Meu all-star velho pisava em cima das flores de outono no chão. Havia folhas secas por toda a parte, e através dos galhos das árvores eu pude ver que o sol estava se pondo em Seoul.
Não era proibido sair do dormitório ou ficar vagando pela Crossroads, exceto alguns pacientes mais graves. Na verdade, o que eles abominavam era quem não dava satisfação de onde estava indo, assim como eu e Yuto fizemos quando saímos da estufa e pegamos a trilha.
Ele caminhava em silêncio na minha frente. Minha ansiedade havia se dissipado e dado lugar ao cansaço por subir em alguns lugares íngremes, mas meu coração ainda se sentia triste ao lembrar da consulta, e as perguntas na minha cabeça davam lugar ao desespero constante.
Caminhamos por alguns minutos sem dizer nada, eu nem sequer perguntei pra onde estávamos indo porque, no fundo, não dei tanta importância. Quando o chão se tornou plano novamente, havia um lugar onde as árvores não tomavam conta da visão, e Yuto fincou seus pés onde estava.
— É aqui.
Eu olhei ao redor, não vendo nada além de plantas e árvores, até que me aproximei de onde ele estava e vi que havia uma pequena gruta.
Em cada parte das paredes dela havia algum objeto colado, com algum nome ou data escrito no barro com caneta preta. Cartas, fotos, jóias, e até um caderno, todos eles tinham um dono.
— O que é isso? – perguntei enquanto meus olhos buscavam encontrar outro objeto interessante.
— Hui costuma dizer que é o santuário da clínica – Yuto sorriu – Todos esses objetos são de alguém que se recuperou e teve alta da Crossroads, cada um deles representa uma vida que foi salva. Eles deixam algo significativo aqui, para que outros pacientes vejam que eles também se sentiram perdidos, mas se encontraram novamente. O Doutor Seungmim uma vez me disse isso, que pra toda mudança precisamos deixar algo pra trás. Então, deixar algo pra trás virou tradição da clínica.
Pensar que cada coisa ali, por mínima que fosse, teve um significado enorme pra alguém, me fez sentir o coração mais leve. Era mesmo como um santuário, com os pássaros cantando e voando pela brisa fresca, era o lugar mais calmo que já estive.
Talvez um dia eu conseguiria deixar uma parte de mim ali, pra que outras pessoas sentissem o alívio que sinto agora ao pensar que dezenas de pessoas perdidas tinham se encontrado, e minha chance não era tão pequena assim.
— Tá vendo aquele amuleto? – Yuto apontou para um cordão que tinha um pingente de olho de tigre nele. Embaixo, havia apenas uma data escrita, referente a agosto de 2017.
Yuto se aproximou e tocou o objeto, sorrindo como se lhe trouxesse nostalgia.
— Era de Changgu, um amigo que eu tive. Ele dizia que o amuleto o ajudava a resolver seus conflitos internos, mas assim que ele solucionou todos eles, resolveu deixa-lo aqui, caso alguém precisasse um dia.
Yuto desatou o nó do cordão, e o desprendeu da gruta. Ele se virou pra mim, segurando o amuleto com cuidado e me entregando.
— Não é muita coisa, mas vai ajudar você. Enquanto isso, podemos descobrir juntos quem você é de verdade. Somos amigos, não somos? – acenti com a cabeça imediatamente – Então, amigos enfrentam dificuldades juntos. Aceite o amuleto, guarde-o para que ninguém da clínica veja, mas deixe ele sempre com você.
Eu peguei o amuleto nas mãos, sentindo meu coração se esquentar com o gesto de Yuto. Quando aceitei vir com ele, não fazia ideia que iríamos vir pra um lugar como esse, e que Yuto fosse me presentear com algo tão importante e significativo.
— Obrigado – sorri – Assim que eu estiver bem, vou devolvê-lo aqui. Mas, espera, e se um dia você precisar dele também?
— Não vou precisar – riu fraco – Eu já terminei meu tratamento.
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- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)
FanfictionLee Minho tinha certeza sobre três coisas: 1: era um fracassado; 2: teria uma overdose antes dos vinte e seis; 3: nunca seria feliz. Minho pensava que o maior problema da sua vida era ser um viciado, mas em uma noite de sexta-fera, sua opinião mudou...