22. SILENT NOISE

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Os olhos petrificados estavam presos nos meus, sem brilho algum, congelados em um ponto qualquer sem demonstrar qualquer emoção, como se fossem o espelho de uma alma morta.

Meus pés fincaram no chão, sem conseguir me afastar, sentindo cada músculo do meu corpo endurecer a medida que o tremor começava de dentro pra fora, e a ansiedade aumentava o ritmo do meu coração.

O som que vinha de fora parecia distante, como se o silêncio do quarto conseguisse ser mais alto do que as risadas felizes, tornando o ar gelado e fazendo que os raios de sol não tivessem efeito nenhum na escuridão que havia entre nós dois.

Eu engoli em seco, percebendo como minha respiração era mais rápida que antes, e como meu corpo pendia pra trás com a tontura da minha cabeça.

Ele não piscava, estava sentado na cama como um boneco de cera, sem nenhum movimento e não demonstrando nada. Alguém que não demonstra nada também não devia causar nenhum efeito, mas a forma como ele parecia morto me fez não conseguir mais respirar.

— Senhor Lee? Pode vir aqui fora? – a voz de Hongseok me salvou do sufoco, e me fez puxar o ar com desespero antes de praticamente correr pra fora do quarto.

Fechei a porta atrás de mim, limpando o suor na minha testa e tentando recuperar o fôlego que perdi quando meus pulmões falharam.

— Eu sinto muito, Hongseok, mas eu não fico nem mais um minuto nesse quarto – tentei abaixar o tom de voz pra que o garoto não ouvisse.

O enfermeiro suspirou, seus olhos estavam levemente arregalados e sua respiração fora do ritmo com a preocupação.

— Minho, escuta.

— Não – interrompi – Eu paguei pela minha estadia, e eu não vou dividir o quarto com esse psicopata. Você precisa me dizer a verdade sobre ele!

Ele franziu o cenho, um pouco surpreso com as palavras que saíram impulsivamente da minha boca.

— Não o chame assim – me repreendeu com cuidado – Ele não é um psicopata, é um suicida.

— Então o que ele está fazendo fora da ala azul?

Hongseok hesitou, e antes de dizer qualquer coisa sua mão agarrou meu pulso e me guiou até o final do corredor, longe do meu dormitório.

— Você quer a verdade, eu vou te dizer, mas me prometa que vai tentar ser compreensivo na sua decisão.

Eu acenti com a cabeça, esperando que ele respirasse fundo e desviasse o olhar do meu antes de começar sua história.

— Seu nome é Kim Wooseok, o paciente mais antigo da clínica. Ele é viciado em antidepressivos e antipsicóticos, é um dos casos mais graves que a Crossroads já atendeu.

O enfermeiro se encostou na parede, jogando a cabeça pra trás e fechando os olhos, como se sentisse seu coração quebrar ao falar sobre isso.

— Ele não tem mais uma família, na verdade, nunca teve. O presidente da Crossroads é seu tio, e desde que seu vício começou ele pagou todo o custo do tratamento que nunca teve efeito nenhum. Conheço Wooseok desde que era um estagiário, já o vi chorar e tentar suicídio mais vezes do que vi alguém se curar. É sempre a mesma coisa, ele é internado, foge da clínica, e dias depois a mesma vizinha vem implorar pra não deixa-lo morrer perto dela.

Senti um nó se formar na minha garganta, meu coração doeu ao pensar sobre ele, e a forma como a voz de Hongseok soava triste e cansada me fez sentir pena.

— Ele convenceu uma paciente da ala azul a mata-lo, mas ela não conseguiu e o esfaqueou somente uma vez. Ele está machucado, e o presidente não sente mais nenhuma consideração por ele, já que Wooseok se perdeu dentro de si mesmo a tanto tempo que ninguém mais se lembra como ele era antes. Nos mandaram despeja-lo, mas eu sei que fazer isso é a mesma coisa que deixa-lo morrer, e eu não posso permitir.

- 𝙇𝙊𝙑𝙀'𝙎 𝘼𝘿𝘿𝙄𝘾𝙏; (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)Onde histórias criam vida. Descubra agora