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Parece que passei uma eternidade longe da escola.

De alguma forma, as pessoas ficam em expectativa quando me veem, como se meu sumiço se desse ao fato de que eu iria ter o bebê. Bem, eu continuo com uma barriga enorme e redonda e acredito que nenhuma mulher é capaz de dar a luz e depois de cinco dias aparecer pleníssima.

O bebê está agitado como sempre, ele gosta de manhãs, mas também gosta de noites, o que faz restar à tarde para dormir como pedra.

É inevitável pensar em mim colocando um bolinho enrugado para dormir às duas da tarde cheirando uma fralda. Se é que eu precisarei fazer isso. Bebês recém-nascidos dormem por tudo e sozinhos. Eles são independentes.

Provavelmente não serei a mãe mais competente nesse quesito. E em muitos outros. Por isso, espero mesmo que meu filho seja do tipo independente.

Paro de caminhar abruptamente quando uma garota de cabelo cor-de-rosa e aérea esbarra em mim. Não é igual cena de filme que os livros se espalham no chão porque eles estão na mochila.

— Oh, Meu Deus! — Ela sibila e então seus olhos recaem para minha barriga e se arregalam. — Oh, Meu Deus! — Repete em tom estridente. A boca aberta em puro choque.

É isso aí, você esbarrou numa grávida.

— Mil desculpas! É sério, mesmo. Eu te machuquei? Está tudo bem? É que estava tão distraída procurando meu armário. Sou nova aqui.

Sorrio, tentando apaziguar a situação constrangedora e desconcertante.

— Está tudo bem, não foi nada.

Ela suspira, aliviada.

O bebê chuta.

Não foi nada, não é?

— Sou Lucy, prazer em te conhecer.

— Bem-vinda ao colégio, Lucy. Me chamo Ana Julia.

— Obrigada! Estou me sentindo tão deslocada por aqui.

— Primeiros dias...Qual o número do seu armário?

— Hum... — Ela enfia a mão no bolso lateral da mochila, tirando um papel amassado e apertando as vistas para enxergar os pequenos números. — B23.

— Fica no segundo corredor perto da cantina, vem, eu mostro.

— Não precisa se incomodar. — Fala sem jeito, tentando não olhar direto para minha barriga e falhando miseravelmente.

— Tudo bem, minha aula começa em dez minutos e o bebê não vai nascer agora. — Pisco um olho ao forçar um sorriso.

— Então, a quanto tempo você estuda aqui? — Tenta puxar assunto quando começamos a andar.

— Praticamente desde sempre, também temos o ensino fundamental à tarde.

— Eu mudei tantas vezes de colégio que sequer me lembro onde comecei.

— É a nômade dos colégios? — Brinco.

Ela ri.

— Mais ou menos. Meus pais estão sempre me puxando de um lado para o outro. Eles prometeram ser definitivo dessa vez, é o que eu quero, é muito difícil fazer amizades e depois ir para longe.

— Imagino que seja ruim. — Murmuro, desviando de um garoto correndo com uma pilha de papéis na mão.

— Já sabe o que é? — Indica minha barriga com o queixo, minha mão está espalmada sob o tecido rosa claro do moletom.

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