densa de poeira nos atingiu, abanei o ar com a mão para ajudar a dispersar a poeira. Lá dentro cheirava a mofo e antiguidade, realmente estava um caos; vários pergaminhos espalhados pelo chão, livros dispostos em qualquer posição, prateleiras quebradas e a mesa estava virada de cabeça para baixo. Avaliei bem o estrago, aparentemente não havia nenhuma perda de material, respirei aliviado com isso, a primeira coisa foi colocar a mesa no lugar, era de madeira maciça, mas o peso era desprezível para mim.

- Bom, você junta os pergaminhos e eu junto os livros, vamos dividi-los em duas pilhas. Assim fica mais fácil de limpar esse lugar. – Falei olhando ao redor.

Katsuki acenou com a cabeça e começou a trabalhar, ele estava tão ansioso quanto eu para descobrirmos mais sobre mim, a profecia e sobre ele. Demorou bastante, mas conseguimos colocar todos os pergaminhos em um canto e os livros noutro, encarei as duas pilhas com um sorriso bobo no rosto. Meio caminho andado. Bakugo estava ofegante ao meu lado, olhei para ele de soslaio e seu rosto estava vermelho pelo esforço feito para remover a prateleira destruída do chão e abrir mais espaço para locomoção. Ofereci ajuda, mas ele recusou, obviamente. Também adorava sua teimosia. Estávamos cansados, com fome e sujos. Esfreguei os dedos formando uma mancha cinza de poeira e suor, passei dois dedos na bochecha dele deixando duas linhas cinzas no local.

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora