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—...Então você escondeu mesmo todos os doces dentro da bolsa? — Isaac gargalha alto.

— Era uma bolsa minúscula, mas eu queria me vingar por não me deixarem comer na festa. Eu era uma criança, que criança não gosta de doces? — Digo entre risos.

— Antes do "parabéns"? Cruel!

— Mas eu paguei o pato e fiquei a madrugada toda com dor de barriga.

— A aniversariante deve ter ficado feliz com isso.

— E eu também. Porque apesar da indigestão, no fim das contas, quem comeu os doces foi eu.

Rimos.

É tão bom voltar ao clima tranquilo que tínhamos nas ligações.

Isaac deixou a mala no hotel, mas não ficamos lá. Acabamos em uma sorveteria e entre um assunto e outro, nos tornamos leves e descontraídos. O que eu queria. Tira um peso enorme das minhas costas.

Ele é o mesmo cara bem-humorado e eu, bem, sou eu, né?

Mergulho a colherzinha na bola de sorvete de Oreo enquanto o ouço falar:

— Não frequentei festas de aniversário, mas uma vez meu primo, filho do tio Louis, quem ajudo, resolveu fazer uma festa na piscina da casa dele. Achei que seria igual aquelas de filmes, mesmo que fôssemos só crianças. Chegando lá vi que não era nada do que imaginei, mas sim um cenário deprimente de três amigos comendo hambúrguer e tomando refrigerante. Um dos amigos do meu primo, disse que precisávamos animar a festa, e então começamos um jogo de desafios. No fundo eu sabia que rolaria alguma merda, mas aceitei, e literalmente. Esse mesmo garoto desafiou meu primo a beber água da privada.

Engasgo com o sorvete, espalhando respingos de calda de chocolate quando começo a rir sem controle. Sei onde vamos chegar nessa história e Isaac já está rindo alto, atraindo olhares dos outros clientes.

Limpo a boca com um guardanapo, tentando me conter para ouvir o resto da história.

— Meu primo teve que fazer uma lavagem estomacal!

— Oh, meu Deus! Ele bebeu mesmo?

— Água mijada. Aqueles caras são do mal.

— Que nojo, Isaac. — A ânsia me sobe e eu fico entre rir e querer vomitar, imaginando um garoto virando goela abaixo um copo de...Argh! Não. Não. — Por isso mulheres amadurecem primeiro.

— Totalmente, Ana! Eu quase vomitei as tripas.

— As festas hoje devem ter evoluído. Crianças são um terror, misturá-las, então.

— Ah, não. Não me diga que...

— Verdade ou consequência vem dos primórdios, meu querido. — O empurro com o ombro.

— Eu definitivamente sou um santo. Ana, você já participou disso?

— Já, mas já era adolescente. Catorze, quinze anos.

— Isso foi tipo, ontem! — Arregala os olhos. — Me diz, o que acontecia? — Diminui o tom de voz.

— Pessoas beijando pela primeira vez, bebendo pela primeira vez... — Coisas que adolescentes com hormônios à flor da pele fazem.

— Não tinha...?

— Por Deus, não. Não que eu saiba. — Faço uma careta.

Eu não ia tão a fundo nas brincadeiras.

— Te desafiaram a beijar alguém?

— Sim, mas não aconteceu. Eu fugi correndo pra casa.

Ele ri, balançando a cabeça.

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