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- Alô? Srta. Yaoyorozu? - Fez-se um silêncio do outro lado da linha antes de um "umhum" ser murmurado por ela. - Aqui é Izuku... Izuku Midorya.

- Ah, sim. Em que posso ajudá-lo? - Repassei tudo na minha cabeça mais uma vez. - Algum problema com o apartamento?

- Sim... Não... - Respirei fundo e organizei meus pensamentos. - Nada com o que se preocupar, eu gostaria de saber se teria um quarto para alugar próximo a U.A.

- Certo... - Notei certa tensão em sua voz, conversar por telefone era tão estranho. Não podia sentir nada da outra pessoa, apenas uma voz distorcida e sem emoção. - Vou dar uma olhada. Aconteceu alguma coisa com seu colega de apartamento?

- Nada que precise se preocupar. Obrigado.

Encerrei a chamada e me recostei no banco acolchoado do café, respirei fundo enquanto encarava o teto. Há quase uma semana que evito encontar com Katsuki em casa, ou em qualquer lugar público. Passei a sair do apartamento horas mais cedo pela manhã, ficava circulando sem rumo pela cidade até poder ir para escola. Foi torturante sentar dia após dia na carteira atrás dele, eu queria tocá-lo, abraçá-lo, beijá-lo, sentir aquele doce aroma de novo... Mas me mantive firme e controlei meus impulsos. Todos os meus dias depois da aula resumiram-se em ficar na biblioteca, ir ao parque ou flertar com Todoroki. Eu não tinha coragem de voltar ao apartamento, por isso esperava até meia-noite na rua, eu sabia que Katsuki já estaria dormindo a essa hora.

Mas um dia eu cheguei meia hora mais cedo e ouvi uma respiração entrecortada vinda do quarto dele, senti os pelos da nuca arrepiarem e me aproximei silenciosamente da porta. Ouvir aquilo me despedaçou por completo, ele estava chorando copiosamente, acho que deve ter pensado que eu não estaria em casa. Eu não podia continuar a maltratá-lo assim, decidi ligar para a mesma corretora de antes e procurar outro lugar para morar. Me ajeitei no banco sentindo um leve desconforto nas costas, afinal estava aqui desde que saira da U.A. Encarei a quarta xícara de café na minha frente, eu tinha que conseguir algum emprego, mudar de estadia seria muito caro e ainda não tinha recuperado 100% minhas economias. Um trabalho me faria bem, me manteria ocupado, com a mente ocupada. Levantei a cabeça e varri o salão com os olhos, algumas mesas estavam ocupadas por pessoas solitárias, umas trabalhavam em algo nos seus computadores, outras apenas tomavam um café. Duas mesas mais ao fundo continham grupos de meninas conversando animadamente e rindo, algumas olhavam em minha direção e cochichavam algo. Curioso.

"Ele é tão lindo. Está com a farda da U.A... deve ser muito inteligente" Sorri com o comentário de uma menina com cabelos ruivos e rosto sardento. "Que sorriso perfeito" Outra menina morena com óculos falou. "Será que se eu pedisse para entregarem um croissant pra ele, ele me notaria?" Uma loirinha com duas tranças perguntou meio sem graça enquanto mexia distraidamente num guardanapo. Parei de prestar atenção nelas, o ambiente do café era tão agradável, o cheiro de canela, leite e borra de café faziam do local um templo zen para mim. A atmosfera aqui era calma, como se um feitiço fizesse com que todos que adentrassem o recinto automaticamente relaxassem, isso era perfeito. Dei um gole em meu café já morno e detive meu olhar numa mesa mais ao canto, por uma momento pensei ter visto o rosto da pessoa que me colocou nessa vida de merda, mas quando pisquei novamente percebi que era apenas uma mulher loira, não consegui desviar o olhar, meu pulso já estava acelerado, o suor frio escorria por minhas costas.

A sombra de alguém parado ao meu lado me fez saltar de susto, a garçonete apenas colocou um pratinho com um croissant e disse que uma admiradora tinha pedido para me entregar isso, sorri achando graça a menina ter realmente me mandado o salgado. Olhei em direção a mesa que o grupinho estava, mas não tinha mais ninguém lá, senti meu coração errar uma batida e encarei o pão recheado a minha frente. Notei uma pontinha branca saindo debaixo do prato e puxei hesitante, o pedaço de papel estava dobrado ao meio. Encarei as palavras sem acreditar no que estava lendo, olhei desesperado ao redor tentando achar alguém que não deveria estar ali. Levantei rapidamente do banco, deixei o dinheiro do café sem saber se estava a mais ou a menos, só precisava sair dali o mais rápido possível, passei pela porta e o sino tocou anunciado que alguém havia saído, o tintilhar enviou uma onda de dor dos meus tímpanos ao maxilar. O sol ainda brilhava fortemente no céu avisando que eu não poderia perder o controle agora, mas não estava aguentando, corri em direção a um beco próximo e me apoiei na parede fria de concreto.

