Tão normal feito vir ao mundo, é deixa-lo.
A morte não é algo ruim, é tão normal feito nascer, pois o fim é tão necessário quanto o começo. Tudo que existe no universo é temporário, e todos nós temos um cronômetro que uma hora ou outra vai zerar. Está tudo bem, não é tão ruim assim, não vai doer tanto. Era isso que eu pensava, estava errado mais uma vez. Doía, rasgava e destruía tudo a minha volta. Adachi Yuto nunca mais vai voltar, então, como eu poderia ser feliz de novo?
— Acabou mamãe. Eu estou feliz que ele se foi.
Me lembro exatamente da sensação daquele dia, a primeira vez que alguém partiu tão perto de mim. O barulho do telefone caindo no chão, o olhar petrificado da minha mãe sem saber que reação deveria ter. A verdade é que ela não sentia dor nenhuma, e as lágrimas que se formavam no seu rosto eram de alívio, o mais puro alívio de uma mulher que tinha finalmente se libertado de uma prisão. Assim como ela, eu não senti dor alguma. As correntes tinham se quebrado, e meu coração era livre.
Quando ela se foi, a sensação era diferente. A saudade doía feito uma ferida enorme, e parecia que nunca ia embora. Tudo me lembrava ela, e meu coração carregava tanta culpa, mágoa e saudade que esqueceu de sentir o luto como ele realmente é. Estava ocupado me culpando por coisas que fiz, e pelas que deixei de fazer, e não percebi que por baixo de toda a dor que eu sentia, havia uma pequena gota daquilo que eu temi sentir pela segunda vez.
Alívio.
Sentia alívio por ter acabado, por finalmente não ter que ver aquela sombra nos olhos dela quando olhava pra mim, por saber que não seria mais o fardo daquelas memórias e traumas que ela carregava. Por isso, o remorso que sentia era inevitável, pois a gota de alívio estava presente mesmo quando eu negava pra mim mesmo que ela estava lá.
Isso foi minha sentença. Achar que a morte causava alívio, achar que a dor se tornava suportável conforme o tempo passasse. No caso de Adachi Yuto, isso não se encaixava. É diferente quando uma pesssoa morre feliz.
Não há nada que eu queira ter dito ou feito diferente, não há arrependimento ou culpa, apenas gratidão e vazio. Ocupar meu coração com mágoa e arrependimentos me anestesiava de sentir a dor de verdade, mas agora era impossível. Não havia alívio nenhum. Meu amigo morreu feliz no dia do seu aniversário, e seria mais fácil aceitar sabendo que seu tempo simplesmente acabou e chegou sua hora de ir, mas não foi assim. Alguém o tirou de nós, assim como tirariam Wooseok, ou qualquer outra pessoa que comesse um simples pretzel rosa de morango, estúpido demais pra carregar um destino tão miserável.
Eu sinto muito, é só o que consigo pensar. Sinto muito, e sinto tanto que meu coração não tem mais espaço pro tanto que sinto, então acaba me sufocando e saindo pelos meus olhos. Queria tê-lo protegido, queria tê-lo salvado. Diferente do meu pai ou da minha mãe, não era sua hora de partir. Yuto não morreu, foi morto por alguém. Foi tirado de nós.
No final, tudo acaba do mesmo jeito, todos se vão. Não importa o que fizeram, todos tem o mesmo destino, todos vão para o mesmo lugar. A única coisa que importa são as memórias que construímos com eles, e as coisas que nos fizeram sentir. Yuto estava feliz, e a memória do seu sorriso nunca vai sair da minha cabeça. Uma parte de mim se sente grato, grato por tê-lo conhecido e por ter tido a oportunidade de ficar ao seu lado até o último dia da sua vida, já a outra, está completamente quebrada. Todos os sonhos que ele tinha morreram dentro da Crossroads, e não teve sequer a chance de ver o sol se por lá fora. É só isso. Acabou. De um dia pro outro tudo desmorona.
A voz de Wooseok não foi ouvida desde então, e nem a minha. Nosso dormitório tinha se transformado em um purgatório onde dividiamos a mesma dor na mesma intensidade.
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- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)
FanfictionLee Minho tinha certeza sobre três coisas: 1: era um fracassado; 2: teria uma overdose antes dos vinte e seis; 3: nunca seria feliz. Minho pensava que o maior problema da sua vida era ser um viciado, mas em uma noite de sexta-fera, sua opinião mudou...