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Enfim, uma debutante.

Sempre almejei os dezesseis porque para mim seria a idade marcante.

Eu teria um namorado, teria boas notas e seguiria a vida receita de bolo que muita gente segue.

Bom, eu tenho um bebê. Acho que coloquei fermento demais.

— Feliz aniversário, minha menininha! — Papai está com um sorriso de orelha a orelha quando chega na cozinha. Um prato com uma pilha de panquecas de chocolate nas mãos e duas velinhas com o número "16" em cima.

— Obrigada, pai. — Me aproximo para assoprar as velas.

Ele é tão fofo que sinto vontade de chorar.

O abraço quando coloca o prato na mesa.

— Eu comprei algo para você. — Beija o topo da minha cabeça.

— Ah, pai. Combinamos, nada de presentes daqui em diante.

— Mas eu não pude resistir! — Vai em passos apressados até o balcão, pegando uma pequena caixinha que não havia notado. — Na verdade, é para o bebê também.

Pego o presente e tiro a tampa da caixinha. Meu coração esquenta quando vejo um colar dourado com pingente de cabeças de urso. Uma ursa beijando a cabeça de um ursinho menor. Uma mãe e um filho.

— Obrigada, pai! Eu adorei. — Sorrio largo.

— Mesmo? — Junta as mãos em expectativa.

— É claro, é lindo! — Pego o colar e o entrego, me virando para que coloque em meu pescoço.

O acessório é delicado e quando me olho no reflexo do micro-ondas gosto do que vejo, combina comigo.

— Bem, você vai faltar à escola hoje? — Força um sorriso, tentando disfarçar as lágrimas nos cantos dos olhos ao se virar para a pia.

— Não, preciso ir.

Eu enfrentei o senhor Trenton e conseguimos chegar a um acordo. Trabalhos extras no fim do semestre e nada de faltar às aulas daqui pra frente. Também precisarei entregar atividades quando estiver de licença. Uma luta contra o tempo.

— Deixarei dinheiro caso queira comer algo diferente.

— Não precisa, pai.

— Sem discussões, minha menina está se tornando uma mulher!

Rio quando ele saltita até a mesa.

Eu amo esse homem.

(...)

— Feliz aniversárioooooo. — Sou esmagada por uma Lucy animada e calorosa assim que chego na escola.

Não faz nem mesmo uma semana que nos conhecemos e ela lembrou da data do meu aniversário dita entre assuntos banais. Me sinto culpada por não lembrar a do seu.

— Lucy, está sufocando o bebê.

— Desculpa! Desculpa! — Se afasta rapidamente. — Comprei para você. — Me estende uma caixa de biscoitos que só agora notei em sua mão.

— Obrigada, não precisava gastar dinheiro.

— Você merece, é seu aniversário.

Sorrio, guardando a caixa na mochila.

— Vou devorar no trabalho.

— Trabalho? — Arregala os olhos. — Não tem planos para hoje?

— Tenho. Quando chegar em casa vou colocar os pés para cima e dormir com uma fatia de pizza na boca. — Começamos a andar.

— Aposto que o bebê reprova isso. — Estala a língua. — Será que eu poderia ir na sua casa? Fazemos uma noite das meninas.

— Mesmo?

Ninguém nunca me ofereceu ou me chamou para uma "noite das meninas". Meu coração está até meio acelerado.

— Claro! — Paramos diante meu armário. — Vou levar vários produtinhos para deixar nossas peles parecendo bunda de bebê.

Rio.

Abro a porta do armário e um pequeno envelope azul despenca no chão.

— As breguices dos anos noventa atacam novamente! — Lucy zomba e mais uma vez estou rindo quando ela se abaixa para pegar o envelope por mim.

Mais uma coisa que ninguém nunca me deu.

Cartas!

Pego o papel dentro do envelope e desdobro, reconhecendo de imediato a letra curvilínea.

Você sabe o quanto odeio essa merda, mas mais do que isso, você me odeia, então não tem outro jeito, me rendi a uma caneta e um papel. Sei que cometi muitos erros, que cometo até hoje, só estrago tudo e não estou tentando me vitimizar. É a real. Mas, Ana, eu sei o quanto estou assustado e com medo disso. Enfrentar coisas difíceis sempre foi um problema. Detesto admitir que você tem razão, porque mesmo com esse sarcasmo, você tem. Não comprei um presente porque sabia que você faria questão de jogar na minha cara, mas tem algo especial dentro do envelope. Algo nosso que guardei.

Eu te amo. Feliz aniversário.

-T

Abro o envelope com as mãos trêmulas.

O ar foge de meus pulmões quando vejo uma gardênia murcha de pétalas amarronzadas.

As lembranças me invadem como um soco no estômago.

O que é isso, Theo? Estou sorrindo quando ele para de caminhar e solta minha mão para se aproximar de um arbusto de flores.

Duh, as flores do seu buquê. Você não disse que queria flores brancas no nosso casamento? Arranca o caule de uma delas.

Não zombe de mim. O empurro pelo ombro quando se aproxima.

O loiro está sorrindo quando coloca a flor em minha orelha.

Você será a noiva mais bonita, Ana.

Bobo. Abraço seu pescoço.

Ele me olha sério de repente, as sobrancelhas se franzindo, me deixando confusa.

O que foi? Pergunto, com medo da resposta. Será que tem algo na minha cara?

Estou apaixonado por você.

Arqueio as sobrancelhas. Mas antes que pergunte o porquê dessa fala repentina, seus lábios estão sobre os meus.

A ânsia sobe com força em minha garganta e sem dar tempo para a reação confusa de Lucy, corro para o banheiro. 

Desculpe os erros. 

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