Depois de mostrar a lagoa secreta para Katsuki, voltamos para casa, jantamos o resto da carne de coelho com algumas frutas e fomos dormir, estávamos muito cansados para fazer algo mais. Sonhei que ainda estava no apartamento, eu tentava chamar por Katsuki, mas não obtinha resposta. Entrei em desespero, tínhamos que sair da cidade antes dos caçadores nos acharem, o pânico foi um gatilho para o lobo sair. Tentei sentir Bakugo através da marca e nada, olhei para o antebraço marcado e as linhas pretas estavam ficando acinzentadas, até não sobrar nada além de pele clara. Logo os pelos cobriram meu braços e a transformação estava completa. Estava na forma de lobo, um lobo grande, disparei pela porta da frente, tirando-a das dobradiças. Corri pelas escadas de emergência, não pude deixar de reparar que correr de quatro patas era mais eficaz do que correr em posição bípede. Avancei pelas ruas escuras da cidade tentando farejar o cheiro característico dele, não me importei em ser visto pelas pessoas, senti um fraco aroma de caramelo e segui o rastro. Parei em uma praça movimentada e ouvi gritos de medo quando as pessoas me viram, eram muitos odores fortes de medo, ansiedade, curiosidade... Quase enlouqueci, mas consegui me concentrar em farejar Katsuki, consegui distinguir seu cheiro doce e voltei a correr.
Corri pelas ruas do centro, vários carros paravam cantando pneu e buzinando quando atravessei uma rua movimentada, ouvi sirenes se aproximando, olhei por cima do ombro e dois carros de polícia me seguiam. Corri mais rápido tentando despistar as autoridades, o cheiro dele estava ficando mais forte, eu estava chegando perto, parei em frente a uma casa antiga e desocupada. Ele estava lá, sentia seu cheiro e ouvia seus batimentos, andei devagar e sem fazer barulho. Abaixei-me e consegui me camuflar no mato alto que cercava a casa, meus instintos de caça ficavam mais fortes em forma de lobo. Parei a poucos centímetros de uma janela e usei a audição para me certificar de que ele estava sozinho, ouvi apenas um coração, pulei quebrando o vidro da janela e arrancando lascas de madeira da parede. Congelei ao ver o corpo de Katsuki no chão e uma poça de sangue ao redor, eu não tinha conseguido sentir o cheiro de sangue, me aproximei devagar e senti o cheiro de morte. Não tive coragem de chegar mais perto do corpo dele, não queria ver como ele tinha morrido, uma risada rouca fez meu sangue congelar.
- Todos perecerão quando o dia da profecia chegar. – Era ela, era a caçadora que matou meu pai.
Acordei suando e respirando com dificuldade, Katsuki dormia tranquilamente ao meu lado, envolvi seu tronco num abraço necessitado, ele estava vivo, tinha sido só um pesadelo. Senti ele se mexer sob meu aperto e virar em minha direção, apenas escondi o rosto em seu peito e continuei a abraça-lo. Queria ficar ali pelo resto do dia, estava com uma sensação ruim no peito e ficar em casa me pareceu uma ideia fantástica.
- Izuku? – Ele me chamou com a voz embargada de sono. – Eu sei que você tá acordado.
- Não, ainda tô dormindo. – Falei sem levantar o rosto para encará-lo, ainda estava perturbado pelo pesadelo.
- Vamos, temos que começar as pesquisas. – Gemi em desagrado, mas ele se desvencilhou do meu abraço e seguiu para o banheiro.
Fiquei deitado na cama com o olhar perdido, as imagens do sonho repassavam constantemente em minha mente, aquilo não poderia acontecer, eu iria descobrir o que eu era e dar um fim àquela profecia maldita.
- O que você tem? – Katsuki perguntou, olhei para ele e abri um sorriso.
- Nada. – Tentei me convencer de que ele acreditara na minha falsa calma. – Vou me arrumar para sairmos.
Levantei e fui até a pia do banheiro, joguei água gelada no rosto para voltar minha atenção a realidade, terminei minha higiene matinal e fui para a cozinha. As frutas estavam acabando, fiz uma nota mental para ir colher mais, quando fui pegar um fruto na fruteira a porta abriu e Uraraka entrou carregando um cesto. Olhei para ela surpreso, não esperava vê-la de novo depois do que aconteceu no dia anterior. Ela olhou para Katsuki, depois para mim e veio em minha direção, colocou o cesto no chão cheio de frutas e peixe, abri a boca algumas vezes para falar, mas nada me veio à mente. Queria explicar tudo, queria pedir desculpas, queria abraça-la, mas apenas congelei no lugar.