O calor em meus olhos estava aumentando, o familiar formigamento em minha boca se fazia presente, iria acontecer bem ali no meio da rua em plena luz do dia. Segurei a respiração e me forcei a mantar a concentração, mas a dor na cartilagem das orelhas não parou, eu tinha que me esconder em algum lugar. O beco tinha duas saídas, as duas davam total acesso a ruas movimentadas repletas de civis inocentes, senti minhas unhas sendo partidas ao meio enquanto as garras cresciam. Me encolhi contra a parede tentando com todas as forças controlar o lobo, estava doendo tanto forçar a transformação a parar. Ouvi passos se aproximando de mim, meu desespero me fez perder a concentração e um urro de dor escapou, os passos continuavam se aproximando, tentei ignorar e me concentrar.

- Izuku? - A voz de Katsuki invadiu me corpo como uma tensão elétrica. - Meu deus, você está bem?

- Vá... - Outro som grotesco de dor escapou por meus lábios. - Em... bora... - Dei a costas para ele e me contorci de dor com o movimento, apoiei uma mão na parede para não cair e ouvi o som de surpresa de Katsuki ao vê-la.

- Izuku... - Recolhi o braço depressa e juntei as mãos próximas ao meu peito, tentei andar, mas a dor dos ossos quebrando e solidificando me fez perder o equilíbrio.

Cai no chão de joelhos e tentei com tudo o que eu tinha fazer parar, senti um alívio nos pés e soltei a respiração sabendo que uma parte já tinha parado. Senti uma onda de dor percorrer minha espinha, não consegui suprimir o grito, senti duas mãos quente envolverem meus ombros, fechei os olhos e cerrei os lábios. Eu sabia como minhas orelhas estavam, como minhas mãos estavam, tinha completa noção dos pelos crescendo em meus braços e rosto, mas eu não queria que ele me visse.

- Izuku, olha pra mim. - O cheiro do seu medo estava me deixando louco, prendi a respiração e mantive meus olhos fechados. - Vamos, olha pra mim. - Senti seu toque em meu rosto e me contorci de incômodo. - Por favor.

Abri os olhos lentamente, mantive a cabeça abaixada. Mas ele segurou meu queixo e me fez encarar aquele belo par de orbes rubis, soltei a respiração devagar e relaxei o aperto na boca. Por mais que ele cheirasse a medo, sua expressão facial era serena, pude perceber o desconforto ao ver minhas pressas, meus olhos brilhando como raios esmeralda, mas mesmo assim ele sorriu. Senti as garras retraindo, os pelos voltando ao normal, minhas orelhas assumindo a forma humana, meus dentes de lobo voltando para dentro da gengiva e por fim, o calor em meus olhos foi se dissipando. Katsuki me puxou para um abraço forte e longo, demorei alguns segundo para compreender o gesto, passei a mão por seus cabelos, sentindo as mechas macias entre meus dedos. Envolvi sua cintura com o outro braço, senti cada fibra muscular e percebi a saudade que meu corpo sentia dele, a saudade que minha mente sentia da calmaria que ele trazia, a saudade que me meu olfato sentia do caramelo que exalava dele... A saudade que eu sentia dele.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntei com o rosto enterrado em seu pescoço.

- Eu vi você saindo do café cambaleando, achei que estaria passando mal... Agi por impulso e vim atrás de você.

- Obrigado. - Respondi enebriado pelo aroma doce de seu pescoço.

- Vamos pra casa. - Senti o calor do seu corpo se afastando e senti falta, ele me ajudou a ficar de pé. Katsuki era um pouco mais alto do que eu fazendo com que tivesse que levantar um pouco o olhar para enxergar seus olhos.

- É, vamos pra casa. - Respondi quando ele começou a andar.

Ai gente, aconteceu tanta coisa esses dias, perdão por demorar tanto para postar capítulo novo. Mas agora voltei e vou continuar a história pq ainda tem muita coisa pra acontecer kkkkkk

DeclínioOnde histórias criam vida. Descubra agora