9. SCARY LOVE

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Não consigo me lembrar qual foi a última vez que me senti psicologicamente bem, ou, arrisco dizer, um pouco feliz.

Com o passar do tempo, minhas memórias felizes construídas ao lado da minha mãe e algumas pessoas que passaram por nossa vida, foram apagadas pelos efeitos da droga, até que cheguei em um ponto que não soube mais o que era memória, sonho, ou alucinação.

Agora, a medida que os dias vão passando, quando não estou me afogando em uma crise de ansiedade ou na depressão profunda que habita meu coração, sinto que estou apenas desfrutando dos momentos de paz e felicidade, com as pessoas que conheci, e que agora, são indispensáveis na minha vida, e o pilar principal que me sustenta na luta contra a mim mesmo.

Tenho medo de perdê-los, mesmo sabendo que se quisessem ir embora, já teriam ido antes, mas ainda há um sentimento estranho que me assombra às vezes, talvez pela novidade de ter pessoas ao meu lado depois de ter passado tanto tempo sozinho e me culpando por não ter sido um filho melhor enquanto pude.

Com pessoas que se importam comigo ao meu redor, eu sinto vontade de ser bom, e me sinto bem em aproveitar pequenos momentos. Entretanto, a luz dentro de mim está se apagando, e quanto mais luto contra o vício, mais me afogo em uma tristeza profunda que me faz chorar todas as noites deitado no colo de Jisung.

É desgastante pra ele, e eu sei disso. É desgastante pra todo mundo e eles continuam fingindo que está tudo bem, porém, eu sei que não está, mas sinto que falar sobre isso em voz alta será mais doloroso, então nós continuamos a fingir.

— Jeongin? – chamei. Já faz um tempo que não consigo falar muito alto, é por isso que ele fica sempre por perto.

— Sim? – respondeu da cozinha.

— Eu cansei, já chega de banho de sol por hoje.

Todos os dias ele abria a janela, me colocava sentado de frente pro sol escaldante e a casa dos vizinhos, e me obrigava a ficar pelo menos dez minutos, olhando pro nada e sentindo minha pele suar. Era entediante, mas eu não tinha forças pra brigar com ele, e quando brigava, ele lia um sermão sobre vitamina D que eu já tinha até decorado.

— Ainda não deu dez minutos.

— Foda-se Jeongin, ficar aqui é um saco – reclamei, sentindo que estava ficando irritado e de mau humor, o que acontecia com certa frequência depois que diminuí a quantidade de cocaína.

Consegui ver ele me olhando do balcão da cozinha, com as mãos na cintura e um olhar de repreensão pelo que eu falei.

— Desculpa – revirei os olhos, mas fui sincero. Jeongin estava acostumado com isso e não ficava verdadeiramente magoado, mas por mais estranho que pareça, agora eu me sinto arrependido quando falo algo assim pra ele.

— Tá – deu de ombros e acabou por se render.

Ele me buscou na cadeira de rodas e empurrou até a cozinha, me colocando de frente pra ele enquanto lavava a louça do almoço.

Eu perdi mais de dez quilos em apenas algumas semanas, e me manter de pé por muito tempo me fazia tremer e suar frio pela fraqueza, então Bang Chan teve a brilhante ideia de trazer a cadeira de rodas, e eu oficialmente me tornei um peso morto dependente dos outros até pra se locomover.

— O que você quer fazer então? – Jeongin perguntou.

Meus olhos acabaram viajando pelas paredes da cozinha, a pia brilhando e os armários completamente limpos como eu nunca tinha visto antes. Na verdade, toda a minha casa parecia diferente depois que os três começaram a limpar a bagunça que eu fiz durante anos, e agora, nem parecia a minha casa mais.

- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)Onde histórias criam vida. Descubra agora