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Katsuki me acordou para tomar café da manhã, Ura tinha preparado e levado. Ela me olhou preocupada, Shinso já deveria ter informado o que estava acontecendo, acenei para que não tocasse no assunto e agradeci mentalmente quando ela assentiu. Observei o loiro devorar sua refeição, várias possibilidades de contar toda a verdade passavam pela minha mente, assim como as várias reações que ele poderia ter. Eu não suportaria perde-lo, mas não era justo deixa-lo no escuro sobre o que realmente estava acontecendo; era o destino dele que também estava em jogo, não só o meu. Não consegui comer mais que uma fruta, estava nervoso com a cerimônia e em como estava, mais uma vez, perdendo minha liberdade.

- Acho que vou conversar com aquele tal de Dabi. – Bakugo falou despreocupado e olhei para ele assustado, Ura compartilhava da mesma reação que eu. – Talvez ele me fale o que realmente tá acontecendo nessa porra. – Ele cruzou os braços sob o peito e me encarou.

- Eu... é que... – As palavras simplesmente morreram em minha garganta.

- Pelo amor dos deuses, ele vai ser "coroado" líder do clã mais uma vez, contra a vontade dele. – Uraraka disse revirando os olhos e fazendo aspas com os dedos. – Isso significa que vocês não vão poder ficar juntos em hipótese alguma, já que o alfa tem que... – Rosnei em aviso e ela se calou.

- Tem que fazer o quê? – Katsuki perguntou, mas não respondemos. – Tem que fazer o quê?! – Repetiu a pergunta com raiva.

- Tenho que seguir a tradição, casar com uma beta e ter um herdeiro alfa. – Não tive coragem de olhar para ele.

- Só isso? – Olhei para Ura sem entender a pergunta do loiro, ela também estava confusa. – Case com ela e tenha seu herdeiro. – Falou apontando para a morena que arregalou os olhos e corou.

- Katsuki... – Abri a boca para falar que seria impossível, mas voltei a fechá-la quando não encontrei as palavras certas para explicar.

- Eu... eu vou ver se precisam de ajuda com os preparativos. – Ela levantou e foi até a porta, mas parou e me lançou um olhar de pena. – Você sabe o que fazer. – Respirei fundo e voltei a encarar minha refeição intocada, eu precisava falar para ele.

- Tem algo que você não sabe, sobre a marca do lobo. – Olhei meu braço e contornei as linhas da letra K com o indicador. – Você é meu escolhido, meu mate. – Engoli em seco e fechei os olhos com força. – Eu nunca vou ser capaz de me apaixonar por outra pessoa, muito menos ter contato de cunho sexual, você sentiu o que aconteceu quando Dabi me beijou. – Limpei a garganta e reuni coragem para olhar em seus olhos. – Um mate é para a vida toda, mesmo que você mo... mesmo que algo ruim te aconteça, eu não vou poder ter outro parceiro na vida. – Voltei a baixar o olhar quando ele franziu o cenho. – Eu não quis te falar por ser muito para assimilar, não é como se receber a notícia de que alguém vai te amar para sempre, literalmente, fosse um presente.

- Você é o lobisomem mais tapado que eu já conheci na vida. – Ele emitiu uma risada anasalada e o encarei confuso. – Eu achei uma coisa bem interessante sobre a marca de lofn na biblioteca, aparentemente funciona como um mate. – Ele passou uma mão pelo cabelo e sorriu. – Não acredito que você achou mesmo que eu não iria aguentar uma notícia como essa, puta merda, Izuku... eu descobri que sou apaixonado por um ser sobrenatural que aparentemente só existe em filmes, descobri que também sou um ser sobrenatural e você achou, realmente, que eu não saberia lidar com isso? – Apontou para o meu braço.

- Eu... – Me sentia horrível, como eu pude pensar que o homem mais importante da minha vida, que passou por tudo aquilo ao meu lado, não conseguiria assimilar aquele tipo de coisa? – Me desculpa. – Falei quase em sussurro.

- Não sei o que é pior, não sentir raiva de você ou querer sentir e não conseguir. – Se estivesse em forma de lobo naquele momento, estaria com as orelhas abaixadas e o rabo entre as pernas. – Somos só eu e você nessa história fodida, se você não consegue confiar em mim para saber o que está acontecendo, como vamos fazer isso dar certo?

Emiti um ganido choroso inconscientemente, ele estava certo, eu preferia a postura explosiva e raivosa àquela reação decepcionada e triste. Conseguia sentir meu lobo choramingando e encolhido, não era o que eu queria que acontecesse quando finalmente revelasse tudo para ele, mas foi culpa minha. Ouvi batidas na porta e fui atender, era um guarda, ele tinha vindo avisar que eu deveria me aprontar para a cerimônia. Olhei para Katsuki, mas ele parecia estar focado em seus próprios pensamentos, voltei minha atenção para o guarda e concordei o seguindo para a sala do chefe.

