Saí da sala de Toshinori com a cabeça a mil, muitas perguntas precisando de respostas assolavam meus pensamentos. Andei pelos corredores sem rumo, murmurando possíveis explicações para o que estava acontecendo comigo, me assustei com o barulho do sinal do almoço. Esperei alguns minutos num corredor qualquer, seria melhor esperar a sala esvaziar, queria evitar perguntas de terceiros; não consigo nem responder às minhas. Parei em frente a porta com a mão na maçaneta, respirei fundo e abri a porta. Katsuki estava sentado olhando pela janela, ele não virou para me olhar quando entrei. Passei por ele, peguei minha mochila e saí em silêncio, mas senti um repuxo no pulso, meu corpo reagiu de forma estranha a seu toque. Um onda calmante e energizante me preencheu, era como se tivesse tomado um tônico revitalizante. Toshinori tinha me alertado sobre o contato físico, o toque era tão bom, mas ao mesmo tempo eu me senti enojado. Nojo de mim por ter deixado essa situação acontecer, por ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. Cerrei os punhos e me desfiz do aperto de Bakugo. Não olhei para trás, não tive coragem, sabia que se o fizesse, desabaria alí mesmo. O deixei do jeito que o tinha encontrado, não tinha mais apetite, então fui até o jardim, ficar sozinho era só o que eu queria.
Sentar no banco e não escutar nada além do barulho do vento nas folhas era maravilhoso. Nem parecia que há alguns meses esse local fora alvo de uma bomba, tudo parecia exatamente como antes. Passei a mão por sobre a manga do uniforme, onde ficava a marca, apertei o local sentindo uma grande mágoa e sentimento de culpa crescendo em mim.
- Midorya? - Retirei a mão rapidamente do aperto e olhei para o lado. - Você tá bem?
- Sim, foi só uma dor de cabeça. - Todoroki sentou ao meu lado me deixando um pouco tenso.
- Dores de cabeça não te fazem desmaiar assim. - Não pude deixar de sorrir com esse comentário.
- É, me falaram isso.
Um pensamento não deixou de passar pela minha cabeça, não era ele quem eu queria que estivesse ali. Um silêncio constrangedor tomou conta do momento, acabei relaxando e por um momento consegui ignorar tudo que estava acontecendo. Todoroki conseguia, de alguma forma, cativar minha paz interior. Foquei apenas em seu cheiro doce picante, a cada inspiração, meu corpo parecia relaxar mais. Senti cada ponto de tensão se desfazendo, observei as nuvens no céu movendo-se lentamente, aquela era a primeira vez que eu me sentia tão calmo.
- Obrigado, Todoroki. - Ele me olhou confuso. - Por se preocupar.
- Ah, isso. - Ele ajeitou-se no banco, ficando mais perto de mim. - Você é importante pra mim, Izuku.
- Oh... - Foi a única coisa que consegui pronunciar, ele estava tão perto.
Não impedi quando Todoroki se inclinou e me beijou. Me pareceu tão errado beijar outra pessoa, mais ainda beijar um garoto em público, na escola. A sensação de ser pego a qualquer momento fez do momento mais eletrizante e eufórico, o errado me pareceu certo. O beijo foi se tornando mais intenso e profundo, as mãos de Todoroki saíram do meu pescoço para minha cintura, apertando de leve. Passei os dedos por seus cabelos bicolores, era tão finos e macios, o toque se assemelhava a passar a mão em plumas. Sua boca deixou a minha por um instante para então entrar em contato com a pele do meu pescoço, eu estava extasiado, como se alguma droga percorresse meu organismo. Recobrei meus sentidos quando ele tocou sem querer o lugar exato da marca, enviando um onda de dor por toda a extensão do meu braço. Empurrei-o de leve, estava ofegante e ruborizado. Me dei conta de que não era nele que eu estava pensando enquanto nos beijávamos, eu desejava Katsuki no lugar de Shouto, mais do que eu me permitiria admitir. A dor da marca só me fez ter a vontade de parar, parar de usar outra pessoa para suprir meus desejos. Olhei para Todoroki, seus lábios estavam vermelhos e levemente inchados, o cabelo bagunçado e a respiração pesada.