2. DISASTER

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Já fazia um bom tempo que eu não sabia o que era dormir, mas depois daquela noite, meu corpo perdeu a consciência e minha mente viajou pra todos os lugares possíveis, e eu não soube distinguir se eram sonhos ou alucinações.

Primeiro, eu estava brincando na sala da minha casa antiga, com minha mãe me dando alguma papinha ruim na boca e me limpando quando eu não engolia direito. Depois, eu estava no enterro dela, observando seu corpo no caixão enquanto uma versão dela com vida acariciava meu ombro e me dizia o quanto ela teria desgosto de ver o que me tornei.

Por último, eu estava imóvel no chão, enquanto Bang Chan estava em cima de mim, tentando me reanimar. Quando olhei pro lado, havia sangue e uma seringa cravada na curva do meu braço, foi aí que pensei que poderia não estar dormindo ou alucinando, podia ser real. Tudo podia ser real. Estou mesmo morrendo?

Tentei abrir meus olhos com certa dificuldade, minha cabeça doía tanto que eu não conseguia a levantar do chão gelado. Assim que abri meus olhos, não enxerguei nada além de escuridão, que foi dando lugar a sala da minha casa dentro de alguns segundos.

Bang Chan não estava lá, e também não havia sangue ou seringas. Ainda estou sozinho. Não sei se dormi, na verdade, não consigo me lembrar de nada por um momento, e nem sei se meu nome é o mesmo que me deram ou algum que eu criei. Não sei de nada, não consigo me lembrar de qualquer coisa que tenha acontecido na minha vida. A única coisa que sei é que não quero estar aqui.

As lágrimas desceram pelo meu rosto tão rápido que eu nem percebi que elas estavam me molhando. Meu coração dói ainda mais forte do que a última vez que tive uma crise, e sinto minha respiração falhar a medida que meus pulmões tentam pegar oxigênio.

É sempre a mesma sensação, nunca muda. Sinto meu interior pegar fogo, como se meu coração estivesse queimando e cada pedacinho que morre torna a dor pior. Não consigo, é só o que penso. Eu vou morrer sozinho. Ninguém vai chegar a tempo. É assim que acaba.

Meus soluços são fortes, e é o som que mais odeio ouvir. Pensar nisso me faz tentar chorar em silêncio, mas um grito fica preso na garganta e minha tentativa falha fazendo meu corpo tremer.

Heroína. Preciso de heroína o mais rápido possível.

Tento levantar do chão e todas as minhas articulações e músculos doem, mas consigo arrastar meu corpo até a mesa de centro, onde pego a colher e o isqueiro.

O fogo rapidamente transforma a heroína em líquido, e eu aspiro com a seringa antes de colocar o elástico no meu braço. Está tudo roxo, todas as veias já estão danificadas, e ainda assim, quando perfuro com a agulha não sinto dor alguma.

Quando a heroína é injetada, meu corpo parece voltar a vida. As batidas do meu coração se acalmam, as lágrimas param de se formar, meu corpo para de tremer e minha mente sente tanto prazer que esquece da vontade de atirar na minha cabeça. Tudo é perfeito por um momento, é como se eu estivesse no colo da minha mãe enquanto ela me põe pra dormir. Então, meu corpo cai no chão e sinto que dessa vez eu realmente dormi, ou desmaiei de cansaço.

Quando acordei, o relógio marcava cinco horas da tarde e eu dormi por um dia inteiro. Senti que estava em um estado deplorável, havia suor e sangue seco na minha pele e eu provavelmente fedia a bebida.

Antes de tomar um banho, juntei um pouco dos lixos no chão da sala e depois fiquei exatamente duas horas no chuveiro tentando parecer mais com um ser humano que com um zumbi. As caixas de pizza do dia anterior ainda estavam sobre a bancada, então eu comi cinco pedaços já que fazia quase dois dias que eu não comia direito.

Me sentei diante da televisão ligada em qualquer canal que eu nunca prestava atenção, e voltei a traçar três linhas retas com o último saquinho de pó que eu tinha. Quando achei o canudinho que estava perdido no chão da sala, a campainha tocou e eu imaginei ser Bang Chan com mais droga pra me vender.

- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)Onde histórias criam vida. Descubra agora