- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)

25. ROAD TO NOWHERE

— Bom dia Senhor Lee – sorriu simpático e se aconchegou na cadeira.

— Minho – corrigi – Pode me tratar informalmente.

O psicólogo pareceu satisfeito, como se uma simples permissão minha fosse um grande passo na nossa relação.

Depois de uma semana, voltei a me sentar na cadeira confortável e observar os desenhos nas paredes do consultório. Voltar pra lá sempre me causava um sentimento estranho, porque as consultas com Seungmin não eram ruins, mas também não eram boas.

Por mais que ele me fizesse sentir confortável, como se não fosse uma conversa entre médico e paciente, no fundo, eu sabia que era. Sempre teríamos uma relação comercial, por mínima que fosse, e falar sobre mim sempre seria a pior coisa do mundo, o que automaticamente me faz odiar as sessões.

— Certo – sorriu – Então, o que Mok fez hoje?

Respirei fundo, me lembrando da pequena história que tinha criado na minha cabeça, e tentando imaginar o que meu personagem teria feito quando acordasse.

— Ele acordou e tomou café da manhã, panquecas de chocolate. Depois, foi  brincar no jardim. Ele mora em uma casa bonita.

— E o que Mok quer ser quando crescer?

— Ele não sabe. Médico, talvez. Isso não tem tanta importância.

— Certo – ele apoiou os cotovelos sobre a mesa – Não tem importância porque Mok só quer ser feliz, não é?

— Ele já é feliz.

— Pode me explicar por que tem tanta certeza?

Não percebi quando soltei o ar irritado, sem muita paciência para as perguntas de Seungmin que as vezes eram irritantes.

— Ele só é feliz, ok? Não precisa criar tanta explicação em volta disso.

— Tudo bem – ele ajeitou os óculos no rosto e voltou a olhar pra mim – Então, o que deixa Mok triste?

— Nada – respondi de imediato – Ele é uma criança e seus pais o amam, ele não tem motivos pra isso.

— Todos nós ficamos tristes, e Mok também – sua voz era calma, mas não me deixou menos irritado – Ele se sente sozinho, não sente?

— Não! – meu tom de voz saiu mais alto que o esperado – Quer dizer, não sente. Ele tem seus pais.

— E seus pais são as únicas pessoas que existem? Ele não tem amigos?

— Não! – quase gritei de novo – Você não entende? Eu sou feliz e pronto, fim da história!

Um silêncio constrangedor se instalou entre nós dois. Senti meu peito subir e descer rapidamente, e meus olhos se arregalaram com raiva. Seungmin não demonstrou nenhuma reação diferente, na verdade, ele parecia estar esperando isso.

— Minho, chegamos onde eu queria chegar – ele suspirou e levantou o óculos.

Enquanto tentei me recompor e parecer mais calmo, ele se ajeitou na cadeira se preparando para uma longa conversa que eu não tinha certeza se estava preparado também.

— Quando eu pedi para que criasse um amigo ou um personagem, foi pra que você conseguisse falar sobre si mesmo através de outra pessoa – ele se aproximou ao encostar os braços na mesa e me olhar mais de perto – Mok é você. Na verdade, Mok é a pessoa que você idealiza ser, e a criança que você queria ter sido. É por isso que você se irrita quando eu digo que ele tem fraquezas e defeitos, porque você não aceita que os possui.