Acordo assustado e suado, eu estava no meu quarto, na minha cama, passo a mão pelos cabelos e percebo que estão úmidos de suor, por impulso toco meus dentes, nenhuma presa, ainda bem. Sento na beirada da cama e apoio os cotovelos nos joelhos, aos poucos as imagens de Katsuki parado em frente a porta do seu quarto vêm a tona, arregalo os olhos em pavor e saio do meu quarto num salto, percorro o apartamento com os olhos e nada dele, começo a entrar em pânico. Vou direto a seu quarto e também não tem sinal dele, sua cama está desarrumada, o buraco em meu peito aumenta, e se eu o tivesse atacado? Meu santo Fenrir, e se ele estivesse morto? Minha respiração começa a falhar, lembro que ainda tinha um cômodo, vou até o banheiro e hesito ao girar a maçaneta, e se eu encontrasse um corpo? E se ele estivesse de um modo irreconhecível? Tremendo abro a porta e dou de cara com um Bakugo sem camisa e secando o cabelo com uma toalha, minha reação foi soltar a respiração que não percebi que estava prendendo, uma risada arfada escapou de meus lábios.
- EI! NÃO SABE BATER NÃO CARALHO? - Ele veio pra cima de mim.
- Des... Desculpa. - Meu alívio era maior do que qualquer outra reação ou sentimento.
- Tá rindo de quê, idiota? - O olhar dele era como fogo, senti as labaredas penetrando minha pele.
- Nada não... - Só então percebi que invadi o banheiro, que ele acabara de sair do banho e que estava só de calça moletom. Desviei o olhar pro seu abdômen definido e corei levemente. - Você sabe o que aconteceu ontem a noite? - Perguntei ainda encarando seu corpo.
- Se não se importa, meu olhos estão aqui em cima. - Agora eu tinha plena certeza que meu rosto era da cor de um pimentão maduro. - Você se trancou no quarto depois do café e só. Agora sai da frente.
Abro passagem e ele passa esbarrando no meu ombro de propósito, como eu fui me preocupar com alguém tão desprezível? Argh, e ainda o comi com olhos, mas que merda, era pra Izuku ser o completo oposto de mim, ou seja, hétero. Mas com um corpo daqueles... Quem não olharia? Espanto esses pensamentos e vou começar o dia, uso o banheiro e vou direto na cozinha procurar qualquer coisa para comer, paro bruscamente quando passo pela geladeira e lembro dos possíveis acontecimentos de ontem, encaro a porta do congelador pelo que pareceu muito tempo, Bakugo passa por mim e solta um aberração baixinho. Não dei a mínima para seu comentário idiota, a prova de que ontem fora verdade ou não estava naquele congelador. Me aproximei devagar e abri a portinha com medo do resultado, respirei pesadamente ao ver o saquinho de carne intacto. Então foi tudo um sonho? Graças a Fenrir.
- Bakugo - chamei enquanto comia um biscoito do armário. - Você sabia que iria dividir apartamento comigo?
- Claro que não, idiota. - Ele respondeu tedioso. - Você deveria ler o contrato.
- Claro. - Fez-se uma pausa silenciosa. - Bakugo - Chamei novamente.
- Porra. - Ele protestou.- O que é?
- Onde eu encontro uma loja de material escolar? As aulas começam amanhã e não tenho nada.
- Tch - Diz revirando os olhos rubis, e que belos olhos... Se controla. - Eu estava indo agora comprar umas coisas - Ele me olha da cabeça aos pés me fazendo corar. - Eu deixo você me acompanhar.
Convencido. O cheiro dele não estava mais tão intenso como ontem, mesmo assim mantenho certa distância. O caminho até o centro era longo, pegamos um ônibus que rodou tanto que perdi as contas de quantas esquinas ele virou, definitivamente eu não saberia andar nessa cidade. Assim que descemos do ônibus me arrependi amargamente de ter acompanhado Katsuki, tinham muitas pessoas, muitos sons, muitos cheiros, meus instintos queriam aflorar.
- Soarele, luna, adevărul - Falei baixinho. - Soarele, luna, adevărul - Repeti mais uma vez fechando os olhos e respirando fundo. - Soarele, luna, adevărul.
- Vem Midorya, não quero bancar a babá. - Bakugo estava impaciente por eu ter parado no meio da calçada, me aproximei dele só pra ouvir mais uma pergunta. - O que você tava fazendo?
- Recitando um mantra. - Merda, por que eu falei isso? Por que eu disse a verdade? Como ele conseguia arrancar a verdade de mim tão facilmente sem esforço algum?
- Ha, hipster de merda. - Ele disse sorrindo, portanto não me pareceu uma ofensa.
Chegamos a uma loja grande de artigos de papelaria, segui Katsuki pelos corredores, me perderia com certeza naquela imensidão. Peguei um caderno básico, duas canetas pretas e só, nunca precisei de mais do que isso. Bakugo olhou meu ridículo material e riu ironicamente.
- Onde você vai estudar mesmo? - Ele me perguntou.
- Na U.A.
- E você vai levar só isso? - Notei que o tom em sua voz não era de deboche e sim de surpresa.
- É... Vou.
Ele me puxou de volta aos corredores e foi adicionando materiais que eu nunca tinha visto antes, umas figuras estranhas, meio triangulares, um negócio esquisito que parecida uma tesoura, mas tinha uma ponta de metal e outra de grafite. Pegou um estojo, régua, apontador, lápis, borracha... Ao final de tudo eu estava carregando uma cestinha de compras super pesada, achei tudo desnecessário, mas ele devia saber mais, só deixei pra lá. Saímos da loja com duas sacolas cada, o fluxo de gente havia diminuído, graças a Fenrir, andei sem pressa, estava prestando atenção em tudo, avistei uma barraquinha de doces e pedi um pirulito, o gosto doce me lembrava Bakugo, sentei num banco ali perto e fiquei saboreando a guloseima enquanto assitia o sol se pôr. Estranhei termos passado tanto tempo naquela loja, mas lembrei que acordei quase 13h. Vi de relance Katsuki se jogar ao meu lado no banco, ele me olhava brincar com o pirulito na boca, eu tirava de vez em quando para lamber rápido, era uma péssima mania minha, meus companheiros de bando sempre diziam que eu parecia uma atriz pornô, sorri com a lembrança do pessoal.
- Para com isso. - Me viro sem entender o que ele queria dizer. - Não faz essa cara de que não tá entendendo, para de fazer isso.
Me toquei de que ele falava do pirulito, encarei a bola vermelha sobre o palito de plástico, sorri sem mostrar o dentes e voltei a lamber do mesmo jeito de antes, claro que forcei um pouco mais, uma pequena vingança pela "aberração" de mais cedo. Sinto seus dedos envolverem a mão que eu segurava o doce, ele se aproximou do meu rosto com um olhar malicioso e um meio sorriso, o pirulito estava em minha boca, ele retirou devagar e colocou na sua ainda me olhando nos olhos. Puta que pariu, o cheiro dele estava mais forte, ele estava tão perto, perdi a concentração, levei a mão livre ao nariz o tapando, levantei rápido do banco e corri pra longe. Tinha que sair da vista de todos ali, o gosto metálico na garganta foi um aviso, corri mais rápido sem me importar se alguém desconfiaria da velocidade que eu estava. Bakugo sabia como me fazer perder o controle, isso era um perigo.
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