A sala aparentava estar desativada a algum tempo, suspirei enquanto avaliava o cômodo com o olhar. Continuava tudo do mesmo jeito, as prateleiras com livros e pergaminhos, a mesa ao centro com uma cadeira grande atrás, a tapeçaria ilustrada com as antigas crenças... O tapete que minha mãe havia feito como presente de casamento para o meu pai, aquela sala era o lugar mais difícil de estar. Tinham colocado a manta do chefe num manequim ao lado da mesa, caminhei até ela e toquei o tecido com as pontas do dedos, retirei-a do apoio e coloquei sob os ombros.

Sentir novamente o calor que aquela manta trazia era nostálgico, lembrei de quando a usei pela primeira vez, meu pai tinha deixado que eu a colocasse uma vez, era apenas um garoto, mas usar a roupa do chefe me encheu de coragem e alegria. Sabia que seria minha no futuro, sabia que um dia meu pai a tiraria de seus ombros e a colocaria sob os meus, mas nada daquilo aconteceu e nunca aconteceria. Retirei a manta e deixei-a sob a mesa, esfreguei o rosto com as mãos e parei quando algo cruzou minha linha de pensamento. Eu teria que estar sem camisa durante a cerimônia e ninguém poderia ver as marcas.

Comecei a entrar em desespero, o que eu deveria fazer? Como cobrir aquilo de uma maneiro menos suspeita possível? Andei de um lado para o outro em completa aflição, dava para sentir meu lobo se agitando e querendo sair, mas não poderia perder o controle. Ouvi batidas na porta e corri para atender, era Ura, agarrei seu punho e a puxei para dentro.

- Ochako, como eu vou fazer para esconder isso?! – Levantei a manga da blusa e mostrei as marcas.

- Calma, eu vim aqui justamente para isso. – Ela retirou do bolso um potinho e apontou para uma cadeira no canto da sala. – Você sabe como eu gosto de fazer experimentos, acho que consegui desenvolver uma pasta da sua tonalidade. – Ela ficou explicando os componentes daquela pomada enquanto espalhava o conteúdo pelo meu antebraço, ela era uma das melhores curandeiras da vila por seus experimentos ajudarem bastante os enfermos. – Deu certo! – Olhei para onde deveria haver linhas negras, mas não tinha nada, o alívio que invadiu meu corpo foi instantâneo.

- Meu Fenrir! Muito obrigado, Ura. – Agradeci com um abraço apertado.

Ela permaneceu na sala comigo, um guarda veio avisar que já estava na hora, outra onda de nervosismo passou pelo meu corpo, mas a presença da minha melhor amiga me acalmou um pouco. Ela me ajudou a retirar a blusa com cuidado para não arruinar o trabalho que tinha feito em meu braço, a pintura corporal ficou por conta dela, eu nunca tinha aprendido a fazer aquilo. Alguns minutos depois, peguei a manta e olhei uma última vez para ela.

- Não saia do lado dele. – Falei me referindo a Katsuki, ela concordou e respirei fundo antes de sair da sala.

A cerimônia era bem simples, eu tinha que cumprimentar todos os integrantes do clã com um aperto de mãos específico. Era parecido com o aperto de mãos dos humanos, mas em vez de segurar a mão do outro, segurávamos o antebraço. Depois de cumprimentar a todos, era preciso pronunciar o juramento do lobo e então a manta era colocada sob meus ombros, sinalizando o fim da cerimônia e minha coroação como líder.

Parei diante das portas principais da casa, Shinso estava me esperando e ao ver as pinturas corporais soube qual seria minha decisão. Notei o alívio em seu olhar, aquilo deveria ser mesmo a coisa certa a se fazer, voltei meu olhar para as portas, engoli em seco e respirei fundo. Assenti indicando que poderiam abri-las, a luminosidade invadiu minha visão e consegui ouvir os gritos de alegria do povo, do meu povo.

ADVINHA QUEM ESTÁ DE VOLTA? Como é bom voltar a escrever, vou dar um encerramento digno para essa história, já tenho o final completamente planejado e só posso dizer que... ainda vai demorar um pouco para acontecer! Hahaha. 

Agora, perguntinha simples, esse tempo que estive fora, fiquei delirando sobre um crossover entre BNH e Avatar: O último mestre do ar... Já até comecei a escrever um pouco o enredo dessa ideia, vocês gostariam que eu publicasse aqui? Sejam sinceros!

Aaaaah, tô feliz de ter voltado, um beijo enorme para vocês meus lobinhos e até semana que vem😘🐺

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